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Artigo - Evasão nas Universidades

Thompson Mariz


Em matéria recente de jornais, ficamos sabendo que as universidades públicas paraibanas vão fazer um mapa da evasão. Ou seja, vão fazer um levantamento dos alunos que desistem dos seus cursos superiores. O objetivo é encontrar soluções para o problema.

Muito bom. Toda ação nesse sentido, seguramente, é importante e servirá para entender e resolver problemas enraizados nas universidades brasileiras. O que ocorre, no entanto, é que, além desse tema ser recorrente, o tal “mapa”, salvo melhor juízo, já existe, mesmo que não esteja sistematizado no âmbito de cada instituição e, por conseguinte, no MEC. As Instituições de Ensino Superior (IES) têm esse mapa e sabem quais as causas, as consequências e as soluções.

Mapear as “razões” da evasão e “encontrar” as soluções para minimizá-las é um desafio não tão hercúleo, mas de fundamental importância, se não ficarmos apenas no mapeamento. As soluções nem sempre demandarão grande aporte de recursos. No entanto, sem uma reestruturação profunda dos projetos acadêmicos das IES e, em especial, de cada curso, sem reservas, é fato afirmar que pouco, muito pouco, resultará esse “mapa”. 

Vamos aos fatos. Como a cultura brasileira é bacharelesca – os jovens são induzidos desde sua tenra infância a ser “alguém” na vida, a ser “doutor” – a grande maioria dos alunos oriundos do ensino público, mal preparados pela Educação Básica, mas ansiosos para chegar à universidade, buscam a solução mais fácil: escolhem o curso com menos concorrência, mesmo que eles não saibam minimamente as atribuições da carreira escolhida. Os que obtêm êxitos se deparam com uma realidade brutalmente diferente da até então vivida no ensino médio. Para os calouros, não há um sistema orgânico de recepção, para explicar o que é uma universidade, como funciona e quais os direitos e deveres acadêmicos; se existem acomodações e assistência estudantil, se terá direito a residência universitária, a restaurante universitário gratuito, a uma bolsa de demanda social, se há assistência à saúde, enfim, se existe posto odontológico, entre outras tantas duvidas e incertezas.

Adiante, com o transcorrer do semestre letivo, sem nenhuma orientação e sem acompanhamento do seu desempenho acadêmico, suas carências (deficiências), atestadas nas baixas notas auferidas nos exames escolares, aliado à percepção de que não fez a escolha certa do curso, além dos problemas existenciais que todo jovem tem quando sai de casa para morar em outra cidade, vem, como consequência, como resultado: o desestímulo, a decepção, a raiva e o receio de voltar derrotado. Por fim, vencendo seus medos, vem o pior: a desistência, a evasão.


Assim, é acertado dizer: a evasão não é um problema apenas dos alunos, mas do modelo educacional em vigor que está assentado em conceitos que não valorizam o aluno.


É comum encontrar professores que, do alto da sua sabedoria, para não dizer ignorância, já no primeiro dia de aula, ao se depararem com uma sala com 50 alunos, se dirigem à classe, como primeiras palavras: “ainda bem que depois do primeiro estágio (primeiro exame) muitos desistirão”. Ou seja, para muitos professores, professor bom é aquele que reprova, sem falar que existem os que não gostam de corrigir provas. Aliás, bom dizer, o que mais existe nas IES brasileiras são professores que jamais foram preparados para o exercício da docência. Nas IFES o importante é ser doutor, como se o título conferisse ao seu detentor as condições necessárias e suficientes para ser docente e não pesquisador!

A monitoria, antes tão valorizada, hoje é terceira opção para o bom aluno. Primeiro ele quer uma bolsa de iniciação científica (isso lhe dá status), depois, não conseguindo, buscam uma bolsa de algum projeto, sob a coordenação de um professor. Os monitores teriam e têm extrema importância na diminuição da evasão, mas para isso é preciso valorizar essa atividade, inclusive torná-la atrativa, pagando uma bolsa de igual valor as demais existentes.

Oferecer turmas separadas no semestre seguinte para os que não lograram êxito, devidamente acompanhadas por especialistas, bem como ministradas por professores treinados para ministrar disciplinas para repetentes, certamente, é um caminho para diminuir os índices de evasão.


Oferecer boas condições de residência universitária, restaurante gratuito ou subsidiado, bons livros, bolsa de demanda social, acompanhamento mensal do desempenho escolar pelos Coordenadores de Curso, também são ações que poderiam, sem custos adicionais, ser implantadas para ajudar a minimizar a evasão.

Atividades lúdicas, atividades esportivas, atividades culturais, passeios são, certamente, ferramentas aducacionais disponíveis que muito ajudariam.

Bom, também, é registrar que os cursos de Medicina, Odontologia e Direito quase não têm evasão, enquanto os de Licenciaturas, sobretudo de Física e Matemática, são campeões da evasão.

Por fim, quis dizer, que as IES têm parte na responsabilidade das consequências (evasão), mas o responsável primeiro pelas causas é, seguramente, o sistema político, econômico e social implantado no País e a que estão submetidos os brasileiros (estudantes) do interior, bem como para os que moram nos estados periféricos e pobres e estudam nas escolas públicas. 

Abandonada, esquecida e relegada, nossa Educação Básica, fracionada nas suas competências pela LDB, deixando o Ensino Fundamental para os Municípios e o Ensino Médio para os Estados, não deixa de ser outra principal causa, já que é ela, a Educação Básica, que prepara os alunos que entram nas Universidades, Faculdades, Centros Universitários, Escolas Isoladas, enfim, numa Instituição de Ensino Superior – IES. 

Enquanto a Educação Básica não for federalizada, enquanto ela não for de tempo integral, enquanto os seus professores não ganharem 10 (dez) salários mínimos como piso salarial, enquanto os colégios não dispuserem de laboratórios de ciências, de informática, de línguas, de biologia, de química, de física e de matemática, bem assim de boas bibliotecas e áreas de desporto e lazer, haveremos, sempre, de falar em paliativos, buscando soluções para corrigir problemas de “consequências” vergonhosas, em decorrência de “causas” seculares, trágicas e não menos humilhantes.

Thompson Mariz é ex-reitor da UFCG


Data: 07/08/2013