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Enem: justificativa para nota máxima fica fora do edital

Medida anunciada como uma das novidades deste ano na prova, no entanto, deve servir como orientação aos corretores do exame, segundo o MEC

 

Apesar de ter sido anunciada há dois dias pelo ministro da Educação, Aloizio Mercadante, como uma das grandes novidades do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) deste ano, a exigência de justificativa dos corretores para cada nota máxima dada em uma redação não consta no edital da prova, publicado ontem no Diário Oficial da União. O MEC também não detalhou no documento quais erros seriam aceitos em casos tidos como "excepcionais".

 

A medida foi divulgada como uma resposta à série de falhas das correções da prova mostradas pelo GLOBO em abril deste ano. O jornal revelou que redações de mil pontos (nota máxima) da última edição do exame continham erros graves de concordância e de ortografia, como "rasoável" e "trousse".

 

No entanto, não há nenhum dispositivo no edital que torne obrigatória a medida sobre a justificativa dos corretores. Questionado sobre a ausência da justificativa, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), responsável pelo Enem, informou que a medida constará nas orientações dadas aos corretores no momento do treinamento. Embora ainda não haja punição clara aos que não seguirem a orientação, o Inep disse que a fuga de suas diretrizes poderá acarretar desligamento do avaliador.

 

Entre as medidas anunciadas, consta no edital que redações com inserções deliberadamente indevidas serão anuladas. Além disso, foi reduzida de 200 para 100 pontos a discrepância necessária para a prova ser revisada por um novo corretor.

 

O professor de Língua Portuguesa Rodrigo Monteiro participou das correções de redação do Enem entre 2009 e 2011. Para ele, mesmo se for cumprida, as justificativas dadas pelos corretores serão "para constar".

 

- Teve vezes em que eu tive que corrigir 300 redações em um só dia. Você acha mesmo que um corretor vai parar todo seu trabalho para escrever uma justificativa e mandar para seu supervisor? E, mesmo se fizer isso, a justificativa vai ser aquela toda padronizada, só para constar - argumentou Monteiro.

 

Corretores são testados

 

A coordenadora de Língua Portuguesa do Colégio São Bento no Rio, Ana Paula de Barros Jorge, ressaltou que novamente ficou faltando clareza ao edital sobre as tolerâncias. Ela também questionou a preparação dos corretores que ainda não foi comentada pelo MEC:

 

- Além de um edital preciso, também era necessário saber como é a preparação dos corretores, se haverá mais corretores. É um número muito grande de provas e o problema da qualidade do processo gera essa insegurança no aluno em relação ao que está sendo cobrado - avaliou.

 

Ontem (9/5), o MEC revelou que os profissionais contratados para corrigir redações do Enem são avaliados com testes aleatórios. Sem saber, alguns dos textos que eles leem e avaliam já foram previamente analisados pelo MEC. Trata-se de um mecanismo de controle de qualidade para verificar o preparo do corretor. Como o MEC já sabe de antemão a nota que deve ser atribuída, essas redações cumprem apenas a função de avaliar o avaliador. Dependendo dos erros que cometer, o corretor pode ser excluído da banca.

 

A prática de testar quem corrige as redações do Enem com textos previamente avaliados era mantida em sigilo. O segredo foi revelado ontem pelo presidente do Inep, Luiz Claudio Costa, em audiência pública da Comissão de Educação da Câmara que discutiu os critérios de avaliação das redações no Enem de 2012.

 

O Inep repassa diariamente a cada corretor um ou dois envelopes com 50 redações cada, totalizando até 100 textos com origem variada, isto é, de alunos de escolas públicas e privadas, bem como de municípios com alto e baixo Índice de Desenvolvimento Humano. O instituto pagará neste ano R$ 3 por redação.

 

- Todos recebem, num pacote de 50 (redações), uma redação chamada ouro. É uma redação de que se sabe a nota, uma banca de especialistas, várias pessoas discutiram aquela redação. Então, se eu tenho uma redação, e o supervisor está observando, que eu sei que a nota dela é 800 e ele (corretor) deu 300, evidentemente ele é alertado e excluído - disse Costa.

 

Especialistas que participaram da audiência pública fizeram críticas ao sistema de correção, ao mesmo tempo em que reconheceram o esforço do MEC para corrigir falhas.

 

Um dos problemas citados foi o elevado número de redações para corrigir - 4,1 milhões no último exame -, o que dificultaria uma análise qualificada. O cansaço natural dos corretores seria um obstáculo natural, na medida em que esse profissionais acumulam a atividade de correção de textos do Enem com seus afazeres diários.

 

O exame deste ano será aplicado em 26 e 27 de outubro. As inscrições começam na próxima segunda-feira e vão até 27 de maio.

 

(Juliana Dal Piva / Leonardo Vieira / Demétrio Weber / O Globo)


Data: 10/05/2013