Artigo - O desinventor da educação e do trabalho Wagner Braga Batista Seu negócio era inventar. Não inventar estórias, fazer intrigas ou fuxicos da vida alheia. Inventava invenções. Por cinco vezes consecutivas tinha inventado a roda. Tentará patenteá-la, porém como não sabia usá-la, não deu resultado.. Agora estava absorvido com invenções sobre os destemperos dos homens e a ansiedade feminina. Mergulhara fundo na desinvenção da TPM e numa nova alienação que remediasse aflições de torcedores de futebol. Uma ora encontrava convincentes evidencias de que estes males poderiam ser aliviados com cerveja, outra ora não, posto que a cerveja aumentava o destempero dos homens e suas subseqüentes aflições. Suas pesquisas sobre a instabilidade dos homens e sobre as virtudes de virtuosas ecosenhoras evoluíam a contento. Com auxílio da FINEP e uma bolsa da CAPES tinha inventado situações confortáveis , inventos descartáveis e seres biodegradáveis. Inventara um principio que não era inusitado. Tratava-se de um programa de informática chamado Fiat que criaria tudo que fosse criado . Adotaria a lógica da geração espontânea e tudo seria criado. O computador aboliria a educação. Evitaria os transtornos das aulas, do ensino e do aprendizado. Acabaria com professores e alunos. Eliminaria a leitura e as dificuldades de compreensão das linguagens. Esse software também suprimiria o esforço de reflexão sobre o mundo. Criaria uma nova modalidade de educação denominada educação das distancias. Desse modo educaria as distancias para que nunca se aproximassem da educação, da pedagogia e de seus valores consagrados. O computador também acabaria com o trabalho. Poria fim à labuta diária e ao relacionamento indesejável com homens sujos e suados. Extinguira compromissos, acordos mal tratados, rotinas e prazos apertados. Após tantos anos de pesquisa e desinvenção, chegara à conclusão de que bastaria um computador e uma fértil imaginação para que todas as coisas surgissem do nada. Colocaria uma tecla fiat e surgiriam casas, loteamentos vazios, automóveis, televisores, geladeiras e outras demandas da classe média . Assegurava a todos, que por se tratarem de bens, até então, intangíveis ,que surgiram do nada, também não custariam nada. Os consumidores receberiam em suas próprias casas os bens produzidos pela tecla fiat e entregues a domicílio pela função delivery. Tudo por obra do computador, sem pagar nada. Se o usuário estivesse com fome tocaria na tecla pão. Se tivesse paladar refinado, abrir-se-ia um menu detalhado de tudo que o computador ofereceria para seu regalo. Carnes, queijos, doces e cocadas. Haveria uma carta de vinhos, bem acondicionados, que jamais ultrapassariam a temperatura desejada. Para evitar desconfortos e contratempos, o computador planejado não seria pesado. Teria o tamanho de um dedo, caberia num porta moedas o bolso e seria facilmente transportado. O computador também poderia aliviar as tensões, carências e frustrações diárias. Bastaria acionar a função consolo e os problemas seriam sanados. Para produzir tanta coisa o computador armazenaria uma construtora de edificios, uma fábrica de eletrodomésticos e uma montadora de automóveis num chip . Teria também uma loja de conveniências com comidas, iguarias e apetrechos da moda em sua memória. As fábricas poderiam produzir todo tempo e toda hora. Não haveria trabalhadores insolentes, horas extras e encargos. Greves, reivindicações e horas paradas nunca mais. Por meio do work sistem ou teletrabalho, o trabalho seria desinventado. Os homens já não precisariam se ver, se ouvir, ler e pensar. Uma vez superadas pelo software das demandas humanas, as necessidades reduzir-se-iam a nada. Não teríamos carências materiais, fantasias, amizades, sequer outros seres humanos para que nossas apreensões e düvidas fossem compartilhadas. Por obra do desinventor, com auxílio da FINEP e bolsa da CAPES, um novo computador fora criado.
Data: 12/08/2010 |