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Cursos no Brasil atraem estudantes estrangeiros

Alunos querem entender as diferenças culturais e a maneira de fazer negócios em um país onde esperam trabalhar e estreitar laços.

 

Um americano e um brasileiro se encontram para discutir um negócio. Após esperar por 20 minutos a chegada do brasileiro, o americano faz uma apresentação em PowerPoint, demonstrando os passos necessários para a execução do negócio. O brasileiro fica um pouco perplexo. Diz que prefere partir direto para o negócio, mas não antes de levar o amigo americano para um almoço.

 

Entender diferenças culturais como esta é muito importante para se fazer negócios no Brasil, afirmam diretores de programas de MBA do País. Isso significa ensinar um número crescente de alunos internacionais sobre como décadas de uma inflação desenfreada e crises cambiais deixaram os brasileiros desacostumados com o planejamento de longo prazo, ou permitir que os estudantes vejam, por eles mesmos, a importância do relacionamento com os colegas.

 

Os Bric - Brasil, Rússia, Índia e China - vêm recebendo estudantes ávidos por conseguir um MBA ao mesmo tempo em que mergulham na cultura do País onde esperam trabalhar ou formar laços de negócios. As matrículas para cursos de MBA no Brasil estão aumentando. O porcentual de estrangeiros classificados pelo Gmat para o País aumentou de 8,3% em 2006 para 20% em 2010.

 

Embora a maioria desses estudantes já esteja vivendo no Brasil, um tipo diferente está surgindo: diplomados que fazem parte da elite de universidades internacionais que vão ao País para se especializar em uma das economias mais promissoras do mundo. "Eles já acumularam experiência na Europa ou nos Estados Unidos e agora querem se aventurar num território não explorado", afirma VanDyck Silveira, diretor do Ibmec. Hoje, dos 5 mil alunos de MBA do Ibmec, 600 são estrangeiros.

 

A decisão de fazer um MBA no Brasil é uma aposta. Não porque a qualidade dos cursos seja necessariamente inferior, e sim pelas peculiaridades do setor. O MBA brasileiro é quase que exclusivamente oferecido em meio-período, principalmente porque poucos locais podem disponibilizar estudo em período integral. Isso porque as altas taxas de juros tornam os empréstimos estudantis impraticáveis. Assim, o estudante internacional típico já trabalha no Brasil e opta por fazer o curso em seu tempo livre, com o empregador pagando uma boa parte das mensalidades. Um segundo obstáculo é o idioma: a maioria dos MBAs ainda é ministrada apenas em português.

 

Finalmente, o curso de MBA brasileiro é visto como uma versão leve do modelo americano. Isso porque o ensino de pós-graduação no Brasil é dividido em cursos lato sensu e stricto sensu, dos quais apenas os últimos são rigidamente regulados pelo governo. O MBA geralmente é considerado no Brasil como um curso de especialização em vez de um mestrado, caindo assim sob a categoria lato sensu. A única estipulação é que ele tenha no mínimo 360 horas.

 

"Raramente um MBA passa das 600 horas no Brasil, enquanto o programa de MBA normal nos EUA e no Reino Unido tem duração de aproximadamente 1.600 horas", afirma Ricardo Betti, um consultor em educação da MBA Empresarial. "Aqui, o MBA é mais como se fosse uma marca."

 

No entanto, com a influência do Brasil crescendo e mais empresários fazendo fila para aprender como os negócios acontecem no país, isso já começa a mudar. Escolas como o Instituto Coppead, do Rio de Janeiro, já têm programas de intercâmbio com instituições de ensino de várias partes do mundo. Ela é uma das poucas a oferecer um curso de dois anos em período integral. Além disso, recebe alunos estrangeiros de escolas como Wharton School da Universidade de Pensilvânia, por períodos de dez semanas duas vezes por ano,

 

Quando o Coppead começou a oferecer mais módulos ministrados em inglês, constatou que passou a atrair mais alunos estrangeiros. Este ano, 45 estudantes de outras partes do mundo estão participando do programa de intercâmbio, comparado a 35 no ano passado. "O Brasil está na moda, todo mundo quer vir para cá", afirma o reitor Kleber Figueiredo.

 

A Fundação Instituto de Administração (FIA), de São Paulo, lançou há três anos um MBA em período integral ministrado totalmente em inglês. Enquanto alguns dos alunos estrangeiros permanecem no Brasil após o programa de um ano, outros retornam para seus países para se tornarem especialistas em Brasil para bancos ou consultorias, afirma o coordenador James Wright. "Assim como a China, o Brasil é uma cultura de altos contrastes, onde as coisas não são bem definidas. Esses estudantes precisam aprender o jeitinho brasileiro", diz, referindo-se à habilidade notória dos brasileiros têm de fazer as coisas, que vai da inovação à ilegalidade.

 

Dê uma olhada nos currículos dos homens e mulheres mais poderosos do Brasil e você poderá pensar que ter um MBA nunca foi necessariamente a chave para o sucesso. Edemir Pinto, por exemplo, não precisou de um para ascender à posição de presidente-executivo da BM&FBovespa, a maior bolsa de valores da América Latina. No setor bancário, muitos dos diretores são engenheiros, uma herança dos problemas que o setor da construção do país sofreu na década de 1980, que levou muitos deles para o setor financeiro. Mas as coisas mudaram de lá para cá. "Um MBA é hoje o padrão. Se você quiser se candidatar para um bom cargo, provavelmente nem será escolhido para a primeira entrevista se não falar inglês ou não tiver um MBA", diz Armando Dal Colletto, diretor acadêmico da Business School São Paulo.

 

No entanto, a questão de onde conseguir seu MBA é ainda motivo de debates acalorados. "O tempo que se passa fora do País tem um certo valor. Para aqueles que têm recursos, provavelmente vale a pena", afirma Ricardo Spinelli, diretor executivo da FGV Management. Muitas companhias brasileiras tendem a favorecer candidatos com MBAs obtidos em universidades estrangeiras, simplesmente porque eles soam mais impressionantes. As companhias maiores, no entanto, geralmente adotam uma postura mais madura nas contratações hoje em dia. "Não se trata mais de uma questão de geografia", diz Admilson Garcia, diretor internacional do Banco do Brasil. "As boas companhias são capazes de averiguar a qualidade das universidades e há hoje instituições excelentes no País."

 

Patrícia Próspero, diretora de recursos humanos no Brasil da Zurich,, acrescenta: "Com a globalização esse preconceito hoje é menor. Já rejeitei muitos candidatos com MBAs obtidos fora do País porque eles não eram as pessoas certas para os cargos".

 

(Valor Econômico, disponível em Jornal da Ciência)


Data: 05/05/2011