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Artigo - Projetados para enganar consumidores.

Wagner Braga Batista

 

 

As estratégias de mercado subverteram a função de diversas atividades profissionais, entre elas a dos desenhistas industriais ou designers.

 

Vocacionados a desenvolver projetos capazes de aprimorar a forma de objetos industrializados de modo a torná-los mais útéis, confortáveis e duráveis, estes projetistas têm sido concitados a desempenhar papel bastante diverso, comportando-se como maquiadores de produtos.

 

No campo da programação visual, as técnicas de dissuasão avançaram pelo mesmo terreno, na mesma direção.  Ao invés de propiciarem a clareza e a legilibildade de informações contidas em embalagens, indispensáveis para a aferição do conteúdo embalado, agem de modo inverso. Dificultam a percepção das características, propriedades e performance de produtos, informações imprescindíveis à saúde e ao bolso de consumidores.

 

A perspectiva de melhorar a qualidade da informação prestada aos usuários de produtos é subvertida por artificios empregados para obscurecer, confundir e falsificar gêneros de primeira necessidade, acarretando muitas vezes danos irreparáveis à saude e aos ambientes nos quais estes bens de consumo são utilizados.

 

O marketing, a publicidade e o branding valem-se de arsenal de expedientes enganosos para induzir o consumo de produtos, que primam pela obsolescencia planejada, pela descartabilidade e pelo desperdicio de recursos, em franco prejuízo da vida social e do meio ambiente.

 

Bulas de remédios, período de validade de generos alimentícios, informações técnicas sobre o desempenho de eletrodomésticos, composição de alimentos, entre outras, são subsumidos por nomes de fantasias, imagens e estamparias que não oferecem nenhuma informação substantiva,  além da marca do produto.

 

A programação visual das embalagens destina-se a conferir visibilidade aos produtos. A destacar sua presença em prateleiras, gondolas e stands relegando a segundo plano informações relevantes para o consumidor.

 

A precária legislação existente é burlada de diferentes modos. A fiscalização aplicada à comercialização de alimentos praticamente se atém a examinar a validade, a manipulação, a estocagem e a sua exposição para venda. Deste modo, a rigor, todos alimentos atendem às exigências da vigilância sanitária

 

Sutis artificios para burlar consumidores continuam sendo empregados na programação visual de embalagens de remédios e alimentos . Um dos exemplos clássicos é a aposição do T sobre  icone amarelo,  ignorado por consumidores, que indica a utilização de ingredientes transgenicos na composição de alimentos.

 

Comemos gato por lebre.

 

Ingerimos leite de cabra que não bale, mel que não é de abelha, azeite feito de outros óleos vegetais, milk shake de soro de leite, entre outros nutrientes quesequer reconhecemos o sabor.

 

Cardiopatas são proibidos de consumir sal, porém ingerem altas doses de sódio em alimentos industrializados e refrigerantes. As letras minúsculas de rótulos, para todos efeitos, informam o teor destes produtos. Não importa para quem. Se portadores das inúmeras deficiências visuais ou para grande parte de consumidores, compelidos pelos céleres fluxos de supermercados e submetidos a leitura de informações ilegiveis e enigmaticas em localização e condições adversas.

 

A programação visual de embalagens de produtos e remédios, ao invés de informar com precisão, ardilosamente confunde. Oferece muitas vezes informações contraditórias, que não são esclarecidas no ato de compra.

 

Assim como projetos de produtos tendem a valorizar atributos simbólicos de bens de consumo, que obscurecem verdadeiras funções destes utencílios, a programação visual também se reveste desta aplicação instrumental.

 

Sua utilização é subvertida por estratégias de marketing. Tende a contemplar objetivos publicitários e de comercialização de gêneros alimentícios e de medicamentos, bens de primeira necessidade, colocando em risco a  saúde de consumidores.


Data: 29/11/2013