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Artigo - Ab-rupto

Luciênio de Macêdo Teixeira

 

A palavra título deste artigo indica uma queda vertiginosa, um declive rápido, quase vertical. O termo abrupto, uma variante da palavra, também pode designar uma precipitação, uma interrupção ou até mesmo uma separação.

 

E é com este termo que a Associação dos Docentes da Universidade Federal de Campina Grande – ADUFCG se reporta ao desfecho da 94ª reunião ordinária: “O reitor da UFCG Edilson Amorim encerrou de forma abrupta ontem de manhã (30/04), mais uma vez, a reunião do Colegiado Pleno do Conselho Universitário”.

 

Sou forçado a discordar e, como conselheiro presente à ocasião (e associado ao nosso sindicato), vejo-me na obrigação de expor o que minha consciência viu e a minha leitura sobre os acontecimentos da manhã de 30 de abril de 2014. Nada foi ab-rupto, muito pelo contrário. Foi tudo pensado e premeditado, se não pela presidência do Colegiado, mas com certeza pelo “grito” democrático dos que ali faziam contraponto a tudo e a todos. Devo lembrar, antes de continuar meu raciocínio, que não tenho o desejo de defender as ações do Reitor. Acredito que o Professor Edilson Amorim tem maturidade e sobriedade para assumir seus atos administrativos e políticos e não precisa de minha defesa. Estou aqui muito mais para defender um Colegiado – cantado aos quatro ventos como a instância máxima –, que vem sendo desrespeitado de maneira paulatina, pautado pelo “grito” e veementemente destratado pelos que dizem que somos o fórum deliberativo máximo. Afinal de contas, erros não justificam outros.

 

Não foi de forma ab-rupta que se finalizou a reunião. Foi pela achincalhação de uns poucos que, não sabedores da distancia entre o monólogo e o diálogo, se impuseram mediante a lata, o grito e o deboche – quanta contradição, substituir a “monocracia” pela ditadura do discurso!!! Quem, em sua inocência, achar que o Colegiado Pleno tem a obrigação de passar pelo que vem passando, deve, no mínimo, estar doente dos olhos. E olha que não sou contrário à manifestação. Há pouco tempo houve algo similar, envolvendo os alunos do Curso de Enfermagem e sua luta por mais professores: entraram com palavras de ordem, fizeram suas falas, contundentes inclusive, mas em momento algum faltaram com o respeito que se deve. Infelizmente, no dia 30 de abril, não foi esta sensação de respeito que eu e muitos outros tivemos.

 

A pecha de Colegiado “manobrado” não pode passar incólume. Mas o clima foi tão hostil que qualquer discurso contrário poderia gerar alguma reação mais física que ideológica. Enquanto alguns torciam o rosto ante as falas – e por este motivo alvos de crítica dos críticos – outros se deliciavam com sorrisos irônicos, quase orgásticos, com as palavras de ordem e o mise-en-scène. Mal lembravam os ali presentes, que estávamos barbarizando toda a instituição, rindo de nós mesmos e de nossas (in)competências e incapazes de chegar a uma solução. A única voz conselheira consciente e preocupada que se levantou foi a do professor Manassés, alertando para a responsabilidade de todos: do Reitor pelos seus atos, dos conselheiros pelo silêncio e, talvez por esta abstenção, da euforia e inocência dos que bradavam palavras de ordem. Mas também não faltaram caras e bocas às palavras do professor.

 

Muito provavelmente estes últimos eufóricos não vão conseguir modificar a decisão com estes métodos. Este tipo de tática está mais para desestabilizar do que para convencer e começa a por em xeque a real motivação do grupo. Começa a incomodar sim, inclusive àqueles que comungam da mesma motivação.

 

Mas não podemos achar tudo isto natural e/ou democrático. Não, definitivamente não é. Se houve arbitrariedade por parte da Reitoria que se busque reverter legalmente as ações. Como disse, um erro não justifica o modus operandi. Será que ninguém tem interesse em saber do posicionamento do Colegiado? Como o próprio professor Edilson – que de autoritário tem seu ato administrativo e nada mais – disse que qualquer Conselheiro ou qualquer outro cidadão, legitimamente, pode questionar na justiça as suas ações. Se se trata do questionamento de um ato administrativo discricionário, cabe buscar o Direito Público e se há ou não ilegalidade. Se se trata de um ato político, ainda assim há a possibilidade de controle via Justiça.

 

Doravante há a necessidade de organização por parte de toda a comunidade para que as ações sejam menos coloridas de ideologias e mais recheadas de razão. Por fim, nunca vi esquerdismo progressista, muito pelo contrário, vi apenas ditaduras de discurso único. Esses poucos, até agora, quando chegam ao poder, destroem seus próprios discursos e, às vezes, vidas; seus métodos são prova do que falo; vi progresso apenas quando o diálogo e a razão estão lado a lado com a paixão. A manifestação é democrática, mas deve ter limites legais e muito mais, limites éticos. No entanto, não vi limites na manifestação, não vi indignação nos rostos, vi deleite e busca de empoderamento. Vi, deliberadamente, a imposição nada ab-rupta do “grito”, minando a paciência e elevando a indignação!!!

 

Não espero que concordem com o que aqui escrevi, pois opinião, possibilidade de expressão e ausência de censura são requisitos democráticos e iremos defendê-los sempre, e para isto conto com TODOS. Espero apenas que leiam este artigo de forma racional, que foi como me motivei a escrevê-lo e reflitam. É isso!

 

 

Luciênio de Macêdo Teixeira é diretor do Centro de Humanidades da UFCG.


Data: 09/05/2014