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Artigo - A esfinge que nos devora

Wagner Braga Batista

 

 

Enfrentamos uma situação limite.

 

Atualmente estamos perdendo a noção de tempo  e de espaço. Confusos,  algumas vezes ficamos sem saber se nos encaixamos dentro ou fora do mundo  virtual. Deste admirável mundo novo que sinaliza inúmeras possibilidades, mas sutilmente as restringe. Que promete liberdades plenas, mas nos mantém sob vigilia constante e nos coage. Que sugere acesso à cultura, mas a adultera e a conspurca. Que fala em respeito aos nossos direitos, mas os transgride em nome de seus negócios. Que se apresenta como plataforma de uma nova sociabilidade, mas rebaixa seus horizontes, subverte relações sociais, bem como valores e condutas que lhes são indispensáveis.

 

Diluiram-se os tenues limites que separam o real e o virtual. Podemos dizer que nos virtualizamos.  Aos poucos se transformam seculares relações presenciais em insólitas  mediações virtuais.  Ao sairmos de casa, pela manhã, ficamos em dúvida se nos dirigimos ao nosso vizinho ou ao seu imprevisto fake.

 

 Ao  olharmos no espelho, mantemo-nos perplexos.  Será que somos nós mesmos ou projetamos a imagem de  algum de nossos clones?

 

O mundo virtual nos confunde e nos agride. Desfaz a realidade na qual nos sentiamos mais adaptados e integrados. Elimina o indispensável compromisso com a manhã, saudar a vida que se inicia e, naturalmente, dizer bom dia aos que se aproximam.

 

O mundo virtual suprimiu a temporalidade do espaço e as horas do dia.

 

Perplexos não sabemos mais o que nos separa da realidade, posto que desconhecemos novas distancias que surgem e crescem dentro de nós..

 

 São muitas as distâncias e estranhezas frente a este novo universo no qual nos hospedamos.

 

Por meio de estratégias publicitárias, somos induzidos a criar incompreensíveis distancias. As distancias impostas por padrões de vida assimétricos, pela suntuosidade e pela inutilidade de bens que consumimos, pela artificialidade da postura que adotamos, pelas barreiras interpostas pela soberba e pela vaidade aderentes às marcas de produtos que ostentamos.

 

Somos levados a cultivar distancias sociais, aparentemente suprimidas geograficamente. Deste modo podemos nos sentir à vontade para nos aproximarmos de todos que nos cercam no mundo virtual, ainda que nos mantenhamos, convenientemente, distanciados destas mesmas pessoas no mundo real.

 

Somos levamos a crer que o mundo virtual concretizou a  promessa da aldeia global. 

 

Enquanto estratégias publicitárias festejam as realizações do mundo virtual, milhões de seres humanos são mantidos à distancia de direitos sociais elementares no mundo real. Deles também nos sentimos distantes, assim como cada um distancia-se de si mesmo no fantástico  mundo virtual.

 

Frente a monitores, olhando a tela de computadores, sentimo-nos igualmente afastados por curta distancia. Porém há enorme fosso social que nos separa uns dos outros. Supostamente estamos num mesmo domicilio, numa vasta rede chamada social.  Nesta rede mostramo-nos convidativos e solidários. Refutamos toda sorte de egoísmos,  desde que preservados nossos limites e resguardadas as devidas distancias no mundo real.

 

As distancias que nos distanciam, também nos distanciam do tempo presente. Dos dias e das noites consumidas em viagens intermináveis sem destino e horizonte por universos aparentes e intangíveis.  Quando mais avançamos neste universo virtual mais nos distanciamos de  objetivos primários no mundo real.

 

Ora, viajar é uma exigencia da alma, nos retrucam os internautas

 

Sem dúvida, ambientes virtuais nos permitem navegar por universos indescritiveis.  Neles pasteurizamos as horas, esquecemo-nos do calor do sol e da luz do luar. Confortavelmente acomodados em ambientes assépticos e climatizados, não respiramos o ar poluido das ruas, nem do suor dos que transpiram em transportes coletivos. Nestes universos imaginários as fantasias não comportam  vicissitudes e necessidades humanas. Navegamos na rede, desaprendendo  a botar os pés no chão. Desaprendemos os caminhos por onde passam e habitam homens reais.

 

Confortavelmente imersos no mundo virtual, apartamo-nos de dificuldades e exigências  do mundo real.

 

Num incessante e compulsivo monólogo com nós mesmos, somos levamos a crer na  interlocução com o outro, no entanto nos comportamos como ventriloquos. Fechados em nós mesmos, em redomas intransponíveis, em linguagem recorrente, em frases evasivas que nada nos dizem e em palavras herdadas da solidão.

 

 

Wagner Braga Batista é professor aposentado da UFCG


Data: 19/09/2013