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Artigo - O tempo em que Dadá Aeulicopetro inventava a informática

Wagner Braga Batista

 

 

Dadá Aeuilicopetro?

 

De quem se tratava? Os mais curiosos indagavam-se entre si. Os conhecedores de futebol, postados em esquinas e cafés da cidade, hesitavam em responder à pergunta. Precisavam consultar os tempos dos alfarrábios e antigas revistas esportivas. Precisavam auscultar as palavras dos sábios e dos profetas que, solitários e em dúvida,  perambulavam pelas ruas da Prata descrentes da seleção e à procura de João Otávio.  Também se perguntaram: quem foi ?

 

Os mais modernos, devassavam a internet.  Não havia nenhum registro, nenhuma resposta. Nada, absolutamente nada, sobre Dadá Aeulicoptro.  

 

Como somos forçados a reconhecer, fora da internet, o mundo não existe. Nem o mundo, nem o tal de Dadá. Certamente seria uma invencionice. Um recurso de ficção. Uma concessão poética, afirmaram iniciados na arte de contar estórias

 

Poderíamos dizer que Dada nunca existiu. Seria mentira. Alguns juraram de pés juntos, que era fruto da imaginação coletiva. Talvez, um instrumento de insidiosa propaganda política para alimentar a fantasia das massas e inaugurar um novo período de heroísmo e gloria. Para inaugurar um novo tempo de dignidade, igual ao remoto tempo, no qual jogadores devotados suavam a camisa, tratavam com respeito às torcidas e honravam seus times de futebol.

 

Pausa.

 

Aqui surge uma digressão na narrativa. Falaremos de filosofia.

 

Abriremos espaço para um contraponto de Hermegildo Lukacs, o filósofo tricolor e técnico da seleção húngara de 1954. Uma indispensável advertência, dirigida a homens cultos e a ignóbeis cultores da vã filosofia.

 

A excelência do conhecimento e a grande filosofia não são exercitadas em opulentas e vetustas academias.  As mais profundas reflexões filosóficas eclodem em sanitários públicos, desenvolvem-se em botecos de quinta categoria, consolidam-se unicamente em austeras mesas de bares. Somente estes lugares são propícios e prolíficos para a filosofia. Dito isto, vaticino. Os depreciados cientistas de banheiro e filósofos de botequim ainda serão condignamente reconhecidos.  Receberão comendas e Prêmios Nóbeis da Paz. 

 

No entanto, os mais doutos teóricos de botequins, sabedores de todas as verdades da vida, recusavam-se a se pronunciar sobre a genealogia de Dada Aeulicopetro. Melindrados, sentiam-se menores em sua proficiente sabedoria, não arriscavam um palpite.

 

Lembremo-nos, caros amigos, dos rituais dos botequins. Nos botequins não imperam as verdades, neles prevalecem os palpites. Cultuados e celebrados como se fossem as verdadeiras verdades.  Nos botequins,  a excelência dos palpites transforma-se em assoladora e insofismável verdade. Ali se pratica a autêntica dialética dos contrários: a dialética dos palpites, das íntimas e inconfessáveis verdades.

 

Mas é preciso que se alerte. À inautêntica verdade dos palpites corresponde o verdadeiro caminho para o calvário. Um palpite errado é imperdoável. Num botequim, um palpite errado converte-se no definitivo infortúnio e no verdadeiro calvário. Pode-se falar mal da mãe de desafetos, da mulher do amigo, da vida pregressa do papa, do time de coração, mas não se pode dar um palpite errado. É como se fosse uma sentença de morte, de exílio perpétuo das mesas dos bares,  de banimento do rol dos amigos. Por isto não houve palpite e Dada continuou sendo um grande e mistério.

 

Procurei atenuar a curiosidade dos amigos.

 

Em tempos de seleção de M’Dunga, de infortúnio e de chuteiras da pátria, disse apenas: havia três coisas que paravam no ar, helicóptero, beija-flor e Dadá.  

 

Nada mais disse. Nada predestinei para não aumentar o infortúnio da pátria e a aflição dos amigos. Disse apenas que, em sua modéstia,  Dadá confirmara que não descobrira o helicóptero, porém auxiliara inventores da informática.

 

Deixei que os dias se passassem, para deslindar aquilo que não era mistério : Dadá, o jogador misterioso, sem nenhum mistério. O único que pontificara em todos quadrantes da imaginação e todas as latitudes do gramado.  Aquele que flanava e helicopterizava.

 

Numa incrível coexistência entre real e imaginário, surgira Dadá, o jogador imperfeito, que aprendera a voar, alheio às coisas da razão, das letras e das artes.  Assim como Veludo, goleiro do Fluminense, que não sabia com qual das mãos assinava seu nome, porque não assinava com nenhuma delas, Dada não sabia com qual das pernas se conduzia por este mundo de incertezas. Por isto era mágico, era hilariante. Quando não fazia, inventava seus gols para nossa alegria.

 

Para concluir.

 

As contribuições de Dadá Aeulicoptero, não se limitaram as peripécias futebolísticas, nem tampouco as alusões à aviação e à austrionáutica. Estenderam-se pelo mundo da ciência, alcançando as modernas e inovadoras tecnologias da informação. Graças a sua antítese sobre a  tese da problemática,  comprovou a existência de uma nova área de conhecimento, a solucionática, celula mater da informática.  Deste modo, Dada Aeulicoptro desvendou o caminho para a invenção da informática.

 

São estes artistas que faltam na seleção. Que se diz brasileira, mas é de M’Dunga e dos patrocinadores da CBF.

 

 

Wagner Braga Batista é professor aposentado da UFCG


Data: 17/06/2010