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Artigo - A arte de tergiversar

Wagner Braga Batista

 

 

Muitas vezes. diante da iminência de fatos e de questionamentos incômodos, algumas pessoas se dão ao direito de sair pela tangente. Não oferecem respostas convincentes ou suscitam falsas questões para atender aos seus insólitos argumentos. Falam sobre abobrinhas. Tergiversam.

Temem por se expor e não oferecer respostas à altura do que seus ouvintes desejam.

O discurso de Dilma Rousseff  na abertura da 68ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas fugiu aos padrões historicamente adotados por representantes brasileiros neste fórum internacional. Podemos dizer que foi um divisor de águas frente a posturas precedentes, caracterizadas pela condescendência frente a abusos praticados contra a Nação e países da América Latina.

A política externa brasileira, salvo em curto período, no início da década de 1960, quando se autodefiniu como independente, manteve-se em fina sintonia com estratégias norte-americanas. Sem temeridade, alinhou-se, mesmo após o colapso da guerra fria, com diretrizes que a subordinavam a interesses alienígenas, pautando-se muitas vezes pela anuência a diretrizes emanadas de Washington.

Na década de 1990, durante o processo de restauração liberal, os três governos brasileiros empenharam-se em se mostrar confiáveis, incorporando estas orientações a sua diplomacia externa, bem como aplicando-as em políticas econômicas no país.

O consenso passivo implicou na adesão velada ao receituário econômico adotado em escala global, que se tornara hegemônico na América Latina, área de influencia norte-americana. As eventuais reações a este procedimento lesivo a interesses nativos,  localizadas na diplomacia brasileira ,resultaram em retaliações e remoções de integrantes do Itamarati, a exemplo do ocorreu com Samuel Pinheiro Guimarães, no final do governo FHC.

A integração passiva ao novo cenário, que se desenhava em escala global , conferia poder de polícia a forças intervencionistas norte-americanas e de obter informações confidenciais, por meio de espionagem eletrônica em todas as partes do mundo, consideradas necessárias a sua segurança interna.  Este consentimento tácito resultou em perda de credibilidade de países que embarcaram em algumas destas aventuras. 

No plano interno, a adesão ao chamado Consenso de Washington desdobrou-se na perda da capacidade estratégica de países que tiveram suas economias minadas pela privatização de setores dinâmicos e pela transferência de recursos públicos para grandes corporações transnacionais.

No Brasil, a adesão às diretrizes deste malogrado consenso, reproduziu-se na versão caricata da subserviência ensejada pelo ex-embaixador em Washington, Sr Rubens Barbosa, ao sugerir, então, que o Brasil deveria se ver como participe da soberania compartilhada.

A postura altiva, adotada por Dilma Rousseff frente à espionagem eletrônica norte -americana, depreciada por opositores como uma simples estratégia de marketing, constitui um divisor de águas  frente habituais omissões e mostras de subordinação de governos precedentes.

Desfigurada como manifestação de arroubo, consumou eloquente defesa da soberania brasileira frente a inadmissíveis violações de elementares direitos políticos de toda nação.

Contudo, os costumeiros mestres da tergiversação, cavam espaço para  exercitar sua arte.  Ao invés de se somarem às todas as forças que se indignam e denunciam esta afronta à soberania nacional, apressam-se a rebaixá-la ao nível de seus interesses mesquinhos.

Adeptos da incondicional subserviência política e da precedência das vantagens econômicas acima de todo e qualquer direito, alegam estranheza diante da postura do atual governo.

Em nome do pragmatismo econômico propõem a costumeira servidão do governo brasileiro. Alegam que Dilma Rousseff não deveria ter cancelado a visita aos EUA em protesto contra a prática da espionagem. Acrescentam que poderia ter confabulado reservadamente com Barack Obama,  responsável por estes atos ignominiosos.

Consoante com sua visão eminentemente mercantilista, assinalam que o cancelamento da visita e a repercussão internacional do pronunciamento na ONU ameaçam negociações em andamento. Sob este viés, conferem precedência à soberania dos seus negócios em detrimento da soberania da nação.

 O pronunciamento contrário à violação de direito políticos nacionais, perpetrada pela espionagem eletrônica realizada pelo governo norte-americano, não só alçou a postura do governo brasileiro no cenário mundial, como abriu um novo campo de articulações para países emergentes, insatisfeitos com ingerências patrocinadas pela política externa norteamericana.

 


Data: 26/09/2013