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Artigo - A campanha da fraternidade: dinheiro, dinheiro, dinheiro... (2)

Wagner Braga Batista

 

Há indivíduos que nada produzem, mas são vorazes. Sentem-se no direito de consumir tudo e a todos. Desconsideram necessidades alheias e cobiçam tudo que está ao seu alcance. Apropriam-se de tudo e nada acrescentam à vida de seus semelhantes. Têm uma existência parasitária, porém afrodisíaca. São indiferentes diante das privações dos outros.

Acumular bens materiais, mas se incapacitam para desenvolver valores morais. Apegam-se a  bens materiais e desprezam valores morais e espirituais.

 

Graças ao dinheiro, compram tudo, visibilidade e prestígio. Compram uma imagem que não condiz com suas atitudes frente à vida.

 

O marketing, a falsificação e o poder do dinheiro estão a seu serviço. Céleres dão vazão a ambições e caprichos estéreis. Com suas idiossincrasias fúteis, acreditam que o egocentrismo, o luxo e a vaidade são móveis da vida humana. Deixam-se seduzir por cenários enganosos e por situações idílicas. Por falsos ídolos, como modernos bisões de ouro que atraem e iludem com sua aparência. Anunciam a opulência, o hedonismo e a lubricidade. Remetem a imaginários paraísos em meio a crescente deterioração de valores. Estimulam o culto a mitologias e a adoração de falsos ícones. Cultivam apenas a própria infelicidade. A frustração de perceber que a apropriação impõe a unilateralidade no relacionamento. Constitui a negação da reciprocidade. Da relação harmoniosa entre seres humanos. Ou seja, daquilo que se constrói em interação permanente com o outro. Não conseguem perceber que só se cria por meio do relacionamento, da permeabilidade frente ao mundo e aos que nos cercam.

 

O dinheiro permite a apropriação, não assegura o bom relacionamento e a criatividade.

 

O dinheiro não gera felicidade e, muitas vezes, sequer satisfação. Não proporciona relações consistentes e gratificantes. Permite a fruição que se exaure com rapidez. Não desenvolve a sensibilidade necessária para perceber a infinita riqueza e a beleza de coisas simples a nossa volta, ao alcance de todos.

 

O consumismo despreza as conseqüências de sua compulsão. Não se importa com o esgotamento de recursos naturais, com impactos ambientais, com o destino dos artefatos parcialmente consumidos e descartados, com as assimetrias sociais geradas pela economia excludente. Como toda compulsão, está direcionado para um  horizonte restrito. Nele não há lugar para necessidades e aspirações coletivas. Não há espaço para os outros. Não sinaliza um projeto futuro. Só comporta a indiferença e o niilismo dos que se saciam com o frêmito consumista. Com a ansiedade que não transparece na postura asséptica, elegante, limpa e confortável dessa gente que consome o futuro de nossas gerações.

 

Por quê?

 

Porque a compulsão consumista esconde outras motivações. O consumo compulsivo é um mecanismo compensatório que serve para sublimar carências inconfessáveis. Sublima o tédio, a perplexidade, a angustia de ter que comprar aquilo que não se pode fazer ou realizar. Compensa a infelicidade. A falta de amor e afeto. A carência sexual. A incapacidade de criar, produzir e valorizar coisas simples, porém úteis.

 

Vale repetir a advertência: o consumo compulsivo também consome consumidores.

 

Inocula o sentimento de inaptidão e de perda de referencias. Em contraposição estimula o individualismo, a vaidade, a ganância e a tentativa de obter ganhos pecuniários a qualquer custo. Essas pulsões acarretam a degradação de princípios e de valores essenciais à convivência humana. Conduzem a atalhos inimagináveis.

 

À perda de rumo ou de prumo.

 

Ganhar dinheiro tornou-se uma obsessão. Ganhar para gastar dinheiro.

 

Enquanto professores educam, outros não dão aula porque querem ganhar dinheiro. Negociantes degradam a educação porque querem ganhar dinheiro. Porquanto médicos honrem seu juramento, outros negligenciam pacientes porque querem ganhar dinheiro.

 

Deputados, senadores, prefeitos et caterva se corrompem porque querem ganhar dinheiro. Enquanto pastores buscam ovelhas desgarradas, outros saem à cata de dinheiro. Porém, o dinheiro não é apenas uma moeda. Não é apenas, um signo de troca e de poder. É uma relação social que hierarquiza e subjuga seres humanos. Que cristaliza posições na sociedade. Reproduz, por meio do poder e da riqueza, desigualdades e iniqüidades. Destrói valores e desfigura seres humanos.

 

Degrada princípios e propósitos. Vocações e profissões.

 

Com sua voracidade, não compra apenas bens materiais, subverte necessidades, desvirtua aptidões.  Subordina homens a insuportáveis jornadas de trabalho. Impõe aqueles que não reuniram condições mínimas de vida aviltantes trabalhos.

Prostitui, perverte e vicia. Esse é o ícone que os plutocratas erigiram na sociedade moderna.

 

Por isto tudo, vejo-me profundamente identificado com esta campanha ecumênica. É um alerta.

 

A economia deve estar voltada para o bem estar humano. A economia deve servir ao homem. Portanto, o homem não deve servir à economia que o oprime.

 

 

Wagner Braga é professor aposentado da UFCG


Data: 06/04/2010