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Artigo - Marighela : os apoiadores da ditadura civico-militar no Brasil

Wagner Braga Batista

 

 

O Exército, a Marinha e a Aeronáutica transformaram-se na parte visivel, no braço armado do golpe de 1964 e da posterior sustentação miltar da ditadura.

 

Porém estas instituições não foram as únicas forças sociais envolvidas neste processo truculento, que iniciou com a deposição de Presidente da República e se desdobrou em sequestro, tortura e desaparecimento de opositores.

 

Atualmente, relatos e vasta documentação, que aos poucos se torna acessivel, revelam o comprometimento ostensivo e velado de grupos financeiros (Bradesco e Itau) , da midia oligárquica (Folha de São Paulo e O Globo), da indústria automobiística (Volkswagen), de redes de supermercado ( Pão de Açucar), de federações de indústrias (FIESP), de segmentos conservadores da igreja católica, de agências publicitárias, de organismos paramilitares ( Comando de Caça aos Comunistas- CCC, Tradição Familia e Propriedade- TFP, bem como, as milicias a serviço do latifúndio, que ainda atuam na atualidade), entre outras.

 

Estes agentes não atuaram voluntariosamente, por ímpeto ou movidos por convicções democráticas, como apregoavam, então. Via de regra, houve adesão consentida e beneficiada pelas graças do poder discricionário.

 

Grandes grupos economicos foram beneficiados pelo favorecimento discricionário, que serviu à consolidação de investimentos em vários setores de atividades.

 

O golpe militar consumou a escalada atentatória às instituições democráticas desencadeada desde conjunturas precedentes.  Estas ações contrapunham-se ao avanço dos  movimentos sociais, à defesa de direitos elementares e à crescente democracia, que ameaçavam seculares privilégios de elites retrógradas e patrimonialistas.

 

As irrupções, que precederam o golpe de 64, contribuíram para articular e acumular forças acionadas pela reação conservadora.

 

O suicídio de Getúlio, a insurgência contra a eleição de Juscelino Kubitschek e  as pressões após renúncia de Janio para inviabilizar a posse de João Goulart, constituem o preambulo do golpe que se desenhava.

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Apesar desta percepção, as forças conservadoras não encontraram resistência popular à altura de seu poder coercitivo e repressor.

 

O golpe civico-militar de 1964 tampouco foi um processo isolado. Inseriu-se em estratégia adotada em áreas de influência norte americana.  Com algumas especificidades, ocorreu em quase todos países da América do Sul e Central.

 

Instrumentalizadas por estratégias intervencionistas, estas forças pavimentaram o retrocesso político em nações emergentes. Transformaram a ação repressiva, instruida pela doutrina de segurança nacional, em política de Estado.

 

A retomada das lutas sociais, a gradativa conquista das liberdades democráticas, a luta contra o monopólio da imprensa e as denúncias das diferentes formas de censura e de intimidação da cidadania lançaram luzes sobre aparatos que deram sustentação à repressão politica nestes países.

 

Recentemente foi lançado o livro “Cuentas pendientes”, de Horacio Verbitsky e Juan Pablo Bohoslavsky, editado pela Siglo XXI.

 

O livro denuncia minuciosamente a cumplicidade de empresários e do alto clero argentino em sequestros, torturas, desaparecimento de opositores, bem como a sua conivencia com tramas, urdidas pelos autores de práticas sinistras, por meio da difusão de informações inveridicas.

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No Brasil a formação deste tenebroso bloco civico militar também resultou em crimes hediondos.

 

A centralização dos organismos de repressão em 1969  teve na Operação Bandeirantes- OBAN, um laboratório de ensaios dos  crimes que se seguiram.

 

Este organismo, financiado com generosas ontribuições de grandes grupos empresariais, oferecia espaço não apenas à prática da tortura e ao assassinato de presos políticos, mas também ao sadismo. Um dos casos emblemático configura-se pela ação de Hening Albert Boilensen, empresário dinamarques, naturalizado brasileiro, dirigente do grupo Ultragaz.

 

Boilensen e seus congeneres, patronos deste aparato repulsivo, graças à licenciuosidade e à depravação de seus componentes partilhava de perversas cenas de sevicias. Sentia-se honrado -e  gratificado - por presenciar a repugnante prática da tortura de militantes politicos.

 

Neste contexto, organizaram-se listas de militantes políticos com cabeça colocada prêmio. 

 

As premiações oficiosas eram pagas por empresários,  benemerentes do aparato repressivo.

 

Há 34 anos atrás, em 4 de novembro de 1969, na Alameda Casa Branca, em São Paulo, foi assassinado Carlos Marighella. 

 

Era declarado o inimigo público número um do regime militar. Seu assassinato foi festejado por parcela das elites conservadoras e pelos seus sequazes.

 

Após o golpe militar e sua prisão em 5 de abril de 1964, quando foi covardemente baleado dentro de um cinema no Rio de Janeiro, manifestava sua indignação com a passividade das forças de oposição à ditadura.

 

Posto em liberdade, em 1967, torna pública a perspectiva de organizar a resistência armada ao regime militar por meio da Ação Libertadora Nacional- ALN.

 

Esta postura coerente e  irredutível desencadeou o ódio que lhe devotaram componentes deste sedicioso bloco civico-militar. Ainda hoje seus remanescentes alimentam sua ira e se valem dos expedientes usuais para denigrir sua memória.

 

Marighella transformou-se num simbolo de tenacidade e de abnegação para todos que ainda lutam pelas efetivas liberdades democráticas em nosso país.

 

 

Wagner Braga Batista é professor aposentado da UFCG


Data: 04/11/2013