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Artigo - Desenho industrial ou design e artesanato

Wagner Braga Batista

 

 

Atividades criativas, na medida em que requerem novos recursos materiais e tecnologias mais sofisticadas, também tornam imprescindíveis novos conhecimentos e aptidões técnicas, que permitam a artifices e projetistas lidar com estes aparatos.

 

Os novos processos criativos e linguagens implicam no exercício de planejamento, no dominio de metodologias atualizadas que organizam a intervenção produtiva, capaz de transforma uma concepção vaga em fato tangível.  O processo de planejamento elimina o hiato entre concepção e elaboração. Aproxima a concepção inicial dos resultados finais do trabalho realizado.

 

O planejamento reduz a imponderabilidade e a margem de riscos de projetos, porém influi decisivamente no que se afirma como insigth ou lampejo criativo, na medida em que sistematiza e ordena o processo de criação. Também corrige o improviso e refina a intuição artística, oferecendo a possibilidade de que todo o processo criativo seja modelado à luz de alternativas previamente definidas e de sucessivas revisões, que aprimoram a proposta original.

 

Deste modo, o planejamento aproxima resultados esperados dos resultados alcançados em processos criativos.

 

Com isto desmistifica processos de criação e despoja produtos criativos da aura da genialidade de artistas. Coletiviza e socializa a realizaçào de processos desta natureza

 

No transito para a cultura de planejamento, as ações intuitivas, ainda que não sejam descartadas, estão sendo gradativamete deslocadas por recursos técnicos auxiliares que exigem um mínimo de planejamento. Esta exigência da atividade criativa, em contexto de uso intensificado de novas tecnologias, implicitamente, instaura processos de trabalho que demandam atualização profissional de projetistas, artistas e artesãos.

 

Estes novos processos criativos estão centrados em meticulosa discriminação de etapas e na adoção de procedimentos técnicos previamente estabelecidos. Estabelecem rotinas que requerem  a cooperação de especialistas, aptidões profissionais, conhecimentos emergentes, domínio de recursos técnicos, competencias e habilidades necessárias para a realização  de projetos que tendem a ser coletivos e complexos.

 

Estes processos ameaçam a subsistência de artistas e artesãos tradicionais. Neste contexto, além das indefinições do mercado de trabalho informal, vêem-se à mercê de processo tecnológico excludente que os alija de sua profissão.

 

As novas tecnologias reconfiguram e afastam artistas e artesãos do mercado de trabalho. Ainda que poucos artifices, reconhecidos culturalmente, não sejam afetados pelo impacto destas inovações, a grande maioria é  compelida a se atualizar ou mudar de atividade.

 

Os artistas, detentores de talentos e aptidões peculiares, depositários de conhecimentos e habilidades artesanais, representam a imagem nostálgica de culturas nativas, ora subsumidas pela produçào industrial.

 

Estes artistas devem ser valorizados e resgatados, porém não podemos alimentar ilusòes quanto a sua subsistencia neste quadro adverso. Tampouco que a atividade artesanal seja mais relevante econômica, politica e culturalmente do que a produçào intensiva em tecnologias que nos habilita a suprir necessidades inadiáveis da sociedade de massas.

 

A atividade artística, o artesanato e o desenvolvimento de projetos de produtos afetos ao desenho industrial devem ser valorizados como partes integrantes e indissociáveis da nossa cultura

Portanto, podemos inferir que a produção industrial e artesanal não são incompatíveis e excludentes, porém do ponto de vista economico, político e cultural, em sociedades com demandas massivas, é inegável a prevalência e a prioridade que devem ser conferidas à produção industrial.


Data: 11/12/2013