topo_cabecalho
Pesquisadores da UFCG alertam para descaracterização do patrimônio arquitetônico de Campina Grande

Correta preservação poderia resultar em benefícios econômicos para a cidade

 

Celebrando 146 anos de elevação à categoria de cidade, Campina Grande tem pouco a comemorar quando o assunto é a preservação de seu patrimônio arquitetônico. Dona de um rico e diversificado patrimônio que contempla desde o estilo Eclético, passando pelo Art Déco, Neocolonial, até o Modernismo, a cidade assiste impassível a sistemáticas demolições e descaracterizações, inclusive em áreas protegidas por lei.

 

“Todas essas manifestações arquitetônicas estão sofrendo com o abandono e intervenções equivocadas, colocando em risco um patrimônio cuja preservação deveria ser de interesse coletivo”, alerta o professor Marcus Vinícius, do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG).

 

Ele atribui essa situação à falta de consciência da sociedade quanto à importância da preservação de algumas edificações para a manutenção da memória da cidade. “Há uma insensibilidade para a percepção das qualidades artísticas, históricas e paisagísticas do espaço urbano. Muitas vezes, as pessoas descaracterizam seus imóveis sem muita consciência do que estão fazendo. Cabe ao poder público fomentar iniciativas que sedimentem na sociedade esse sentimento de valorização da sua memória”, defende.

 

Grande parte do centro da cidade foi declarada Área de Preservação Rigorosa e Preservação Ambiental, de acordo com o Decreto Estadual Nº 25.134, de 28 de junho de 2004. É o chamado “Centro Histórico Inicial”, onde estão localizados os principais bens tombados, a exemplo da Estação Velha, do Cine São José e do Museu Histórico, edifício mais antigo da cidade, construído no início do século XIX para ser a Casa da Câmara e Cadeia da então Vila Nova da Rainha.

 

De acordo com a legislação, todas as edificações situadas neste perímetro deveriam ficar sujeitas às normas de manutenção, conservação e fiscalização, mas, segundo o pesquisador, não é o que acontece. “Todos os dias, edifícios que estão dentro da poligonal de tombamento são descaracterizados, das mais diversas formas: instalação de placas publicitárias, troca de esquadrias e revestimentos de fachada e demolição das antigas marquises. Felizmente, parece-me que existe uma consciência maior do valor da produção Art Déco, e isso tem gerado iniciativas isoladas de preservação”, destaca.

 

Benefícios da preservação

 

De acordo com a professora Mariana Bonates, também do curso de Arquitetura e Urbanismo da UFCG, além dos aspectos artísticos e culturais envolvidos, a correta preservação do patrimônio arquitetônico da cidade poderia resultar em benefícios econômicos, como ocorre em outros lugares.

 

“Em alguns países, o tombamento de um bem como patrimônio é visualizado como um valor a mais a ser agregado ao valor do imóvel, tendo uma maior rentabilidade comercial, podendo-se explorar, inclusive, como atrativo turístico. No Brasil, algumas cidades também atraem turistas em virtude de seu apelo histórico e cultural, como é o caso de Salvador, Ouro Preto e Olinda”, exemplifica.

 

Ela observa que o tombamento não deve ser encarado como um limitador da edificação ou um dispêndio a mais, prejudicando o proprietário. “Hoje em dia há vários instrumentos legais, como a Transferência do Potencial Construtivo, que pode ser utilizado para que o imóvel continue tendo sua capacidade construtiva. Ademais, há incentivos fiscais concedidos para imóveis tombados que podem contribuir financeiramente com o proprietário para a conservação das edificações”.

 

A formação de mais profissionais de Arquitetura e Urbanismo na cidade pode, na opinião da professora Mariana, contribuir para a melhoria deste quadro, através da produção intelectual de trabalhos sobre Campina Grande.“A existência de um curso como o nosso contribuirá, certamente, com um estoque de exercícios e projetos para enfrentar alguns problemas relacionados a várias questões, inclusive a preservação do patrimônio cultural, resultando num debate que poderá influenciar positivamente na gestão urbana”, comenta.

 

Para ela, a conscientização e as propostas de preservação do patrimônio cultural campinense passam necessariamente por tal processo de produzir conhecimentos, elaborar diagnósticos e soluções, proporcionando uma maior atenção a essa relevante questão na cidade.

 

(Kennyo Alex - Ascom/UFCG)


Data: 13/10/2010