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Artigo - Acesso à educação superior

Mário Araújo Filho

 

De cada dez jovens brasileiros entre 18 e 24 anos, apenas um faz curso superior, cerca de 10% desses jovens. Na Argentina são 40% e esse percentual é maior ainda em países do Primeiro Mundo. Conclusão: com essa defasagem monumental, precisamos urgentemente adotar políticas para superá-Ia. No acesso à educação superior estamos, de fato, bem atrás de países da América Latina e pior ainda em comparação com Europa e América do Norte. Mas, atenção: não precisamos usar estatísticas para agravar um quadro já suficientemente ruim.

 

Se 40% dos jovens argentinos estão no sistema de educação superior, é porque lá se adotou política de "acesso irrestrito", à custa de altíssimos níveis de evasão e repetência. E sob indicadores ainda melhores, como nos Estados Unidos, os percentuais podem ser ainda mais enganosos. Lá, em sua maioria, os jovens não estão matriculados em universidades, tais como consideradas no Brasil, com ensino, pesquisa e extensão - "indissociáveis", como reza a Constituição. Muitos estão em "cursos pós-secundários" e em outras modalidades do campo da educação superior. Isso "redime" o Brasil? Não. Nosso percentual (10%) é bem inferior ao de países vizinhos como Chile (20,6%), Venezuela (26%) e Bolívia (20,6%). Há inequívoca necessidade de ampliação do acesso da juventude brasileira ao ensino de terceiro grau.

 

Aprendi, estudando engenharia, que o bom equacionamento de um problema é "meio caminho andado" para sua solução. E isso significa encarar o problema em sua real dimensão, com dados confiáveis, condições de contorno apropriadas, consideração das variáveis envolvidas e dos seus pesos relativos. Dez por cento, apenas, dos jovens brasileiros, estão na universidade? É pouco, muito pouco. E qual deveria ser esse percentual? Cem por cento, como sugere o demagógico lema "universidade para todos"? É isso factível, realista, ou seria preciso indagar antes: todos os jovens querem, mesmo, ingressar em cursos superiores tradicionais, de 4, 5, 6 anos de duração? Ou prefeririam,caso tivessem essa oportunidade, cursos pós-médio mais curtos, educação tecnológica e profissional em outras áreas?

 

A LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional) permite, desde 1996, o oferecimento de "cursos sequenciais", que são cursos superiores de duração mais curta que os de graduação. No entanto, dirigentes e sindicatos da universidade pública brasileira (e parece que o atual governo também) têm "urticária" quando se fala dessa modalidade de curso superior. Descartando mecanismo desse tipo e subestimando cursos noturnos e educação a distância, fica difícil ampliar o acesso à educação superior no Brasil no ritmo que o desenvolvimento do país exige. E ainda há a variável qualidade, sem a qual tudo o que for feito será enganação.

 

Aí estão as primeiras consequências de uma expansão desordenada das universidades públicas e particulares no Brasil. Por falta de planejamento na criação de novos cursos e aumento excessivo de vagas nos cursos existentes, deparamo-nos agora com problemas de infraestrutura, física, laboratorial e de pessoal. E, agravando esse quadro, um grande contingente de novos alunos com lacunas expressivas na sua formação, trazida dos níveis de ensino médio e fundamental, o que leva muitos desses estudantes a abandonar os cursos.

 

Mário Araújo Filho, professor da UFCG


Data: 29/06/2011