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Tecnologia brasileira terá impulso com exploração do Pré-sal

Investimentos no setor devem atingir R$ 407 bilhões até 2014. Economistas do BNDES classificam o Brasil como a fronteira de expansão do petróleo no mundo.

 

As recentes descobertas de petróleo e gás na camada Pré-sal colocam o Brasil em destaque no mercado petrolífero mundial. Além de garantir um acréscimo de 60% nas reservas nacionais, a produção nos campos de Tupi e Iara movimentará diversos setores da economia, dará um impulso na tecnologia industrial brasileira.

 

Para começar a extração é preciso vencer uma série de dificuldades tecnológicas e logísticas. A camada Pré-sal está a mais de 6 mil metros de profundidade e a 300 quilômetros da costa sudeste. Além da alta pressão no fundo do mar que os equipamentos estarão expostos, é preciso perfurar 2 mil metros de crosta salina que protege o combustível.

 

Para a Petrobras, especialista em perfuração em águas profundas, a maior dificuldade é garantir a estabilidade das rochas da espessa camada de sal. Segundo o gerente do Programa de Capacitação em Águas Profundas (Procap) sobre desenvolvimento tecnológico, Orlando Ribeiro, estão em desenvolvimento técnicas e equipamentos para tornar a operação mais segura e viável financeiramente. "Perfurar uma camada como essa gera altas temperaturas que aliada à alta pressão faz com que o sal se comporte como um plástico que pode fluir e não permitir a continuidade da perfuração dos poços", explicou.

 

Investir em estudos para o desenvolvimento de técnicas e tecnologia aplicada é a solução para solucionar esses entraves. A primeira perfuração no Pré-Sal levou um ano para ser concluída ao custo de US$ 240 milhões. Os poços mais recentes que a Petrobras perfurou demoraram 60 dias e custaram, em média, US$ 66 milhões.   O secretário de Desenvolvimento Tecnológico do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), Ronaldo Mota, acredita que o potencial de exploração e a legislação que permite a participação empresas estrangeiras são garantias de que todos os setores da economia serão beneficiados.

 

"Diversas multinacionais já anunciaram que montarão centro de pesquisa e desenvolvimento no País. Os benefícios decorrentes da instalação dessas unidades são muito positivos", afirmou Mota. "Temos a possibilidade de transferência de tecnologias, a oportunidade para jovens engenheiros e pesquisadores, o aumento do registro de patentes e cooperação na mudança de cultura no que diz respeito à promoção de inovação desenvolvida no Brasil", enumerou o secretário.

 

De acordo com Mota, o processo de inovação que surge implica, além de novas tecnologias, máquinas e equipamentos, em mudanças incrementais, novas funcionalidades, bem como melhorias na gestão, novos modelos de negócios, associados à conquista ou criação de novos mercados.

 

Segundo a gerência do Pré-sal da Área de Exploração e Produção da Petrobras, com as tecnologias a estatal será capaz de reduzir os custos em até 45% quando comparado com as primeiras perspectivas. Para isso, foi montado um laboratório dedicado ao desenvolvimento tecnológico para a extração e produção de petróleo e gás.

 

O Centro de Pesquisas (Cenpes) é formado por um grupo de técnicos agrupados no Programa Tecnológico para o Pré-sal - Prosal. O trabalho deles é desvendar as formações geológicas e buscar soluções para uma operação até agora sem referências na indústria do petróleo.

 

De acordo com a estatal, o Cenpes mantém um modelo de parcerias com universidades e instituições nacionais de ciência e tecnologia, em Redes Temáticas e Núcleos Regionais de Competência, investindo hoje cerca de R$ 400 milhões.

 

Mercado bilionário

 

Os investimentos no setor de petróleo e gás da camada Pré-sal entre 2011 e 2014, segundo o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), devem atingir R$ 378 bilhões, sendo a Petrobras a responsável por 80% desse valor. A demanda por máquinas, equipamentos e metalurgia aumentará.

 

O economista da Área de Pesquisas Econômicas (APE) do BNDES, André Sant'Anna, classificou o Brasil como a fronteira de expansão do petróleo no mundo. "Estimamos uma demanda adicional de R$ 265 bilhões. Se incluirmos os demais setores produtivos, o comércio e a prestação de serviços o total é de R$ 407 bilhões em quatro anos", afirmou o economista.

 

Dados da Petrobras mostram que o setor de materiais e equipamentos será um dos mais exigidos. Para explorar os campos do Pré-sal será preciso comprar 42 mil toneladas de tubos revestidos, quatro mil quilômetros de dutos flexíveis e 940 mil toneladas de aço estrutural.

 

O valor do mercado

 

Os testes preliminares, realizados pela Petrobras em quatro áreas do Pré-sal (três na Bacia de Santos e uma na Bacia de Campos) permitiram estimar volumes potencialmente recuperáveis entre 10,6 bilhões e 16,3 bilhões de barris de petróleo e gás. Essa capacidade, se confirmada, pode dobrar as reservas nacionais que hoje são de 15 bilhões de barris. Para o volume recuperável se transformar em reservas, será necessário terminar o processo de avaliação das descobertas e aprovar, na Agência Nacional de Petróleo (ANP), os planos de desenvolvimento da produção.

 

Quanto à estimativa de produção, conforme o Plano de Negócios 2010-2014 da Petrobras, a previsão de produção em 2014 será em torno de 241 mil barris por dia e em 2017 será superior a 1 milhão de barris diários. A produção total da Petrobras, de petróleo e gás em barris para 2020, incluindo os campos do pós e do pré-sal e a produção do exterior, é de 5,4 milhões de barris por dia. Hoje, a produção total da empresa é de 2,6 milhões de barris por dia.

 

Essas estimativas não incluem outras descobertas da Petrobras no Pré-sal de várias áreas da Bacia de Santos, conhecidas como Carioca, Júpiter, Parati, Bem-te-vi e Caramba. A Companhia ainda não tem estimativas de volumes recuperáveis dessas áreas.

 

(Jornal da Ciência)


Data: 11/05/2011