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Desatualização põe em risco formação universitária

Atividade prática, leitura e especializações mantêm diploma protegido

 

Entre 2009 e 2010, a quantidade de cursos de pós-graduação cresceu 20,8% no Brasil, de acordo com a Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior). O crescimento reflete o aumento observado na procura por cursos de atualização profissional, condição cada vez mais considerada imperativa para a manutenção da empregabilidade.

 

A análise é endossada pelo coordenador do curso de gestão de RH (Recursos Humanos) da Universidade Metodista de São Paulo, Luciano Venelli Costa, para quem deixar de se atualizar é prejudicial à carreira. "Com a velocidade com que novos conhecimentos chegam e se tornam obsoletos, o diploma tem prazo de validade, sim", acredita.

 

No entanto, ele pondera que é possível estender a vida útil dos cursos realizados - às vezes por prazo indeterminado - com a aplicação prática e constante dos conceitos aprendidos. "A prática é o que mantém a pessoa atualizada. Sem ela, mesmo com cursos, não há garantia de mercado de trabalho, pois é difícil confiar em alguém que esteja parado há muito tempo", diz.

 

Inclusive o aproveitamento dos cursos realizados com o intuito de melhorar o desempenho profissional são mais efetivos nos casos em que a teoria é aliada à prática, conforme testemunha Costa. "O aluno que trabalha e estuda vê muito mais sentido no aprendizado do que aquele que apenas estuda", avalia ele. A opinião de José Valério Macucci, professor de gestão de pessoas do Insper Instituto de Ensino e Pesquisa, é semelhante. Segundo Macucci, a validade da especialização depende muito do uso prático que lhe é dado, a depender, ainda, da área de atuação do profissional.

 

"O conhecimento pelo conhecimento tem validade no mundo acadêmico. No mundo das empresas, se não usa isso de forma prática, ele perde sua validade", pondera o professor. Assim, exemplifica ele, profissionais que tenham feito MBA numa ótima escola, mas que depois tenham sumido do mapa, não são bem vistos pelos recrutadores.

 

Conhecimento informal

 

Com isso, Macucci quer dizer que há áreas do conhecimento em que nem sempre a realização de cursos faz muita diferença. "Diplomas de áreas como biológicas ou tecnológicas têm prazo de validade menor. Mas há também áreas de conhecimento baseado na aplicação diária, que é o caso de grande parte das especializações na área de negócios, cujos cursos dependem enormemente da aplicação prática que se dá a eles", analisa.

 

Da parte da Herbarium, indústria farmacêutica paranaense, a análise é a mesma, de acordo com Joanita Plombom, supervisora de RH da empresa. "Não é o diploma que a gente valoriza, mas a capacidade de aprender. Isso vale para qualquer situação", resume ela. Para Joanita, a pessoa tem de buscar desenvolver conhecimentos novos sobre o que faz. Dessa maneira, embora considere que o diploma de graduação, por si só, seja insuficiente para manter o profissional por longo período no mercado, afirma valorizar a busca por conhecimento em canais informais, como filmes, livros e até por meio do contato com profissionais mais experientes.

 

Nos casos em que a última atualização formal, com diploma, do profissional ocorreu há muito tempo, o currículo tem de representar a especialização. "Não é incomum encontrar pessoas que se formaram em economia ou administração e que a empresa tenha sido uma verdadeira escola de especialização. Ele apenas não formalizou o conhecimento adquirido", diz Macucci. Situação semelhante ocorre também em áreas inovadoras, que ainda não constam do currículo das IES (instituições de Ensino Superior), mas que contam com amplo campo de atuação no mercado.

 

Macucci afirma ser comum, durante entrevistas para emprego, perguntar para o candidato quais foram os principais projetos dos quais participou e de que maneira contribuíram para sua formação profissional. Joanita acrescenta que, no processo seletivo da Herbarium, enfatiza o aspecto comportamental dos candidatos. "O currículo demonstra experiência, mas é na entrevista que se detecta a consistência do que está no currículo, o quanto agregou e o que contribui para o que a empresa precisa", revela ela. A supervisora de RH afirma ser parte do protocolo de entrevista perguntar quais são os canais pelos quais o aspirante à vaga se atualiza. "O conhecimento é importante e está muito disponível, nem sempre apenas do jeito formal. O mais importante é o interesse da pessoa de se atualizar", assegura ela.

 

Caminhada certeira

 

Segundo Macucci, tanto determinar o prazo de validade de um diploma quanto a composição do currículo do profissional são problemas tão grandes quanto a falta de atualização a falta de linearidade na trajetória da carreira. O administrador que sai da graduação e faz uma pós-graduação em marketing para, em seguida, se especializar em finanças corporativas passaria a mensagem de que não tem definida a expectativa com relação à própria carreira. Costa explica que, por melhores que sejam os cursos, os diplomas têm utilidade questionada pelo mercado.

 

"Se a empresa não demanda o conhecimento, não adianta nada. Por isso, alinhar a prática à teoria é muito interessante", considera. Para tanto, recomenda ao profissional avaliar a utilidade que terá o curso pelos dois anos seguintes. Conforme conta, a aplicação prática do conteúdo tem permeado as discussões na área de Ensino e gestão. "Não adianta ensinar conceitos gerenciais se o sujeito não é gerente", resume ele.

 

Logo, seria de fundamental importância ao interessado em tirar o máximo de proveito do curso, avaliar o que acontece e quais são as tendências em sua área de formação. "É importante não gastar tempo e dinheiro em coisas que não se relacionam com as perspectivas profissionais", alerta Costa, que dá como exemplo que tal análise seja feita por meio da leitura de revistas e sites especializados na área em questão e na atuação das empresas do segmento.

 

Outra dica para otimizar a utilização e estender a validade do diploma é conversar com o coordenador da escola que oferece o curso a fim de obter auxílio sobre o que é oferecido face ao que o profissional faz na empresa. "No processo de entrevista, é importante contar para o coordenador o que se pretende com o curso. Isso para, justamente, descobrir se o conteúdo é adequado ao que ele tem como plano profissional", orienta Macucci.

 

(Universia)


Data: 17/12/2010