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Artigo - As minhocas herbívoras do Açude de Bodocongó e os seres onívoros do desenvolvimento sustentável

Wagner Braga Batista

 

 

As minhocas herbívoras, defensoras das hortaliças sociais, adeptas da dieta vegetariana e de uma sociedade mais justa e igualitária, finalmente foram ouvidas e reconhecidas no município de Campina Grande.

 

Quando todos se calavam, insurgiram-se contra a mentira e os pés de desenvolvimento sustentável.

 

Imediatamente, seres onívoros que comem dólares, euros, yens, marcos e reais, compulsivamente, apresentaram-se para domesticar e para coibir a dieta vegetariana das minhocas de Bodocongó.

 

Após os questionamentos sobre a virilidade financeira dos pés de desenvolvimento sustentável, foram argüidas sobre a capacidade erétil das manivas do plantio.

 

Entrevistadas pelo The Guardian, pelo The New York Times, pelo The Le Monde e pelo The Brasil de Fato, ganharam projeção em Pombal, Cochichola e no mundo inteiro.

 

Graças às denúncias da inconsistência do tronco, da vulnerabilidade dos pressupostos teóricos e pecuniários, bem como da fragilidade dos quebra-ganhos dos pés de desenvolvimento sustentável, a maracutaia caiu por terra.

 

Os pés de desenvolvimento sustentável ficaram desnudos em meio à aridez ideológica..

E as minhocas de Bodocongó subitamente ficaram famosas. Aqui e alhures, falava-se das insurgentes minhocas de bodocongó que botaram terra nas jiriquitas sustentáveis.

 

Para conter a insurgência minhoquista, aportaram malas pretas nas proximidades do açude de Bodocongó.

 

Havia malas pretas de todos tamanhos, tipos e cores transportando toda sorte de suborno ético.

 

Emissários do Banco Mundial, da CBF e do Corinthians queriam que as insurgentes minhocas ficassem bambas das pernas e entregassem o jogo.

 

Queriam, de vez por todas, encerrar o burburinho sobre a esterilidade dos pés de desenvolvimento sustentável.

 

Entabularam propostas de cargos comissionados. Invectivaram  uma vaga para procuradoras de si mesmas, um titulo coletivo de sócio proprietário de uma sala de aula repleta de cadeiras vazias ou um horário alternativo no Cantinho Universitário.

 

Sugeriram que as minhocas fossem contempladas como doutoras honoris causa da sustentabilidade e pudessem constar dos cadastros de pesquisadoras da Capes e do CNPq.

 

Caso desejassem, integrariam a equipe de minhocas avaliadoras de projetos de pesquisa, bem como estariam habilitadas a examinar currículos, cursos e instituições de ensino, agraciadas com o aval do BASIS-INEP.

 

Reconhecidas pelo seu trabalho em prol da humanidade, as minhocas herbívoras, que emergiam para o mundo das vaidades e da luz, declinaram de tanta honraria. Não abririam mão de seus questionamentos.

 

Para conter o surto insurgente,  as forças do bem e dos pés de desenvolvimento sustentável mobilizaram dez Prêmios Nobeis, carregados de girândolas alternativas, para convencer as minhocas a declinar de suas convicções insustentáveis e dos valores não propináveis. Em nome da ciência, da modernização da economia, da privatização do patrimônio público, da minimização do Estado e do estado da arte da safadeza institucionalizada ofereceram não só o que tinham no bolso.

 

Mas, as minhocas irredutíveis, reiteravam seus questionamentos.

 

Em alto e bom tom, diziam para todos:

Este tal de comercio justo, alivio à pobreza e os pés de desenvolvimento sustentável são blefes para a humanidade.

 

E assim, por ironia da História, as minhocas tornavam-se protagonistas deste tortuoso processo social regressivo. Substituíam-nos, ao nos defender de nós mesmos, bem como dos álibis do retroliberalismo..

 

Reiteravam que as manivas e tubérculos do plantio sustentável, assoreavam o açude, envenenavam a água, eliminavam caçotes, piabas e cururus de Campina Grande.

 

Irredutíveis, as minhocas de Bodocongó desmontavam, dia a dia, os alicerces de concreto, os prédios vazios de professores, os enormes estacionamentos financeiros, as verbas do CNP3, as recomendações da CRAPEZ e as contas bancárias dos pés de sustentabilidade.

 

Então, o assédio e as tentativas de cooptação tornaram-se mais incisivos.

 

Convidaram as minhocas para se candidatar à Prefeitura de João Pessoa.

 

Por meio de uma coligação sebosa, articulariam o Partido Verde e Amarelo com o Partidos dos Carecas da Ambigüidade. Obteriam o apoio de meia dúzia de  ecosenhoras paulistanas, de quarenta e três peruas cravejadas de ouro, de meio quilo de esterco, além do Partido Republicano, dos EUA, e dos Democratas da Oligarquia Maia, integrada pelo Prefeito Maluquinho, pelo saudoso Tim Maia e pelo famigerado Agripino Asqueroso Maia. Porém, as minhocas não cederam.

 

Sugeriram que se tornassem afilhadas de botox ou Palox. Pudessem

gozar de benefícios fiscais e de aleivosias, mas nenhuma minhoca se dispos a mentir ou trair. Nem uma, nem duas vezes.

 

Convidaram-nas para ocupar o Ministério do Meio Ambiente. Porém recusaram terminantemente o contágio com Brasília. Eram apenas açudistas. Desconheciam os meandros do asfalto árido, as tramas palacianas e os pressupostos do ambientalismo negociável com EiKe Peruca de Cinqüenta Mil Dólares e Trezentas Mil Devastações Batista e as ONGs a favor dos desmatamentos sustentáveis.

 

Inflexíveis, as minhocas foram chamadas à presidência do Banco Central.

 

Prometeram juros baixos na compra de bijouterias e minhocários com energia de verbas alternativas. Trouxeram à mesa as flutuações de dólares para saciar a fome de possíveis  minhocas trânsfugas do açudismo. Contudo nenhuma minhoca renunciou aos seus princípios ou veleidades bodoconguenses.

 

Apelaram a banqueiros para que reduzissem o pesado ônus do alívio à  pobreza e a elevada taxa de remuneração do capital. Não houve acordo.

 

Apressaram-se em oferecer-lhes a direção das Fundações Ford, Rockeller, da Atecel e, se possível, alguma nomeação para o Big Brothers  Hospital Universitário.

As minhocas mantinham-se inabaláveis.

 

Foram indicadas para a Presidência do Banco Mundial, para integrar comissões de avaliações de trabalhos e professores ausentes, de projetos heterossustentaveis e homodesfraldáveis  ,porém recusaram gentilmente a indicação.

 

Tentaram sensibilizar a UNESCO, para que gerenciassem o novo Programa de Plantação de Minhocas Biosustentaveis, sob os auspícios da CIA, do CNP3 e de Barack Obama, mas as minhocas de Bodocongó declinavam de todo convite.

 

Rechaçavam toda tentativa de cooptação efetuada pelos mais elevados conselhos da Cúria de Cientistas Dogmáticos, dos Magna Micos Colegiados da Fé contra a Razão, da Mão no Bolso contra os Apelos da Consciência e dos renomados Círculos de Defesa Interesses Comuns da comunidade acadêmica.

 

Ativaram a Associação Internacional de Autolegitimação de Pilantras, Pesquisas e Pesquisadores Fajustos, porém o esforço foi inútil.

 

Infrutífero, também, foi o apelo do camarada Lula.

 

As minhocas de Bodocongó queriam, apenas, ser redundantes. Ser humildes minhocas, parceiras de caçotes, piabas e cururus para combater o assoreamento do velho açude de Bodocongó, provocados pelos pés de desenvolvimento sustentável.

 

Pretendiam manter a independência de pensamento e a isenção crítica, para prosseguir em seus questionamentos, como simples minhocas.

 

Persistiam dignas, sem transigir com a imoralidade ética e sustentável, sob os auspícios do nosso conhecido e querido erário púbico.

 

E assim suplantaram os heróis do trabalho alheio, os camelôs de currículos forjados, os campeões de recomendações do CNP3 , os roçadistas de verbas públicas, os etnocêntricos de círculos de interesses privados e os expoentes da mentira indisfarçável.

Sem nenhum resquício de orgulho, as minhocas de Bodocongó não esmoreciam.

 

Quando cruzavam pelas ruas de Campina Grande com timbus, jegues e homens incautos, repetiam à exaustão:

 

Os pés de desenvolvimento sustentável são, apenas, conversas para boi dormir.

São manivas que não ofendem às moças e tampouco nos proporcionam um bom  caldo.

 

E assim, as redundantes  minhocas Bodocongó mostraram-se muito mais proficientes, ativas, virulentas e eréteis do  que as fictícias  manivas dos pés de desenvolvimento sustentável do Banco Mundial.

 

 

Wagner Braga Batista é professor aposentado da UFCG


Data: 21/12/2010