Artigo - A irrefreável escalada do Fluminense e a vitória da cordialidade nos estádios Wagner Braga Batista E, então, fez -se o espanto... Ante tanto absurdo com que se espantar, mais uma tramóia para nos assustar. Em sigilo, associavam-se homens da cartolagem, donos das arbitragens e experts da bandidagem. Urdiam um plano para conter o ímpeto do tricolor. Pensaram em tudo. Desde as mais pueris e ingênuas artimanhas, a exemplo de colocar pó de mico nas cuecas, óleo de rícino ou elixir paregórico nas refeições dos jogadores, às mais sofisticadas tramas para frear a escalada tricolor. Buscaram ajuda nas trevas e no esoterismo. Procuraram se socorrer em religiões. Houve unânime recusa. Nenhuma se prestou a dar corpo a estes ardis e promover esta enorme injustiça. Graças a um acordo celebrado com o Divino, chegaram ao mais absoluto ecumenismo. Nenhum pai de santo, pastor, padre , caboclo, pomba gira ou qualquer entidade se prestaria a este ignominioso papel. Portanto, fora das quatro linhas não haveria caguira, mandinga, urucubaca, caiporismo, reza, mandraca, despacho, encomenda ou promessa que interferisse no resultado dos jogos. O Fluminense continuaria sendo o herói das gentilezas, da cordialidade com o povo e do respeito aos adversários, para orgulho de sua torcida, admiração dos cariocas e honra da nação brasileira. Contida a estratégia mística e o ocultismo, restavam ainda outras ações deletérias. Vingavam nos subterrâneos da CBF e nos cárceres clandestinos da CIA, as tradicionais urucubacas e truculências, herdadas do passado recente. Os agiotas e as rapinas da beleza do futebol, convocaram juízes ladrões para viabilizar vitórias no apito. Mas Mario Viannna, com dois enes, o paladino dos torcedores aflitos e guardião da probidade nos gramados, apresentou-se de pronto. Com seu vozeirão não hesitou em denunciar em todas as rádios e coibiu definitivamente a roubalheira nos estádios. Agora, restava apenas uma última e execrável alternativa. Teriam que recorrer á truculência para impedir o avanço tricolor. Foi, então, que entrou em cena o nefando fantasma do General Garrastazu. Desprezando o novo contexto histórico, apressou-se em torturar de uma só vez trezentos e dois milhões de torcedores do Fluminense. Decretou que o time não poderia entrar completo em campo. Mandou agentes do DOI-CODI encapuzar os jogadores. A partir daí, só poderiam atuar com vendas nos olhos e jogar às cegas. Parar disseminar o medo, o jogo seria interrompido a cada 15 minutos para colocar um a um no pau de arara. Sob indescritíveis suplícios, seriam obrigados a jurar que não marcariam gols contra os adversários. Para complementar este horripilante quadro, o General Garrastazu convocou quarenta e três Euricos Mirandas. Tentou decepar a língua de Muricy Ramalho, para interditar este homem de palavra. Eram hordas de fascistas que ressurgiam. Associaram-se ao narcotráfico, aos asseclas que se beneficiam do camarada Lula, aos agentes da CIA e tantos outros degenerados. No entanto, não sabiam o que estava por vir. A matula de facínoras e o General Garrastazu ignoravam a escalada das grandes massas e a nova conjuntura que se descortinara. Desconheciam a energia das torcidas, a força da alegria e da fraternidade que tomaram conta dos estádios. Ignoravam o poderio tricolor e a dignidade das torcidas adversárias, que não mais admitiam torturas e desrespeito aos diretos humanos no Brasil. Este espectro abjeto não avaliou o potencial critico da grande massa. Enganara-se ao supor que o marketing esportivo e a parcela da imprensa vendida pudessem mascarar tantas falcatruas e maracutaias. Equivocara-se ao abocanhar dinheiro público, desviado para a reforma de estádios e para a realização de interesses privados. Fora do clube dos Treze, todas torcidas rejeitavam sumariamente os crimes contra a humanidade, as falsidades produzidas pelo marketing esportivo e a farra do boi produzida com o assalto aos recursos públicos do Estado. A união de todas torcidas foi vital. As grandes massas não se deixaram intimidar. Não capitularam ante a truculência, o arbítrio e a safadeza. E assim a justiça se prevaleceu. Mais uma vez, por obra do comunismo e do papa João XXIII, a harmonia entre os povos e as torcidas voltou a se estabelecer. Agora idosos, mulheres e crianças poderiam sorrir e se sentir em paz nos estádios. Caros amigos, o bom senso se impôs. Para concluir, só lhes resto dizer que, para tranqüilidade de todos e alívio geral da nação, o Fluminense não sucumbiu às tramas e ao determinismo histórico. Cresceu de tamanho, amadureceu e nos oferece um futebol primoroso, inigualável. Mais, nos dias de hoje, apresenta o melhor desempenho do campeonato brasileiro de todos os tempos. Por isto, todas torcidas numa demonstração de grandeza, declinaram de suas idiossincrasias, superstições e calores noturnos. Cederam momentamente as suas pretensões e rendem homenagem ao tricolor no Maracanã. Foram se congratular com homens, mulheres e crianças que procuram resgatar a dignidade do futebol, a cordialidade no Rio de Janeiro e a esperança do povo brasileiro. Dito isto, por um ato de justiça e para assegurar a felicidade coletiva, o Fluminense será sagrado campeão brasileiro de 2010.
Wagner Braga Batista é professor aposentado da UFCG Data: 18/08/2010 |