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Golpe da venda do diploma faz vítimas na internet

"Eu tinha que mostrar um diploma para o meu pai", conta Ludmila (nome fictício), que há quatro anos saiu de uma cidade de cerca de 25 mil habitantes para cursar pedagogia em São Paulo.

 

A jovem, no entanto, quer ser atriz. Fez matrícula no curso de pedagogia "em uma faculdade qualquer", mas nunca frequentou as aulas.

 

A pressão do pai, que tem um escola e queria que a filha tocasse o negócio da família, aumentou ultimamente.

 

Ludmila, incentivada pelo namorado, tomou uma medida desesperada: entrou no site diplomad.com.br, que promete diplomas de ensino fundamental, médio e superior em até 15 dias.

 

Ela ligou para um dos telefones que lá estão e conversou com um homem que se identifica como Luis. Envolvida pelo discurso de credibilidade do golpista, enviou seus documentos por e-mail para a suposta emissão do diploma (RG, CPF, histórico escolar e título de eleitor) e depositou R$ 3.600, equivalentes à primeira parcela.

 

Mas Ludmila não recebeu nem diploma nem seu dinheiro de volta. Após o depósito, o estelionatário parou de atender a suas ligações.

 

"Eu achei que seria só uma mentirinha boba, porque eu não ia usar o diploma, só mostrar. Nunca imaginei que eu ia me envolver com uma pessoa perigosa. Agora eu tô morrendo de medo do meu pai. Morrendo de medo do que esse cara possa fazer com meus documentos."

 

Como não pode fazer denúncia à polícia, já que ao tentar comprar o diploma também cometeu um crime, a aspirante a atriz contratou um perito para sofrer o mesmo golpe e rastrear o máximo de informações possíveis sobre o site.

 

O perito, que também não quer se identificar, diz ter localizado o endereço físico do suposto proprietário do domínio diplomad.com.br. Fica em uma pensão no bairro dos Campos Elíseos, onde a reportagem não encontrou nenhum dos envolvidos.

 

O golpe

 

A pergunta que se faz nesses casos é: como uma pessoa supostamente esclarecida cai nessa roubada?

 

Para entender o mecanismo, a reportagem da Folha resolveu "cair no golpe" também --sem depositar o dinheiro. Dessa vez, o pedido era de um diploma de administração de empresas. Segundo Luis, o documento custaria R$ 6.000.

 

Metade seria depositada em uma conta poupança que, segundo ele, pertence a uma funcionária da Uninove. A outra metade seria paga em dinheiro a um motoboy que levaria o diploma a um endereço indicado pelo "cliente".

 

A negociação, no entanto, não foi imeadiata. Durou quase duas semanas. Além de enrolar, o golpista usa a tática do vendedor de liquidação, que diz que tal peça é a última do estoque. Ele também não deixa que se escolha a instituição que emitirá o diploma.

 

Pressionado a passar o número da conta, Luis pedia calma. "Não é assim! Tem que ver se tem vaga em alguma das turmas que se formaram neste ano. Tem que passar por um funil..."

 

Que funil? Ele não explica. Só diz que o esquema funciona da seguinte maneira: a tal funcionária da Uninove encaixa o nome do comprador em uma turma em que haja vagas de alunos que não se formaram.

 

Por exemplo, se a turma de administração tinha 40 alunos, e apenas 38 formandos, o falso formando seria encaixado em uma dessas duas vagas remanescentes. No dia seguinte, como num passe de mágica, a vaga aparecia...

 

Procurada pela reportagem, a Uninove diz que nunca teve nenhuma funcionária ou aluna em seu quadro com o nome fornecido pelo golpista (o nome não é revelado, pois a mulher pode ser outra vítima cujos documentos estão sendo usados pelo golpista).

 

(Folha.com)


Data: 05/08/2010