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Artigo - O grande movimento ecumênico e o a nova seita dos absenteistas do serviço público

Wagner Braga Batista

 

 

Em nome da liberdade de pensamento e de culto em instituições públicas e laicas, uma consistente  campanha ecumênica foi deflagrada por amplo contingente de servidores.

 

Identificados com as liberdades civis e a função social do serviço público estimulavam que todos professassem seus credos e convicções sem preconceitos, discriminações e constrangimentos.

Está prática seria o coroamento de um longo processo que punha fim ao obscurantismo e ao constrangimento da livre organização e manifestação de servidores públicos.

 

Esta feliz iniciativa, rapidamente ganhou corpo.

 

Em consonância com o caráter e os objetivos do serviço público, resguardava a instituição de atrelamentos coercitivos e de formas de instrumentalização perniciosas, que submetiam servidores a uma única maneira de pensar e agir, bem como a prepostos do poder imediato para promover a cooptação e  o clientelismo.

 

Graças a esta iniciativa que todos externavam livremente suas idéias e procuravam ser coerentes com seus propósitos em defesa e da melhoria da instituição pública.

 

O movimento encontrou adeptos em todos locais e angariou apoio de prosélitos de diferentes ideologias, correntes de pensamento e grupos confessionais.

 

Católicos, comunistas, espíritas, agnósticos, evangélicos, social-democratas, umbandistas, budistas, ateus, muçulmanos, enfim abriu-se a todos credos e convicções sem distinção de qualquer natureza..

Para formalizar este amplo espectro de adeptos de cultos e organizações políticas, foram identificados e arrolados os praticantes de todos os credos e convicções.

 

Com o estatuto de uma amplo movimento ecumênico, irmanaram-se na defesa da liberdade de manifestação, na luta pelo fim dos preconceitos, de estigmas, de anátemas, de discriminações e de segregações de qualquer  natureza.

 

O crescente envolvimento e comprometimento de todos militantes políticos e praticantes religiosos com a defesa dos direitos civis, lançou luzes sobre o descrédito a que vinha sendo submetido o prestimoso serviço publico.

 

Coerentemente todos se uniram para reverter esta imagem, os desgastes sofridos e resgatar a importância social dos serviços públicos. Resolveram, então, incorporar à defesa das liberdades civis, a consigna da valorização e soerguimento do serviço público.

 

Esta unidade de ação, tão expressiva, contou com a adesão de liberais,  saudada por todos.

E, rapidamente, o movimento contribuiu para a melhoria da qualidade do atendimento à saúde e à educação pública. E como resultado houve o pronto reconhecimento da população.

 

Neste diapasão, a campanha ganhava novos contornos e adquiria amplo apoio social. Todas as forças vivas da sociedade emprestavam solidariedade ao amplo movimento pela valorização e pelo soerguimento dos serviços públicos de qualidade, bem como pelo fim dos preconceitos e discriminações religiosas e ideológicas.

 

Todos os servidores públicos, comprometidos com esta ação, sentiam-se honrados e gratificados..

Dia a dia, o movimento crescia. Consolidava-se em todas as instituições públicas.

 

A nova consciência ganhava novos contornos e espaços.

 

Graças a pressão da sociedade, o serviço público expandia-se, melhorava e os servidores obtinham remuneração mais justas.

 

Em praças, estádios de futebol, espetáculos musicais, feiras populares, eventos técnico-científicos, o movimento ganhava corpo. Esbarrava apenas nos jardins paulistanos, na bolsa de valores, nas fronteiras de terras improdutivas, na propaganda enganosa de empresas de telefonia e nos guichês de instituições financeiras privadas comprometidas com o desenvolvimento sustentável.

 

Passados alguns meses, o movimento estendia-se a outros paises latino-americanos, africanos e asiáticos. Imprimia nova feição à globalização passiva, subalterna e dependente do mercado.

 

Tudo ia bem, eis que de repente....

 

Um inusitado agrupamento confessional surge no cenário.

 

Reivindicava reconhecimento e inserção nas fileiras do movimento ecumênico. Queria se incorporar a este amplo espectro de militantes das liberdades civis, de credos religiosos e convicções politicas.

 

Tratava-se de uma nova seita que vinha à luz. Chamavam-se Absenteistas de Instituições Públicas. 

 

Tinham como profissão de fé o descaso com o público, defendiam a crença na burla aos compromissos, na falta ao serviço e na irresponsabilidade permanente. Adotavam como rituais a mentira, a leviandade e a cizânia , enete. a neglicencia com freqüente falta ao serviçoo direito de faltar ao serviço, proclamavam a liberdade de não cumprir com seus deveres e burlar contratos de trabalho.

 

Depois do cisma provocado pela influencia retroliberal, a seita guiava-se por orientações diametralmente opostas,.

 

Havia Absenteistas Empreendedores Privados, que idolatravam seus negócios privados, e como contraponto, os absenteistas nada fazedores, que adoravam toda sorte de ócio indivudual, todo prazer restrito, toda empulhação bem armada e alegavam que a realização do serviço público era contra seus princípios s, profanava suas mais lidimas crenças na falta ao emprego e o desrespeito freqüente à população.

 

Para respaldar o reconhecimento, alegavam ter adeptos em quase todas instituições públicas. Numa inquestionável demonstração da quantidade de adeptos,  apresentaram listas de nomeações ilícitas, de integrantes confessos de oligarquias, de servidores não concursados, de apadrinhados de parlamentares, de sobrinhos de senadores e apaniguados de prefeitos e governadores.

 

Como autênticos militantes do interesse privado no serviço público, agregaram editais de famílias cadastradas na Bolsa parlamento, certidões de nascimento de empregos reconhecidos no Judiciário e carteiras de identidade de indicações fornecidas pelo Executivo. Acrescentaram  títulos de propriedade de sinecuras em Brasília e não esqueceram as imprescindíveis fichas policiais, para comprovar que eram devotados a toda sorte de sacrifícios, de mulambagem  e de sigilo em defesa dos amigos.

 

Além da certidão de batismo no peculato, levaram contracheques para provar que faziam jus aos serviços prestados e eram devidamente recompensados pelo silencio.

 

Apresentaram sua alta hierarquia eclesial, composta de juizes, professores, jogadores de pôquer, empresários de casas de tolerância, mágicos das quartas-feiras, magistrados de quintal, jovens amantes de senadores e de aposentados da probidade, pensionistas de fins de semana, maridos de ecosenhoras paulistas e um amplo rol de ilustres Suas Excelências, Suas Majestades, Seus PhDs e efemérides de todo tipo, além de eventuais agregados, a exemplo de pobres moradores de várias CPFs de aluguel, bem como de ilustres donos de profissões não catalogadas no CBO- Cadastro Brasileiro de Ocupações.

 

Os incontáveis absenteístas de instituições públicas tinham se distribuído geográfica e  estrategicamente acima de todas as convicções políticas e credos religiosos., Tantos eram, que não se podia ignorar sua capacidade de intervenção e de abstenção nas instituições públicas.

 

Havia absenteistas radicais ou ortodoxos que não compareciam às instituições publicas em hipótese alguma. Outros, os absenteístas moderados, eventualmente compareciam ao serviço e se dispunham a dar uma aula ou atender algum caso grave no SUS. Neste agrupamento, havia absentístas de segundas e sextas-feiras, bem como os mais fervorosos que faltavam ao trabalho todos os dias e só compareciam para receber comendas, gratificações, convites para representações, diárias para o dia seguinte, passagens aéreas e naturalmente o merecido salário.

 

Diante deste relato, o amplo movimento ecumênico em defesa das liberdades civis e da melhoria do serviço público, viu-se num impasse, uma vez que exerciam, fielmente seu credo, na administração e nos sindicatos.

 

Como lidar com esta situação vexatória?

 

O que fazer com os proeminentes absenteistas que ocupavam funções estratégicas no serviço público?

 

Dada a natureza democrática do movimento ecumênico, todos optaram pela realização de uma ampla consulta aos integrantes de credos e de correntes de pensamento, precedida de intensa mobilização, debates e formulação de propostas fundamentadas para que se chegasse a uma posição balizada e critica.

 

Com base neste amplo processo de mobilização e de discussão, o movimento ecumênico se pronunciaria. Sem renunciar à valorização do serviço publico e à educação pública e gratuita de qualidade, opinaria sobre o que fazer com os adeptos do absenteismo ortodoxo e do absenteísmo, puramente faltoso, instalado nas instituições públicas.

 

E aí?

 

Comprometidas com o detino da humanidade, as minhocas herbívoras do Açude de Bodocongó foram chamadas a se pronunciar.

 

 

Wagner Braga Batista é professor aposentado da UFCG


Data: 27/12/2010