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Artigo - O crepúsculo do macho

Hiran de Melo

 

"Uma revolução não é o mesmo que convidar alguém para jantar, escrever um ensaio, ou pintar um quadro... Uma revolução é uma insurreição, um ato de violência pelo qual uma classe derruba a outra"(Mao Tse Tung)

 

Pense em um doce riacho, cujas águas passam serenas e lânguidas aos olhos dos amantes. Sem perigos, apresenta-se politicamente correto respeitando seu curso e suas margens. Se for colocada uma pedra no seu caminho, não haverá problema. Ele se desvia gentilmente, contornando o obstáculo, e pedindo até licença pelo incômodo da sua presença natural.

 

Agora, imagine o que acontecerá quando, ao invés de apenas uma pedra, várias são postas em seu leito formando uma barragem. Nesta situação, dizem os físicos, apresenta-se a energia potencial em um crescente de intensidade.

 

Mas o riacho não está parado, encontra-se apenas barrado. E, pingo a pingo, outras águas vão chegando e assim empurrando as que ali se encontram paralisadas. Vão se acumulando, até um extremo onde não se permite mais as gentilezas. É confronto de forças.

 

Há como exigir que não haja destruição após aquela barragem ser rompida?

 

A atual juventude brasileira foi educada para ser um riacho gentil, criada sob o signo do feminino. Onde, inclusive, ser macho era considerado politicamente incorreto e qualquer atitude masculina era tida como machismo.

 

Nesse contesto, recalcaram o macho. E, nesse momento, em que ele se manifesta, é rotulado como excesso desnecessário, classificado como violento e chamado de vandalismo.

 

Não seria simplesmente um guerreiro reprimido que se apresenta?

 

Muitos dizem que nesses sete dias do “Movimento Passe Livre”, o Brasil mudou. E há um sentimento de aprovação geral das manifestações ditas pacíficas e uma desaprovação das que romperam as barreiras policiais.

 

Mas esquecem - de mentirinha - que toda manifestação começa pacífica, como um inofensivo riacho, e que a violência só se revela quando a energia do movimento (cinética) é convertida em energia potencial.

 

Além das visíveis barreiras policiais, outras devem ser rompidas – com a mesma força e intensidade igual – a exemplo, as barreiras ao desenvolvimento nacional, erguidas com os desvios de verbas, alicerçadas pelo falso moralismo e curadas na morosidade das investigações, dos julgamentos e das infinitas protelações ao cumprimento das penas (elas existem?).

 

Esta juventude foi educada a mostrar a outra face quando agredida, seja no Face ou seja na rua.  “Se baterem na tua face esquerda, mostra a direita!” e, sem posição ideológica, oferecer a esquerda, quando a direita for a agredida.

 

Qual a outra face mostrada por Jesus face aos vendilhões do Templo?

 

Vamos à fonte desse ensinamento moral religioso, entender se é uma lição de paz ou de guerra. O que fez Jesus? Disse: “meus irmãozinhos, vocês estão errados em ganhar dinheiro negociando na casa do meu Pai. Não façam isso, é errado” ou fez o pau cantar?

 

Dirão que foi o ato de sacrifício do Cordeiro de Deus que permitiu um grande passo à evolução da Humanidade. Todavia, há um esquecimento - de mentirinha - que sem a indignação manifestada de forma concreta, e violenta, por Jesus, naquele ato, os astutos políticos do Sinédrio jamais teriam exigido à morte do Salvador. E, consequentemente, sem querer, teriam promovido as condições para a Sua ressurreição eterna nos corações dos jovens.

 

Hiran de Melo é professor da UFCG


Data: 03/07/2013