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Artigo - Tempo do perdão e da cura

Hiran de Melo

 

O perdão, quando bem compreendido, é um instrumento de cura. Freqüentemente ficamos doentes porque não perdoamos e o rancor e a cólera nos corroem o fígado e os rins. A questão é como manter juntos o perdão e a justiça, (...) o olho da verdade e o olho da misericórdia.” - Jean-Yves Leloup

 

Quando se aproxima a noite mais longa do ano no hemisfério Norte, as luzes de todas as tendas se acendem e as famílias festejam a proximidade do domínio do sol e da vida.

 

Noite de velas acessas, de palavras meigas, de comidas deliciosas. O que se tem de melhor é oferecido. Em muitos a hospitalidade renasce. No céu as estrelas sorriem.

 

Os que possuem vitórias comemoram agradecidos ao Ser a boa sorte recebida. Os demais se enchem de esperança e agradecem ao Ser a futura graça que haverão de receber.

 

A graça repousa no reconhecimento de que o Ser se fez criança e assumiu a condição humana. Precisou dos cuidados da mãe, da proteção do pai e se fez menino, brincou e sorriu.

 

Amou a todos nós e se revelou nosso irmão. E assim, em qualquer situação que estejamos - de alegria ou de sofrimento - poderemos erguer os olhos para o céu e agradecer a nossa condição de filho de Deus.

 

Derramou tanto amor que causou desconforto nos Doutores da Lei. Para eles a misericórdia tinha dia certo para ser oferecida, e estava condicionada a um julgamento. Para o nosso Irmão não há como julgar. Todos são merecedores do Perdão do Pai. Para tanto é necessário tão somente que se volte para Ele e se reconheça filho no Filho.

 

O homem é incapaz de perdoar, já ensinavam os Doutores da Lei. Esta é uma prerrogativa do Ser. Diante deste ensinamento só haveria duas escolhas: reconheciam a divindade no Irmão ou o condenavam à morte.

 

Os Doutores da Lei - que apreciavam os sacrifícios de cordeiros inocentes no Templo Sagrado ao Deus Único - escolheram oferecer ao Irmão a justiça do império. E este, sem saber como julgar, devolveu ao povo a prerrogativa: o mensageiro da guerra ou o da Paz. Conhecemos a escolha e sabemos que se deu no tempo da festa sagrada.

 

E o Cordeiro de Deus foi elevado de braços abertos. Nesta dolorosa posição ouviu a prece do criminoso arrependido erguido ao  seu lado, e lhe garantiu hospedagem na casa do nosso Pai. Depois, entregou o seu destino nas mãos de quem sempre confiou.

 

Lembrar a morte no dia de celebrar a vida é um escândalo para os Doutores da Lei, mas é muito simples e natural para quem acredita no perdão do Pai e na ressurreição do Filho como o caminho.

 

É verdade que não posso perdoar a quem me faz o mal. Concordo com os Doutores da Lei, não possuo esta prerrogativa. Há antes a necessidade de expressar o sofrimento pelo que estou passando.

 

Concordo com o mestre Jean-Yves Leloup que é necessário começar sempre pela justiça, exigindo que seja reconhecido o mal que foi feito, o inaceitável de certas situações e de certas violências. Todavia, posso orar ao Pai para que Ele perdoe o malfeitor. E assim o faço. De acréscimo recebo do Pai a cura do mal.

 

Quando se aproxima a noite mais longa do ano, as luzes de todas as tendas se acendem e as famílias festejam a chegada do domínio do sol e da vida, agradecido estou e desejo a todos os seres tudo que há de bom e belo.

 

 

Hiran de Melo é professor associado II da UFCG


Data: 22/12/2010