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Alunos mais bem colocados no Enade não estudam apenas nas vésperas das provas

André, 26, é frei franciscano em Petrópolis (RJ). Pedro, 30, vive em uma chácara nos arredores de Brasília, onde sua família cultiva maracujá. Vivian, 27, morava em uma favela no Rio, de onde saiu graças a bolsas que ganhou durante a faculdade.

 

Com perfis bem distintos do típico aluno aplicado de classe média, os três ficaram em primeiro lugar nos seus respectivos cursos no Enade, o exame do Ministério da Educação que é dirigido aos universitários.

 

A Folha obteve a lista dos 48 estudantes mais bem colocados em cada um dos cursos avaliados em 2007 e 2008 --os resultados de 2009 ainda não saíram. (No topo da lista, Matheus Gaudêncio do Rêgo, egresso da Universidade Federal de Campina Grande - UFCG, que obteve o melhor desempenho individual nacional: nota 86,5. A média nacional foi 34,8)*.

 

Apesar das características diferentes, seguem uma cartilha de condutas em comum que os levou ao topo do ranking do Enade: não estudam somente nas vésperas das provas, tiram as dúvidas durante as próprias aulas e, principalmente, são apaixonados por seus cursos.

 

O sucesso na universidade, no entanto, nem sempre se repetiu durante a escola.

 

Frei André teve que deixar o jardim de infância porque a professora dizia que ele era tímido demais para conviver com os colegas. Quando voltou à escola, quase repetiu a primeira série. Mudou de cidade cinco vezes durante a infância e a adolescência. A cada colégio, conteúdos nunca vistos anteriormente.

 

Para André, a timidez o ajudou a obter o primeiro lugar entre os estudantes de filosofia em 2008. "Quem não se dá bem em algumas dimensões da vida social acaba se aplicando mais a outras, e eu me apliquei mais aos estudos", diz ele, que estudou no Centro Universitário Franciscano do Paraná.

 

Qualidade

 

Dois terços dos primeiros colocados no exame estudaram em universidades públicas. Entre os demais, a lista traz egressos de instituições particulares tradicionais, como a PUC do RJ e de SP.

 

Há, no entanto, exceções. Melhor aluna de Letras do país, Paula Carnasciali, 35, estudou na Faculdade Anhanguera de Osasco, instituição que tem nota 2 no IGC (Índice Geral de Cursos) do Ministério da Educação.

 

Seu método de estudos era a dedicação total. Ia a todos os cursos extras e atividades extracurriculares oferecidas pela faculdade e conversava muito com os professores, que ela achou muito bons.

 

Luana Guedes, 25, também acredita que sua participação em atividades voluntárias, para atender pacientes, a ajudou a obter o primeiro lugar em fisioterapia. Mas isso não se refletiu num bom emprego na área.

 

Após se formar, ficou um ano desempregada. Prestou concurso público e hoje ocupa um cargo administrativo no Ministério da Saúde cuja única exigência é o ensino médio completo. "A não ser que consiga um emprego público na área, não pretendo trabalhar com fisioterapia."

 

Já para Vivian dos Santos Teixeira, 27, a universidade foi fundamental para melhorar de vida. Ao cursar enfermagem na UFRJ e ter acesso a bolsas de pesquisa, passou a ajudar a família, o que permitiu que ela e mãe saíssem da favela Nossa Senhora das Graças, na Ilha do Governador, zona norte do Rio.

 

(Folha.com)

(* grifo da Ascom/UFCG)


Data: 07/06/2010