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Artigo - Lembranças do Diretório Acadêmico 11 de agosto

Carlos Alberto da Silva 

 

 

Quando me engajei no movimento estudantil na Universidade Federal da Paraíba no ano de 1976, o Diretório Acadêmico 11 de Agosto  representava os estudantes universitários de todos os cursos do Campus II, localizados nas cidades de Campina Grande e Areia, entre eles, engenharia elétrica, engenharia civil, meteorologia, agronomia, computação, economia e sociologia. 

 

O 11 de Agosto, como era chamado carinhosamente pelo o conjunto dos estudantes do Campus II da UFPB, recebeu este nome em homenagem à data em que o Dia do Estudante é comemorado no Brasil.

 

Os primeiros anos da segunda metade da década de 1970 foram marcados pela retomada da luta pela democracia no Brasil. Nessa época, ocorre uma crescente politização da juventude universitária brasileira sob ameaça do Ato Institucional 5 (AI-5) instituído pelo regime militar no ano de 1968, cujo o objetivo era cercear as liberdades de expressão e organização do povo brasileiro.

 

O lema da época se resumia na expressão “estudantes é para estudar, trabalhadores para trabalhar e militares para mandar”. Nada de política. A juventude era forçada a ser alienada dos problemas e das soluções para o desenvolvimento econômico e social do Brasil. Nesse ambiente hostil, os estudantes universitários, em toda parte do país, não se intimidaram e foram à luta pelas liberdades democráticas e melhoria de vida da população brasileira. Fomos perdendo o medo e passamos a construir o futuro.

 

Naquela conjuntura política, o governo do General Geisel prometia uma abertura democrática lenta e gradual.  Foi neste contexto que os estudantes brasileiros tomaram a iniciativa de reorganizar o movimento estudantil e participar conjuntamente com setores democráticos e populares da sociedade brasileira na luta pelas liberdades democráticas no país.

 

No interior das universidades brasileiras e nas ruas ressoou o velho slogan: A UNE SOMOS NÓS, NOSSA FORÇA E NOSSA VOZ!

 

Os desafios foram tantos que enchiam nossos corações de alegria.  Quando me recordo daqueles velhos tempos, costumo parafrasear o compositor Ataulfo Alves, “nós éramos felizes e não sabíamos”, apesar de os pesares e das mordaças.

 

Ninguém ainda contou a história daquela juventude que ganhou as ruas pela redemocratização do Brasil a partir da segunda metade dos anos 70. Muitos tiveram vontade de pegar em armas, mas não pegaram, experimentaram novas maneiras de fazer política, inauguraram a nova república, entre outras proezas que merecem registro histórico.

 

Rememoremos alguns fatos que acho importante para entender a retomada do movimento estudantil na Paraíba e, mais especificamente, em Campina Grande.

 

O processo de reabertura dos Diretórios Acadêmicos e do Diretório Central dos Estudantes da UFPB ocorre entre os anos de 1975 e 1976, fruto de uma articulação de lideranças estudantis universitárias de João Pessoa, Campina Grande e Areia.

 

Lembro-me de alguns militantes do DCE, daquela época: Dutra, Anchieta, Barreto, Valter Dantas, Emanuel, Agamenon, Peninha, Romero, Edson, Marquinhos, Ieda, Neta, Soninha, Bertonho, Carlos Alberto, Valter Negrinho, Marcelo Grilo, Sérgio Botelho, Washington, entre outros que me fogem da lembrança. Análise da conjuntura brasileira como primeiro ponto de pauta gerava uma discussão interminável entre as principais tendências: caminhando, hora do povo,  refazendo e liberdade e luta.

 

Uma briga acirrada de qual seria a palavra de ordem que mobilizaria os estudantes: Abaixo à Ditadura! Ou Pelas Liberdades Democráticas! Ensino Público e Gratuito para a Maioria do povo Brasileiro VS. Ensino Público e Gratuito para a Classe Trabalhadora. Discussões homéricas.

 

As reuniões do DCE duravam horas, varava a madrugada, e na maioria das vezes aprofundávamos as questões deixadas em aberto nos bares ou nas casas de amigos ao som de Geraldo Vandré e da boa música popular brasileira. Caminhando e cantando. No terreiro lá de casa não se varre com vassoura, varre com ponta de sabre e bala de metralhadora, e por aí vai.

 

Dentro do Movimento Estudantil passamos a ser conhecido como o “Pessoal do 11 de Agosto”. Tínhamos as nossas especificidades e preservávamos muito pela unidade interna do grupo. Entre as lideranças de Campina Grande, Leimar e Reginaldo Leal (Nino), estudantes de engenharia elétrica, eram os mais experientes. O primeiro vinha do movimento estudantil secundarista e, foi diretor do Centro Estudantil Campinense em 1968, muito versátil nos argumentos e orador de primeira. Nino rigoroso em suas análises e firme em suas posições políticas, dirigiu o diretório acadêmico 11 de Agosto no ano de sua reestruturação, 1976.

 

Muitas contribuições para o fortalecimento do movimento estudantil em Campina Grande vinham de estudantes que se posicionavam na retaguarda, a maioria concluinte do curso de engenharia elétrica. Pedro Luiz, grande estrategista e disciplina revolucionária rígida, mas sem perder a ternura; o pessoal do kibutz: Edgar Braga, Ricardo Loureiro, Hiran de Melo, Paulo Curtição, uma república de estudante próximo a universidade, frequentada pela linha de frente do Diretório Acadêmico 11 de Agosto; Bené, militante cultural e artista plástico; Marcos e Moema; Alunilza (Ziza), boa conselheira; e tantos outros companheiros e companheiras que me fogem da lembrança.

 

Contribuições também vieram de professores progressistas preocupados com a democratização da universidade, melhores condições de ensino e com o desenvolvimento da ciência e tecnologia voltada para o povo brasileiro. Entre eles, me lembro de Roberto Siqueira, Mario Araujo Filho, Wagner Batista, Hermano Nepomuceno, Telmo Araújo e Clara, Ivan Rocha e Tereza, Fernanda Cecília, Rosa Tânia, Gutembergue Lira, Marcelo Agra, Dagoberto, João Tertuliano, Cabral da Física e João Menino de Mecânica.

 

Eu fui recrutado para militância estudantil juntamente com Emilia Correia Lima,  Antonio Felinto Neto (Pombal), Lamarck Bezerra, Sibele Padilha, Gorete do Cineclub, Anibal do Maranhão, Betinha namorada de Marinho, Socorro Japiassú e Noaldo da sociologia. Coube a nós tocar o barco.

 

Entre as leituras recomendadas para a nossa formação política, foram incluídas as obras: História da Riqueza do Homem (Leo Huberman); Princípios Elementares da Filosofia, escrita a partir das aulas de Georges Politzer por um de seus alunos na Universidade Operária de Paris; Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado (Engels). Já era um bom começo.

 

Os jornais alternativos muito contribuíram para nossa concepção da luta democrática e popular. Ainda hoje guardo muitas edições do Pasquim, Opinião e Jornal Movimento.

 

O Diretório Acadêmico 11 de Agosto já não existe mais. Cumpriu seu papel histórico de ajudar a criar os Centros Acadêmicos (CAs) proibidos pelo decreto lei – 477/69 que levou para dentro das universidades o AI-5, um dos principais símbolos da ditadura militar.

 

 O Diretório Acadêmico 11 de Agosto tinha a função assumida hoje pelo Diretório Central dos Estudantes da UFCG. Enquanto o DCE, pela natureza multi-campi da UFPB, funcionava como uma União Estadual dos Estudantes da Paraíba.

 

O Diretório Acadêmico 11 de Agosto ajudou, primeiramente, a criar o Diretório Acadêmico de Agronomia Jaime Coelho de Morais, sob a liderança de Geraldo Baracuhy, Xangai, Donato, Andorinha, Josias entre outros.

 

A primeira divisão do “11 de Agosto” ocorreu com a criação do Diretório Acadêmico Honestino Guimarães, entidade representativa dos estudantes de economia e sociologia, uma articulação de Pombal, Noaldo, Jonas, Antonio Pereira e outras lideranças.

 

Conjuntamente com a federalização da escola de medicina de campina Grande e a incorporação da Universidade Regional do Nordeste (URNe) pela UFPB, foram sendo criados os Centros Acadêmicos, representação por curso individualmente.

 

Como uma estrela “o 11 de Agosto” explodiu, levando consigo o Honestino Guimarães  e o Clube dos Estudantes Universitários (O CEU) - espaço cultural criado para os estudantes ouvir boa música, dançar, namorar, filosofar, conspirar contra governos e sonhar com revoluções.

 

A solução para a sobrevivência da historia do “11 de Agosto” depende da disposição de algum CA das engenharias assumir o nome. O candidato canônico é o CA de engenharia elétrica.

 

Ficaram as lembranças de tantos sonhos partilhados por um mundo melhor.

 

E como gostava de cantar, de saudosa memória, o camarada Lamarck Bezerra: “A história é um carro alegre, cheio de um povo contente, que atropela indiferente, todo aquele que a negue”.

 

E como nos ensinou o poeta campinense Bráulio Tavares: “Bom mesmo é viver de desafio, amar de improviso e morrer de repente” – três gêneros de cantoria de viola em negrito.

 

 

Carlos Alberto da Silva é ex-Líder Estudantil e professor da Unidade Acadêmica de Economia da UFCG

 

 


Data: 19/08/2013