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Artigo - Os novos movimentos sociais

Wagner Braga Batista

 

Em janeiro de 2001, realizava-se no Brasil, em Porto Alegre, o I Forum Social Mundial- FSM.

 

 Tratava-se de um evento que coroava as mobilizações efetuadas em escala mundial contra a globalizaçào capitalista, o Consenso de Washington e a integração passiva de economias periféricas aos postulados neoliberals. O encontro caracterizava-se como antipoda de reuniões de cúpula envolvendo representantes das maiores economias (G 6) e de elites esclarecidas articuladas pelo Forum de Davos ( Suiça).

 

Sediado em cidade administrada pelo Partido dos Trabalhadores, o encontro revestia-se de significado simbólico. De certo modo, abraçava virtualidades políticas e experiências de democracia participativa, entre as quais o Orçamento Participativo, ensaiadas por nova modalidade de administração pública.

 

Organizado por personalidades com projeção mundial, por ONGs e por movimentos sociais, o Forum Social Mundial- FSM não dispunha de um programa politico que ultrapassasse e explicitasse concretamente as justas declarações em prol de um novo mundo.

 

Naquele contexto, a proclamação altermundista  tornou-se a utopia possivel. Destituída de um programa que traduzisse horizontes visíveis e possibilidades de ação para  forças envolvidas nesta iniciativa a utopia mostrava-se mais distante do que tangível.

 

O lema publicitário, um novo mundo é possivel, carecia de mediações práticas, via-se contingenciado por limitações que impossibilitavam sua realização.

 

O Forum social Mundial abrigava também insanáveis contradições e ranços contra a esquerda organizada em partidos políticos. Estes ranços, fruto de concepção autonomista subjacente, expressava-se por meio de crítica à estrutura verticalista, à organização burocrática e ao engessamento da prática política nestes partidos. Sob estes viés questionava-se a aptidão partidária para perceber e absorver a  diversidade de agentes sociais e as especificidades de suas reivindicações.

 

Tomando-se como referênca os partidos existentes, aludia-se à dificuldade de relacionamento entre organismos politicos com estruturas diferenciadas. Os movimentos sociais reivindicavam autonomia porque não se viam contemplados por programas partidários, que muitas vezes freavam ações em defesa de seus direitos.

 

 Á luz desta compreensão, entendiam que a dinâmica dos partidos existentes era diversa daquela exigida pelos movimentos sociais e suas demandas. Afirmavam a partir desta consideração que  ações dos movimentos sociais requeriam maior autonomia.

 

A questão democrática, incidente sobre o relacionamento entre partidos e movimentos sociais, bem como deste complexo com instituições governamentais, tem se apresentado como o ponto nevrálgico das esquerdas. Quando se discute formas de relacionamento viaveis e a institucionalização de movimentos sociais a questão democrática  ganha importancia.

 

A luta contra as desigualdades sociais e por uma sociedade mais justa impõe o reconhecimento da democracia, não como recurso instrumental, mas como condição necessária para viabilizar o relacionamento político entre forças comprometidas com estas consignas, bem como o relacionamento destas com o aparato estatal.

 

A ascensão do Partido dos Trabalhadores_ PT ao governo central problematizou este dificil relacionamento.

 

A institucionalização da prática política de partidos de esquerda e de movimentos sociais passou a ser interpretada como filtragem e pasteurização de contenciosos, cooptação de dirigentes e absorção destes organismos pelo aparato de Estado.

 

Este problema torna-se mais contundente graças ao conúbio decorrente da proliferação de centrais sindicais. Cada qual dizendo-se independente ou autonoma, apesar de visivelmente atrelada a partidos politicos.

 

O fato mais mais grave se evidencia  por meio da manipulação de estruturas,que subsistem por meio do compulsório imposto sindical.  Recursos de centrais sindicas tem sido utilizados para pavimentar caminho para partidos politicos. Pior, até mesmo para transformá-los em linhas auxiliares de governos de coalizão.


Data: 19/11/2013