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Vestibular: licenciaturas estão entre os cursos menos procurados

Com salários baixos e condições de trabalho muitas vezes precárias, são poucos os jovens que se interessam pela carreira de professor. Os números dos vestibulares de grandes universidades do Brasil comprovam o desinteresse: os cursos de pedagogia e licenciaturas estão entre os menos procurados nas instituições de ensino superior brasileiras.

 

Na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), 466 pessoas se inscreveram para o curso de pedagogia no vestibular de 2013. Cursos mais tradicionais, como arquitetura e jornalismo, foram procurados por 1.706 e 916 estudantes, respectivamente. O desinteresse entre as licenciaturas é mais explícito: química teve apenas 62 candidatos, e física, 148. As licenciaturas em teatro e artes visuais são os cursos menos procurados na federal gaúcha: foram 49 e 55 inscritos, respectivamente. Na soma, as licenciaturas e pedagogia têm 23,43% do número de inscritos para o curso mais procurado na UFRGS, medicina, e correspondem a 4,05% do total de candidatos do vestibular.

 

Em outras universidades com conceito máximo no Índice Geral de Cursos - baseado na média ponderada das notas das graduações e pós-graduações de cada instituição -, a procura também é baixa: na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), pedagogia e licenciatura representaram 4,23% da procura por cursos no vestibular de 2013. Na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), corresponderam a 11% dos inscritos. Em instituições privadas, o cenário se repete: na PUC Rio, pedagogia teve 51 inscritos em 2013; as demais licenciaturas somaram 311 candidatos. Juntas, representam 3,12% dos inscritos no vestibular. A PUC de São Paulo divulga apenas a procura pelos cursos nos quais a relação candidato por vaga é superior a dois. No vestibular de inverno de 2012, houve 34 inscritos para 10 vagas ofertadas em pedagogia. Já na seleção de 2013, nenhuma licenciatura aparece na lista.

 

Para a coordenadora do curso de pedagogia da UFRGS, Tânia Marques, o grande motivo que afasta os jovens da carreira de professor é a remuneração. O piso nacional para uma jornada de 40 horas dos profissionais da educação é de R$ 1.567. No entanto, em 10 Estados o mínimo não é respeitado. "Os estudantes acabam buscando, no magistério, realização profissional, pois veem que o trabalho que exercem faz diferença. Mas, por mais que seja importante ter prazer no que se faz, é necessária uma valorização maior do profissional, até para atrair as pessoas", afirma Tânia.

 

Na opinião da coordenadora do curso de pedagogia da UFSC, Maria Sylvia Carneiro, falta vontade política para melhorar as condições de trabalho dos docentes. "Isso envolve salários, plano de carreira, formação adequada e manutenção da estrutura física", diz. Outra problemática, alerta, está no mercado de trabalho: "Há muita rotatividade em função das condições de trabalho. Nas redes públicas de ensino, lamentamos que não se aumente o número de vagas para professores efetivos, que podem construir sua carreira de uma forma digna. Ainda temos muitas vagas para professores substitutos, que enfrentam condições muito adversas, com contratos precários e sem garantia de continuidade". Para a professora, o contexto é reflexo da falta de planejamento a longo prazo para a educação. "Pense no investimento em formação continuada, no desenvolvimento de projetos pedagógicos. Em um ano, é um grupo de professores, no outro, não há garantia de que o grupo se mantenha", critica Maria.

 

Amor à profissão

 

O quadro, pouco animador no Brasil, se repete em outras partes do mundo. Uma lista da revista norte-americana Forbes de março deste ano colocou a profissão de professor como a quinta mais infeliz. Frente a isso, resta aos estudantes o amor à profissão. Tânia relata que seus alunos na UFRGS não estão ali por falta de opção, mas sim porque buscam realização profissional, acima do retorno financeiro. Maria vê, na UFSC, um desejo de transformação: "Eles desejam atuar de forma diferente daquela que vivenciaram em sua trajetória escolar", relata.

 

Germana Nery Machado, estudante de história na PUCRS, em Porto Alegre, conta que a vontade de cursar uma licenciatura surgiu da admiração que sempre teve por seus professores. "Quero fazer algo parecido, eles influenciaram minha visão de vida", diz. Para ela, a falta de compensação financeira não assusta. "Por falta de interesse de outros, não parece difícil entrar no mercado de trabalho", analisa, e completa: "Passar fome eu não vou". Sobre a baixa procura pelos cursos, ela comenta que, por mais que no início das aulas as turmas não estejam completas, com as chamadas adicionais todas as vagas são preenchidas.

 

Gabriella Amaro, que já cursou magistério e hoje frequenta aulas de história na PUCRS, também não se deixa abalar pela falta de retorno financeiro na carreira escolhida. "Temos que tentar fazer a diferença. A questão do dinheiro assusta um pouco, mas não pode prevalecer", resume. Ela já estagiou em três escolas, e considera o acesso ao mercado de trabalho fácil, já que há alta rotatividade. Eduardo Hass, colega de história na PUCRS, leva a parte da responsabilidade para o professor. Para o universitário, também deve partir do docente a iniciativa para fazer a diferença na educação. "Tem professor que ganha um salário muito alto para sua atuação em sala de aula", declara.

 

Eduardo, assim como Germana, Gabriella e outros mais, encontraram na carreira de professor um meio de fazer diferença no mundo.

 

(Portal Terra)


Data: 28/06/2013