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Artigo - Os cheiros de Belo Horizonte

Wagner Braga Batista

 

As madrugadas têm cheiros. Recendem às coisas das gentes e às coisas que não são privativas das gentes que, paradoxalmente, escapam das gentes e não sendo das gentes, são de todas as gentes.

 

Por isto, às vezes, durante as madrugadas, detenho-me nesta pequena varanda, onde exercito o olhar sobre Belo Horizonte adormecido. Insone, também fico à procura destes cheiros que só são de coisas, não são das gentes, mas são de todas as gentes. 

 

Exercito esta busca insone pelas as coisas generosas que se expressam por esta fina flagrância, que sem ser pertence, pertence a todas as gentes sensíveis.

 

Estas coisas que só se expressam pela suavidade da natureza, pelo vazio da madrugada, pelo sonho dos que dormem e pelo olfato dos que buscam a generosidade das coisas que têm cheiros e não são pertences.

 

Aqui em Belo Horizonte, aprendi que homens e minérios têm cheiros que os diferem.

Os homens cheiram o calor da suavidade, da sensibilidade e da generosidade.

Os minérios  fedem. Cheiram frio.

 

Ao frio que tem uma flagrância uniforme.  Aproxima e o distingue do minério. Estes dois, que são a mesma coisa. O minério e frio se pertencem, como se pertencessem ao mesmo cheiro e apenas a alguns homens.

 

E, por isto, tornam-se a mesma coisa: frio, minério e pertences de apenas alguns homens. São pertences de si mesmos e pertencem ao mesmo cheiro, que costumeiramente habita e suja cidades .

Mas as madrugadas, com sua multiplicidade de cheiros, recende não apenas  a este cheiro, mas, principalmente,  ao cheiro do amanhã.

 

As madrugadas têm cheiros.

 

Recendem às coisas da terra. Enraizadas no chão, que estão lá, mas a gente não vê e por isto não são pertences.

 

Entregam-se generosamente às buscas insones e aos que dormem.

 

Aqui a madrugada, além de cheirar o fim da noite e o nascer do tempo, cheira o cheiro da universalidade de todas as cidades construídas pelo suor dos homens.

 

Esta cidade não cheira unicamente Belo Horizonte.

 

Recende o cheiro dos amanhãs e de todos os homens que compartilham sua universalidade.

 

 

Wagner Braga Batista é professor aposentado da UFCG


Data: 04/05/2012