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Leitura do vestibular pede estudo complementar

Candidatos devem entender elementos históricos e de estilo dos livros

 

A preparação para a realização de alguns dos principais vestibulares do País inclui a leitura da chamada lista obrigatória. E a dedicação para compreensão efetiva dessas obras extrapola a própria história. Quem tem experiência em preparação para vestibular destaca a necessidade de complementar a leitura com estudo de outros textos. Afinal, as obras não são indicadas pelo mero poder de entretenimento.

 

Segundo José de Paula Ramos Júnior, professor do departamento de Jornalismo e Editoração da ECA USP (Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo), pelo menos quando o objetivo é o vestibular, a análise das obras contidas na lista de leitura obrigatória exige olhar crítico e atento para elementos de estilo do autor e da época de sua concepção e para os pontos de conexão entre a ficção retratada e a realidade social e econômica de então. "O valor de um clássico literário é permanente e transcende o momento histórico em que foi gerado", explica Ramos Júnior.

 

Por isso, o professor destaca a importância, ao ler um dos clássicos da literatura, que o vestibulando atente para os aspectos temáticos, o estilo do autor e aos elementos que dizem respeito à escola literária. De acordo com Ramos Júnior, é isso que vai permitir a interpretação do texto com fundamento na obra em si. "O estilo de cada autor é algo sempre muito específico, que o caracteriza", diz ele.

 

Já para Vera Bastazin, professora de literatura e crítica literária da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), o aluno que não extrapolar a leitura para além dos livros e praticar apenas a leitura descompromissada não será bem sucedido no vestibular. Isso porque, para ela, o conhecimento literário se dá por contextualização relacional e envolveria aspectos filosóficos, existenciais, religiosos e artísticos. "O aluno tem de usar de todos os artifícios para que a leitura dê prazer e ele absorva o conhecimento. É um processo vagaroso, de relação de conteúdos e reflexão", analisa ela.

 

Vera também julga necessário conhecer um pouco de teoria literária e sobre o autor para entender a narrativa utilizada, as vozes presentes ao longo do texto, a forma como o autor manipula e usa os personagens, além das figuras de linguagem. "É interessante observar que o texto literário é cheio de significados e é possível extrair dados a partir de enfoque histórico, filosófico e sociológico", explica ela.

 

Leitura aprimorada

 

Para que os alunos consigam observar todos esses aspectos, Vera recomenda que fujam dos resumos e que a leitura seja orientada. Afinal, as questões dos vestibulares sobre os livros não cobram o enredo, mas sim a forma como a obra é trabalhada, o que só é possível de absorver com a leitura do texto na íntegra. "É péssimo usar resumo, pois a qualidade está na maneira como a história é contada e organizada", diz.

 

Já para embasar a leitura, uma das opções é participar das discussões sobre as obras que os cursinhos pré-vestibulares oferecem, geralmente em horários alternativos à agenda de aulas, aponta a professora. "Trata-se de um estudo orientado, não diluído no meio da aula, e dá a oportunidade de debater sobre o livro e o autor para conhecer com mais profundidade", afirma Vera. Segundo ela, algumas bibliotecas públicas ou ligadas a universidades também costumam promover encontros desse tipo com professores de literatura.

 

Da mesma forma que os resumos não são suficientes para compreensão global da obra, as peças de teatro e os filmes baseados no texto original também deixam a desejar, embora possam servir de referência. É no que acredita Ramos Júnior, para quem assistir a filmes pode auxiliar a fixar na memória elementos do enredo e do fundo psicológico das personagens. Ainda assim, ele aconselha que se verifique se o diretor da peça ou do filme não optou por adaptar o conteúdo livremente. "O aluno tem de comparar com a leitura do livro para verificar se o filme é ou não fiel e em quais pontos", alerta ele. Das produções cinematográficas, ele recomenda apenas a versão de Vidas Secas feita pelo diretor Nelson Pereira dos Santos. "Essa é absolutamente recomendável. As outras, nem tanto", avalia o professor.

 

Já edições comentadas e que trazem análise do livro podem ajudar a elucidar o vínculo que existe entre a obra, o autor e a realidade da época. Também são úteis para que o leitor exerça o que Ramos Júnior considera imprescindível: a leitura crítica. "O trabalho mais importante é o de análise e interpretação, com atenção à obra e às relações dela com os temas universais", explica o professor. Da mesma forma, conhecer um pouco sobre a biografia dos autores contextualiza o meio em que ele estava inserido quando escreveu o livro e que, muitas vezes, permeia a obra e a trajetória das personagens.

 

Embora seja interessante buscar material de suporte para melhorar a compreensão dos textos e o desempenho no vestibular, o aluno deve cuidar para não desviar o foco de atenção do livro em si. O risco é apontado pela professora da PUC-SP. Vera afirma que a obra permanece pelo valor que tem em si própria. "Evidente que há valor pelo tempo em que foi escrita e pelo autor, mas não é só isso. Por mais importante que seja, não é o nome do autor que faz o texto ser bom. Daí, ficar apenas no entorno, no contexto histórico e na vida do autor, é fugir da obra", adverte ela

 

Dicas para melhorar a leitura das obras exigidas no vestibular

 

- Leia o livro, não os somente os resumos que, por si só, impossibilitam compreender a forma como o texto se organiza e como se desencadeiam os fatos.
- Estude sobre o contexto histórico em que a obra foi escrita. Isso auxiliará a compreender o estilo literário e os elementos de referência utilizados pelo autor.
- Ver filmes ou peças sobre as obras, embora não substitua a leitura em si, ajuda a fixar elementos do enredo na memória e a compreender o aspecto psicológico das personagens. No entanto, cuidado para adaptações livres, que podem não ser fiéis ao texto original.
- Procure conhecer sobre os elementos da teoria literária e da teoria poética, como versificação, sonoridade, interpretação de símbolos.
- Edições que trazem análises e comentários podem auxiliar no processo de relacionamento entre ficção e realidade.
- Se tiver oportunidade, participe de aulas específicas sobre os livros, em que professores de literatura orientam a leitura.
- Cuidado para não dedicar tempo demasiado à leitura de documentos complementares. O principal é a obra em si

 

(Universia)


Data: 03/08/2010