topo_cabecalho
Artigo - Economia verde: sustentabilidade, credibilidade e esperança nulas

Wagner Braga Batista

 

A ideologia da sustentabilidade se impõe como um novo consenso passivo. Habilidosos articulistas arremetem contra nossa consciência.

 

Indagam-nos: Quem pode ser contra a sustentabilidade planetária?

 

O uso da razão nos impede de ser contrários à devastação e à degradação socioambiental, porém não nos constrange de questionar a falácia de um modelo analitico que desenha um cenário inatingível no contexto da economia de mercado.

 

A sustentabilidade afirma-se como uma mitologia. Monta suas narrativas e representações para se afirmar como suporte ideológico de processo economico marcadamente insustentável.

 

A ideologia da sustentabilidade desenha um horizonte imaginário, mas não nos diz como alcançá-lo. Reporta-se a um modelo de desenvolvimento economico, uma construção teórica. Discrimina objetivos edificantes, mas não explicita os fundamentos e os móveis da economia na qual pretende lográ-los.

 

Este mito contemporâneo reproduz as sinalizações do progresso social, no transcurso do século XIX,  e do desenvolvimento economico, no período posterior à segunda guerra mundial. Os apelos progressistas e desenvolvimentistas aludiam à idéía do bem estar comum. Por meio da alusão mascaravam profundas desigualdades sociais,  subjacentes ao progresso material e ao desenvolvimento economico assimétrico.

 

Os propositos nominais, que apelavam à disseminação e à universalização dos beneficios socioeconomicos, sugeriam a harmonização de interesses e ocultavam o aprofundamento de  contradições sociais, decorrentes da apropriação e utilização restrita de recursos produtivos gerados por acúmulos técnicos.

 

No quadro atual, uma vez que a voracidade da economia de mercado agravou a devastação socioambiental, tornou-se necessário legitimá-la sob uma nova ótica. Sob a luz de um novo projeto de futuro.

 

A paradigma da sustentabilidade não cogita reverter os móveis da acumulação economica, mas isto sim torná-los palatáveis.  Isto porquê a superação da lógica predatória dominante implicaria no desmonte das bases em que se assenta a   economia capitalista. 

 

Os pressupostos da sustentabilidade, da economia verde, e seus desdobramentos críticos não têm como escopo se efetivar como alternativas à economia de mercado.  Afirmam-se como artificios ideológicos que legitimam, mascaram e viabilizam a dinâmica concentradora, predatória, espoliativa e excludente indispensável à economia de mercado.

 

Este novo consenso passivo implica na anuência a métodos e procedimentos questionados  pelo paradigma da sustentabilidade. Não há indicações tangiveis de como construir alternativas ambientalistas numa economia eminentemente predatória, conspícua, degradante e  excludente.

 

Trocando em miúdos, vamos destrinchar estes adjetivos.

A reprodução do capital exige a concentração de forças e de recursos produtivos. É essencialmente predatória porque acionada pela emulação competitiva. Requer a contínua destruição e renovação de tecnologias que lhe permita sobrepujar a concorrencia.

 

Caracteriza-se pela produção conspicua, sem excluir a produção em massa, por conta das limitações da elasticidade do mercado consumidor. Ao produzir bens sofisticados, de elevado valor simbólico para elites, alimenta-se do consumo superflúo e compulsivo, capaz de denotar poder e prestígio social aos seus usuários.

 

As estratégias de produçaõ e de consumo implemantadas para camadas de baixa renda são diametralmente opostas. Pressupõem a oferta de produtos obsoletos, pereciveis e descartáveis, que facultem a contínua aceleração do consumo do consumo de bens de baixa qualidade. Os que menos tem são aqueles que mais são induzidos a comprar graças a planejada depreciação material dos bens que  adquirem.

 

Estas estratégiasde produção e de consumo complementares induzem à continua redução da vida útil de produtos, sob pena da economia de mercado tornar-se refém de sua armadilha.

Não conseguir realizar, economicamente, as mercadorias que produziu, ver-se na contingencia de formar estoques de excedentes e inviabilizar o ciclo da reprodução capitalista.

 

Estes estoques de excedentes do mercado formam-se em duas esferas da economia.

 

Numa esfera, acumulam-se produtos descartados e, em outra, enormes contingentes de  homens alijados da produção. São potenciais trabalhadores alijados do mundo do trabalho pelas tecnologias excludentes. Pelos incrementos estartégicos que procuram aumentar a produtividade economica em detrimento da produçaõ da humanidade economica.

 

A economia de mercado instaura continuamente o desperdício de recursos. Ao deflagrar processos produtivos e ao defecho do processo de consumo de bens. Ao longo de seus ciclos prima pela  produção de  descatáveis, que degradam a sociedade e o meio ambiente.

 

Este é o entorno da sustentabilidade e da economia verde, que nos fazem crer palatáveis.

 

 

Wagner Braga Batista é professor aposentado da UFCG


Data: 23/10/2013