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Artigo - Direita, volver ?

Wagner Braga Batista

 

As manifestações de rua, que se espalham por todo país, apresentam muitas facetas originais. Uma delas. As bandeiras coletivas foram substituídas pelas proclamações individuais.

 

Outras, nem tanto.

 

Refiro-me à ideía, bastante difundida, que se acabaram as fronteiras entre esquerda e direita. Sugere aos jovens que se formou um campo nebuloso e indistinto, no qual todos se equivalem. São portadores dos mesmos propósitos e desvios denunciados nas ruas.

Com isto, opções políticas tornam-se inevitalmente ilusórias e frustrantes, restando à  juventude, voluntariosamente, seguir em frente.

 

Para onde?

 

Quando procuramos, não há direções ou sentido sinalizados.

 

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No final do século XX abriu-se promissor espaço no mercado de idéias.

No meio academico, principalmente nas ciências sociais, o chamado estado da arte se afirmou pela originalidade de idéias excêntricas e inconsistentes que primavam pela negação de conhecimentos precedentes.  Plasmando a politica, a cultura, o mundo do trabalho, os sujeitos históricos, o conhecimento, as ideologias, entre outras diensões da vida societária em simulacros, estas idéias tornavam-se originais e rentáveis.

Incitavam à brusca mudança de paradigma.

Qual paradigma ?

O da vez. O novo. O mais rentável.

 

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É claro, a mudança de paradigma não foi gratuida e generosa.

Eméritos acadêmicos foram brindados com títulos,  comendas, assessorias, consultorias e cargos no governo.

Do alto de sua soberba, o principe dos sociológos concitava à adesão aos novos tempos, à uniformidade dos padrões de vida, ao livre mercado global, à redução dos gastos públicos e á minimização do Estado..

Deste modo, o apelo à racionalidade administrativa converteu-se no alibi para rebaixar e desqualificar a politica, a democracia e as entidades de representação populares.

O príncipe não se constrangia de promover o avesso do que havia professado. Declinando de seus compromissos intelectuais, asseverava:

-  Esqueçam-se do que escrevi!

Para celebrar alianças espúrias, que o conduziram ao governo, viabilizaram sua reeleição, avalizaram suas proposições, entre as quais, leis que restringiam ou eliminavam direitos sociais, não hesitava em colocar, no mesmo plano, legatários de partidos de esquerda e remanescentes do regime militar.

Não satisfeito,  advertia suas vestais:

- É preciso transitar pelas zonas de sombra para perceber os limites tênues entre a ética e o pragmatismo.

 

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Lia a mesma cartilha e rezava o mesmo credo dos apologistas do fim da História, das ideologias e dos sujeitos históricos.

O pensamento hegemonico, promotor da restauração liberal em cala mundial, deste modo, ascendia ao governo e ganhava envergadura na academia.

Assim sendo, nada mais oportuno do que se render às circunstâncias.

No Brasil, a social-democracia se articulara com alguns dos segmentos políticos mais retrógrados, enquistados em partidos de ocasião, para viabilizar a adêrencia ao Consenso de Washington, a integração passiva à economia de mercado mundial,  a soberania compartilhada, a desregulamentação de direitos trabalhistas, a desqualificação de movimentos sociais, a privatização de empresas  estatais, a transferencia de patrimonio público para corporações transnacionais e a perda da capacidade de intervenção estratégica do Estado.

Conveniências, circunstâncias e ocasionalidades tornaram-se parte de um repertório político e de um caldo de cultura amargo, que aprofundou o hiato entre o Estado patrimonialista e o povo. Entre a instituição universitária e seus integrantes.

Ainda hoje pagamos elevado preço por esta herança maldita.

 

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Lembremo-nos que esta nova  velha classe utilizou-se de um discurso de intenções, supostamente higienizador, que não distinguia aliados de esquerda e direita, para promover a maior transferência de patrimonio público realizada em todo período republicano.

Este botim foi celebrizado como privataria, fusão de privatizações fradulentas com apropriações ilicitas obtidas por pirataria.

Esta prática espoliativa teve amparo num arcabouço ideológico que apresentava as diferenças políticas como obstáculos para a promoção das chamadas diretrizes globais. Ou seja, o consenso fabricado. O consenso de Washington.

As diferenças entre esquerda e direita foram subsumidas pela busca da eficiência governamental, que inibia e suprimia indagações sobre o sentido e a destinação social deste  projeto político excludente.

A política foi desqualificada. E desqualificados políticos sentiram-se à vontade para fazer o que sempre fizeram: tratar de seus negócios escusos.

Neste contexto, a zona de sombras favoreceu a indiferenciação entre social-democratas e aliados de última hora. Posto que na sombra, todos os gatos são pardos.

A bem da verdade, ainda que com popósitos distintos, este estratagema foi reeditado nos governos Lula.

 

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Para o senso comum,  prevaleceu a lei das vantagens e a ética das conveniencias, o toma lá dá cá, a tese de que uma mão lava a outra. Ou seja, a bandalha geral.

Por meio destes expedientes, foram potencializadas inúmeras ações lesivas à democracia e à cidadania. O Estado e o espaço público foram tomados por circulos de interesses restritos que limitaram sua capacidade de promover políticas públicas, amplas, abrangentes e duradouras.

Porém, ideológos da restauração liberal não se restringiam a anunciar o fim da direita e da esquera. Alertavam que os embates políticos foram deslocados. Deram lugar a conflitos religiosos, que exigiam a militarização da política em escalaglobal e nacional.  (Samuel Huntington)

 

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Neste contexto, os referenciais políticos da esquerda e da direita, ardilosamente, foram subtraídos de cena. Tratava-se agora de se desvencilhar de convicções, tornadas obsoletas, bem como  de principios e de valores politicos para estimular um novo posicionamento. No qual a cidadania estivesse circunscrita à busca desenfreada de localização no inóspito mercado.

 

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Em nome da globalização, do livre comércio, da circulação de mercadorias, da desregulamentação de direitos, da depreciação  de sindicatos de trabalhadores e de movimentos sociais, lorotas foram inventadas, vendidas e disseminadas como grandes verdades.

Uma delas, o fim dos referenciais politicos e históricos que demarcaram significativas diferenças entre direita e esquerda.

A alegação de que o fim das ideologias suprimiu posições politicas diferenciadas parece-nos improcedente.

Estas diferenças tiveram origem na Revolução Francesa, em 1789.

Refletiam posições políticas divergentes de duas bancadas republicanas. À esquerda, os integrantes da bancada jacobina, eminentemente revolucionários, radicais e, sobretudo austeros, liderados por Robespierre. À direita, os girondinos. Liberais,, pragmaticos, ambiguos e oportunistas, liderados com Danton e Marat,

 

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A tentativa de apagamento de referenciais políticos não é inusitada.

No século XX tivemos várias iniciativas desta natureza. Viabilizaram a ascensão de forças conservadoras, originalmente apresentadas como alternativas a esta polarização.

Do fascismo de Mussolini à Terceira Via, encetada por Tony Blair, que se configurou como linha auxiliar das politicas externas norte-americanas na comunidade européia, há um conjunto de experiências bastante reveladoras.

Varios expedientes tem sido utilizados para mascarar posições e condutas da esquerda e da direita. foram utilizados com tal proposito. Entre eles , o dircurso que direita e esquerda se promuiscuiram em nome de negócios privados.

Importa notar, que postulações e práticas de esquerda e de direita não estão limitadas ao parlamento ou aos diferentes governos. São exercitadas voluntaria e conscientemente no dia a dia..

A tentativa de embaralhar estas ações e confundir possiveis beneficiários destes atos, não é gratuita. Ao se apagar campos de ação e  linhas divisórias entre a esquerda e a direita, abre-se enorme espaço de manobra para o oportunismo.

Privilegia-se a intervenção de agentes que renegam qualquer adesão, compromisso e responsabilidade com projetos coletivos para fazer prevalecer suas inconfessáveis inclinações individuaais.

 

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Convém lembrar diferentes  principios diretivos da diireita, a liberdade de iniciativas individuais, e da esquerda, a justiça e a equidade social.

Pois bem, cabe à juventude escolher seus caminhos.

Por fim, para os que querem  apenas seguir em frente, resta-nos fazer  duas ponderações:

Primeira. O andar cego, ainda que firme e retlineo,  pode culminar num abismo

Segunda. Quem não sabe para onde navega, não identifica os bons ventos.

A nosso ver, os bons ventos não sopram em direção à desfaçatez, ao oportunismo e ao golpísmo da direita.

Conduzem, todos nós, sem discriminações, à defesa do  aprofundamento da democracia e à ampliação dos direitos sociais

 

 

Wagner Braga Batista é professor aposentado da UFCG


Data: 10/07/2013