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Artigo - Evasão nas Universidades II

Thompson Mariz



Afirmei em um artigo anterior que o tema evasão era recorrente e para não fugir ao dito retomo ao assunto para aprofundar um pouco mais sobre suas “origens”, tanto do ponto de vista dos aspectos externos quanto dos internos.

Primeiro, no âmbito dos aspectos externos ou das competências governamentais, é fato, os evadidos existem em consequência das políticas excludentes e seculares dos Governos.

Os evadidos são, em decorrência da realidade brasileira, majoritariamente: (1) pobres, (2) alunos oriundos da escola pública, (3) moradores da periferia das grandes cidades ou das regiões Norte e Nordeste, (4) não são alunos oriundos do ensino técnico, mas do ensino médio, que é propedêutico, e (5) escolheram um curso de graduação com baixa concorrência, de sorte a ingressar no ensino superior.

Segundo, no âmbito dos aspectos internos ou das competências das IES, os evadidos, majoritariamente, estão matriculados em cursos das áreas de ciências humanas e ciências exatas. Eles estão matriculados nos cursos de Administração, Economia, Filosofia, Sociologia e Licenciaturas Exatas, tais como: Química, Física e Matemática, embora alguns Cursos de Engenharia tenham altos índices de “retenção” e “evasão”.

Se for verdadeiro que a cultura brasileira é bacharelesca, então é razoável afirmar que os nossos jovens querem uma formação universitária, querem ser bacharéis ou licenciados, como se não houvesse uma alternativa para o emprego, a dignidade e a cidadania.

A Educação Profissional é pouco conhecida dos alunos e não é tão valorizada pela sociedade brasileira como deveria. Ela abrange cursos que não requerem comprovação de escolaridade para fazê-los; Cursos Técnicos, de nível médio, que são de excelente qualidade e já preparam os jovens para o primeiro emprego; e, finalmente, os cursos Superiores de Tecnologia, comumente chamados de Tecnólogos, que são de curta duração, de dois a três anos, em média, e todos focados no mercado trabalho, carente por bons profissionais.

Nos Institutos de Educação, Ciência e Tecnologia, que são herdeiros das antigas e excelentes Escolas Técnicas Federais, os índices de evasão nos cursos técnicos ou nos superiores de tecnologia, seguramente, são bastante inferiores aos das IES, públicas ou privadas.

Um dos motivos para explicar essa realidade é porque eles, os alunos de graduação dos Institutos Federais, vêm em boa parte dos próprios cursos técnicos dos Institutos ou do Sistema S, e quando eles não têm essa origem, para a felicidade e o sucesso nos cursos, eles se deparam com uma metodologia de ensino voltada para a profissão que o curso enseja. Sem a enormidade da carga horária fixada para os cursos das IES, que os sufocam, que os desanimam, que não permite que eles tenham tempo para estudar e que muito contribuem para que eles desistam. Descartado aqui as razões esposadas no primeiro artigo que trata do abandono a que são relegados pelas IES, sobretudo a federais (IFES).

O PRONATEC, diga-se e registre-se, é uma excelente ideia e um bom Programa de Governo. Como Programa deixa uma marca de sucesso e é bem vindo, sobretudo agora que o País precisa de profissionais técnicos de excelente nível, de sorte a acompanhar a demanda exigente por bons profissionais, mesmo com o baixo crescimento da economia brasileira.

Assim, voltando ao tema, é bom dizer, sem nenhum medo, prurido ou constrangimento: (1) universidade não é para todos, mas é para todos que a buscam e têm méritos para adentra-la; (2) a evasão não é um problema apenas dos alunos, mas do modelo educacional em vigor que está assentado em conceitos que não valorizam o aluno, o ensino de qualidade e nem a categoria docente; (3) a carreira docente deveria ser uma carreira de Estado, a exemplo de outras categorias de servidores públicos, como Juízes, Procuradores, Auditores, Policiais Federais, Diplomatas, entre outros; e (4) é absolutamente salutar exigir, por um ou dois decênios, investimentos de 10% do PIB para a educação, mas desde que eles sejam, majoritariamente, direcionados para a Educação Básica.

Finalmente, quem sabe, a utopia da federalização da Educação Básica não seja a solução, ou a revolução pela educação que tanto o Brasil carece e precisa; quem sabe não é chegada a hora de repensar e assegurar um modelo mais transparente de financiamento da Educação Superior Pública, sem prejuízo dos direitos assegurados pela Constituição Federal.



Thompson Mariz é ex-reitor da UFCG


Data: 26/08/2013