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Artigo - As virtualidades do Desenho Industrial

Wagner Braga Batista

 

O Desenho Industrial ou Design é uma atividade profissional que resulta da divisão social do trabalho oriunda da economia de mercado. É fruto da crescente especialização profissional exigida pelo processo de industrialização.

Com base neste pressuposto, a manufatura e a indústria induzirão a continua especialização de artesãos e desenhistas por meio de procedimentos empíricos transformando-os em projetistas de produtos manufaturados.

Podemos argumentar que a formação e a qualificação de profissionais desta área de atividades irá se viabilizar somente no século XX.

No transcurso da produção manufatureira à industrialização, em consonância com a transformação do papel social da ciência e da tecnologia em forças eminentemente produtivas, processos de geração de artefatos e projetos de produtos se beneficiarão de recursos técnico-científicos decorrentes da maior racionalidade impressa à produção e ao consumo de bens duráveis.

Atividade eminentemente técnica, o Desenho Industrial ou Design se consolidou graças à divisão social do trabalho que emerge do processo de industrialização. Ao longo deste processo o especialista em desenvolvimento de projetos de produtos para a indústria será beneficiário de acúmulos técnico-científicos capitalizados pela economia de mercado.

Esse projetista irá vivenciar a tensão provocada por tensões decorrentes do desenvolvimento econômico, bem como do confronto de tendências empiristas e críticas, relacionadas a sua atividade profissional e sua formação educacional nos anos recentes.

Historicamente, mostrar-se-á habilitado a promover a produção iterativa, a simplificação da forma, a padronização de produtos, a funcionalidade objetiva, bem como a ensejar a realização de valores simbólicos ensejados pela mercantilização de bens de consumo..

Ao longo do século XX, a racionalização da produção econômica e do desenvolvimento de produtos tornou-se o fundamento de uma nova cultura de projeto que fornecerá estofo teórico e operacional ao Desenho Industrial ou Design.

Permitiu que utensílios cumprissem devidamente suas funções técnicas e socioeconômicas. Contudo, a proficiência técnica também será empregada para gerar distorções na concepção e no uso de produtos.

Empregada de modo instrumental, a técnica tornou-se ambivalente, prestando-se ao aperfeiçoamento e a deformação de virtualidades de objetos e de imagens  típicos da cultura material contemporânea.

A recuperação da gênese do Desenho Industrial ou Design permite-nos destacar suas virtualidades, sua vocação histórica, assim como digressões decorrentes de sua apropriação instrumental pela economia de mercado.

A economia de mercado explorará potencialidades dos projetos de produto, viabilizará também a coexistência de tendências dispares inerentes a recursos técnicos e a apelos simbólicos de objetos e imagens decorrentes do desenvolvimento destes projetos.

Sob esse prisma, o Desenho Industrial ou Design será utilizado para aumentar a eficácia de produtos. Porém a eficiência não estará necessariamente relacionada ao valor de uso ou a funções substantivas da produção. Poderá ser auferida por meio da rentabilidade exigida pela economia de mercado.

No que tange ao Desenho Industrial ou Design, promessas do industrialismo não se concretizaram no inicio do século XX.

A perspectiva de racionalização da produção e do consumo de produtos industrializados bens desdobrou-se na crescente geração de bens obsoletos e descartáveis que induziram o consumo compulsivo, o desperdício de recursos naturais, a degradação de condições de vida e no comprometimento do meio ambiente. Indicadores da degradação social e ambiental são bastante reveladores de assimetrias socioeconômicas perceptíveis em escala mundial e local.

A economia de mercado, tampouco confirmou a capacidade demiúrgica do Desenho Industrial ou Design de plasmar formas igualmente funcionais e belas. Tampouco  promoveu a harmoniosa coexistência de valores na forma dos bens culturais e materiais.

Contraditoriamente, aprofundou o caráter dual de produtos.

Exacerbou a importância dos valores simbólicos para viabilizar e acelerar sua mercantilização.

Na condição de mercadorias, produtos afetos à intervenção do Desenho Industrial ou Design tiveram o valor de uso subordinado às sinalizações exigidas pelo mercado, pelas relações de troca.

A lógica controversa gerada pelo estimulo do consumo se impôs como móvel da  racionalidade instrumental aplicada à produção de objetos e imagens.

Deste modo, estratégias de produção revitalizaram antigas clivagens sociais por meio da produção e do consumo de bens duráveis.

Implementaram simultaneamente a sub-produção canalizada para camadas sociais emergentes e o refinamento de produtos destinados à elite.

As potencialidades técnico cientificas do Desenho Industrial ou Design não se materializaram necessariamente no desenvolvimento de projetos de produtos funcionais.

Em que pesem suas potencialidade, tendencialmente o Desenho Industrial ou Design foi absorvido pela lógica mercantil da economia de mercado.

 


Data: 27/09/2013