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Espaço acadêmico ajuda a construir rede de contatos

Universidade pode ser o incubadora de relações profissionais

 

Você já ouviu falar em networking? O conceito se baseia na socialização e na construção de uma rede de relacionamentos que pode contribuir para uma boa colocação profissional. Embora haja inúmeras fórmulas para se construir essa rede, os universitários talvez tenham uma oportunidade única para fazê-lo. Há quem aposte que o espaço acadêmico seja uma espécie de incubadora bastante eficiente para o processo de constituição dessa teia de contatos.

 

Segundo Osmar Rocha, coordenador do curso de Administração da UFPR (Universidade Federal do Paraná), a universidade é um espaço que beneficia o início dessas relações. "A primeira rede de contatos do universitário é o ambiente interno. Isso envolve o relacionamento dentro da própria turma, alunos de outros períodos, diretório dos estudantes, empresa júnior e entidade de intercâmbios, entre outros espaços", diz Rocha.

 

José Augusto Minarelli, autor dos livros "Networking - Como utilizar a rede de relacionamentos na sua vida e na sua carreira" e "Super Dicas de Networking para sua vida pessoal e profissional", destaca como as relações interpessoais podem ser fundamentais de parte a parte. "É importante entender que o mercado de trabalho é constituído de gente e que nós precisamos de outras pessoas para ter informações sobre vagas, gerar entrevistas, sermos orientados e obtermos informações em geral", explica ele.

 

Apesar de não se familiarizar com o termo, a estudante Bruna Meirelles, que está no terceiro semestre do curso Design de Moda na Universidade Anhembi Morumbi, já começou a perceber a relevância da rede de contatos. "Desde o início do curso, sempre tive como preocupação um perfil comunicativo para conseguir evoluir profissionalmente e a minha universidade prioriza muito isso", diz a estudante, que graças à divulgação feita por um professor no ano passado, conseguiu participar da Casa de Criadores, evento de moda que segue linha semelhante à adotada pelo SP Fashion Week. Bruna conta que, após a atuação de 2009, ainda conseguiu uma vaga no evento deste ano.

 

De acordo com Minarelli, a construção dessa rede de contatos tem como objetivo a troca de conhecimentos, informações e cooperação. "Um dos fatores de empregabilidade é ter uma rede de relacionamentos bem cultivada, ter acesso a quem pode ajudar na indicação de alguma oportunidade de emprego ou até com dados para um TCC (Trabalho de Conclusão de Curso), por exemplo. Conhecer pessoas, descobrir atividades e cultivar relacionamentos é muito importante para quem está no começo da carreira e necessita de uma primeira oportunidade de trabalho", afirma ele.

 

Paulo Vieira de Campos, professor de pós-graduação da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing), defende que o sucesso profissional vai depender do conhecimento adquirido multiplicado pelas pessoas que conhecemos e ressalta a importância que o convívio universitário pode ter nesse contexto. Minarelli procura ilustrar a razão disso. "Na universidade você tem professores, funcionários, colegas, ex-alunos, pessoas que têm vínculos, e é natural ter afinidade com pessoas que estejam no mesmo curso. Por trás dessas pessoas estão pais, irmãos, familiares e conhecidos. O networking é importante pelas pessoas que você pode conhecer e pelas pessoas que estão por trás delas", declara ele, que alerta que muitas pessoas só percebem a oportunidade de construção da rede de contatos quando voltam para a universidade para o curso de pós-graduação.

 

Como construir uma rede de contatos

 

Campos, que também leciona no curso de férias "Comportamento no Mundo Corporativo", diz que os contatos se iniciam através de pontos em comum. "Para se ter um relacionamento com alguém, vale uma certa afinidade, gostos parecidos, reconhecimento e até algum tipo de admiração. Para fazer um bom networking, o estudante precisa buscar um ponto de intersecção, um interesse para se aproximar das pessoas", sugere ele. O professor da ESPM afirma ainda que na comunicação dentro das redes é preciso se importar com o tipo de informação que é relevante para os interlocutores. Ele simplifica esse relacionamento numa frase: "Todo mundo quer ter uma recompensa". De acordo com ele, essa recompensa pode ser uma troca, um agradecimento ou uma divulgação.

 

Foi esse o caso de Glaucia Ferraro, aluna do quinto semestre no curso de Desenho Industrial da Universidade Mackenzie. Apesar de já atuar na área profissional quando entrou na universidade, Glaucia ficou desempregada depois de um tempo e conseguiu um novo emprego graças à indicação de uma colega. "Quando fiquei desempregada, conversava com as pessoas e perguntava se elas sabiam a respeito de alguma vaga disponível e pedia que, caso soubessem de alguma coisa, me informassem", lembra ele.

 

A estudante lista algumas vantagens que acredita que o ambiente universitário oferece para a rede de contatos. "Acredito que a universidade seja um bom espaço para se fazer contatos, porque a maioria das pessoas que você conhece geralmente estão inseridas na área em que você quer trabalhar. O importante é conversar com as pessoas, se mostrar disponível, deixá-las saber o tipo de oportunidade que você procura", diz Glaucia. Depois de conquistar a vaga indicada pela colega, ela ainda indicou vagas de emprego para outras duas companheiras de sala de aula, que conseguiram uma colocação.

 

Minarelli fala sobre algumas características que podem soar elementares, mas que, as vezes, são negligenciadas no relacionamento que temos com pessoas próximas. Características, como flexibilidade, gentileza, simpatia e atenção com as pessoas. E o autor ainda faz uma ressalva: "Fazemos relacionamento por interesse de conhecer e nos tornarmos conhecidos. O ruim é ser interesseiro, pensar em explorar a disponibilidade e a boa intenção do próximo. Ninguém gosta de ser explorado. É importante que o estudante não seja invasivo. Seja gentil, solícito, pois é isso que faz com que se adquiram créditos", alerta ele. De acordo com Minarelli, as relações interpessoais devem ser construídas com base no companheirismo, coleguismo e interesse genuíno pelas pessoas.

 

Entretanto, ressalta Rocha, a rede de relacionamentos não acontece apenas dentro da universidade. Por isso mesmo, ele aconselha que os estudantes usem também as oportunidades que a universidade oferece na projeção para fora do ambiente estudantil. "É necessário integrar os ambientes interno e externo. Tenho estimulado que meus alunos comecem desde o primeiro semestre a pensar em estágios, para estender seu relacionamento com clientes e fornecedores e assim abram o leque dessa malha de relacionamentos. Também incentivo a participação em projetos sociais, que ampliam a construção do indivíduo como cidadão e geram um posicionamento profissional e pessoal dentro do ambiente social, não só dentro da universidade", afirma ele.

 

Depois da formatura

 

Se já parece bastante evidente as oportunidades que a universidade oferece, de nada elas adiantarão se o recém-formado não conseguir manter o que construiu depois da formatura. Por isso, Minarelli lembra que é importante trocar dados de contato com as pessoas, como nome, e-mail e número de celular. "É valioso que se registre os contatos adquiridos durante a vida. Através desses dados, você pode ligar, convidar as pessoas para um almoço, para tomar um café ou até para alguma festa ou evento. É necessário ter disposição para encontrar as pessoas", aponta ele.

 

De acordo com Campos, as redes de relacionamento virtual também ganham um forte apelo dentro dessa rede de contatos sociais. "As pessoas podem gerenciar sua rede se posicionando através de alguma ferramenta social", resume ele. O professor, que diz se comunicar com seus alunos e contatos profissionais por meio do Twitter, defende o uso do ambiente virtual para a divulgação de ideias, utilizando-se de blogs, sites de relacionamento e compartilhamento de informações. Campos também destaca que as pessoas devem ser encontráveis, ou seja, facilmente acessadas através da rede. "Hoje em dia, algo para pensar em se tratando de rede é a capacidade de ser encontrável. Você é achável? Não ser uma pessoa encontrável pode dificultar o estabelecimento de sua rede", adverte ele.

 

Além disso, Campos chama atenção para um detalhe importante e que deve ser lembrado no contato presencial e virtual: a reputação. "Quando você mantém sua autenticidade e sua coerência, cuida de sua confiabilidade. A base de um profissional está vinculada à sua confiança, que é expressa pelo seu comportamento", acrescenta ele. Segundo o professor da ESPM, essa confiança merece ainda mais atenção para os relacionamentos via Internet. "Reputação é uma moeda fortíssima na sua rede de relacionamentos. Nas redes sociais virtuais, atualmente, existem profissionais virando amadores e amadores virando profissionais".

 

Dicas para um bom networking

 

- As pessoas dependem umas das outras. É importante conhecer pessoas e ser conhecido.

- Registre seus contatos; eles podem ser úteis quando você precisar de um emprego ou até quando procurar algum tipo de serviço.

 

- Cultive seus relacionamentos com gentileza e educação; seja disponível.

 

- Seja disponível também nas redes de relacionamento para que as pessoas o encontrem com facilidade.

- Na hora de se comunicar com seus contatos, pense sobre o tipo de informação pela qual eles se interessam.

 

- Networking é uma via de mão dupla: você ajuda e é ajudado.

 

(Universia)


Data: 02/07/2010