topo_cabecalho
Artigo - Genesis, um singelo apelo em prol da vida e do meio ambiente

Wagner Braga Batista

 

 

Após a Conferência de Estocolmo, na Suécia, realizada em 1972, com a participação de 113 países e aproximadamente 250 entidades de difentes perfis, a Organização das Nações Unidas- ONU, demarcou a data de 5 de junho como Dia Mundial do Meio Ambiente. Esta iniciativa advertia para os cenários críticos que se configuravam, provocados por impactos e desastres ambientais, que decorriam, principalmente, do crescimento concentrado e descontrolado da economia.

 

Quarenta anos depois, apesar da crescente sensibilidade para a importancia do meio ambiente, são visíveis as consequências da falta de controle sobre a produção material  e do consumo abusivo de bens livres e economicos que degradam a vida urbana e a natureza.

 

Em Belo Horizonte, instalou-se a Exposição Genesis, composta por fotos de Sebastião Salgado.

 

Apesar de ter percorrido o mundo, o fotógrafo ainda mantém traços típicos do mineiro, da zona da mata, de Aimorés, onde nasceu e foi criado.

 

Neste município, desde 1992, desenvolve projeto de revitalização da mata atlântica, que apresenta significativos resultados, dez anos  depois.

 

 

Em vasta área devastada pela pastagem renasceu a vegetação nativa. Os impactos positivos são visíveis.  No terreno,  praticamente estéril, ressurgiu a floresta, que dominava toda esta vasta região do estado. Hoje estima-se que menos de 10 % do solo de Minas Gerais está coberto com vegetação nativa.

 

A agropecuária e o extrativismo mineral extensivos, preponderantes no Estado, são bastante agressivos. Além de desfigurarem o meio ambiente e a paisagem, modificando o sinuoso recorte das montanhas, característico desta região, comprometeram grande parte do seu solo, de suas nascentes e de reservas hídricas. Os resíduos da mineração predatória ameaçam a vida urbana, poluem o ar e causam inúmeras doenças respiratórias em habitantes de vários municípios. O transporte de minérios também a afeta a estrutura de rodovias, destruindo a pavimentação de estradas e dificultando o acesso a cidades históricas, polarizadas por Ouro Preto.

 

A projeção deste microcosmo mineiro, em escala mundial, constitui o tema da exposição de Sebastião Salgado, no Palácio das Artes, em Belo Horizonte. 

 

Genesis, que também integra livro com o mesmo título, apresenta 245 fotos, reveladoras da tensão entre a origem e a degenerescência do mundo no qual vivemos. Do conflito entre as pulsões da vida e a tragédia que se configura pela sua progressiva extinção no planeta.

 

A exposição nos conduz a alguns locais inusitados e paradisíacos, raramente percorridos, tocados ou alcançados diretamente por olhares humanos. Durante nove anos, acompanhado de sua esposa, a arquiteta  Lélia Wadick Salgado, curadora da mostra, devassou cinco continentes mapeando e registrando situações, que nos remetem à origem da vida, das culturas humanas e da sociabilidade em condições diversas. . À exposição serão agregados 56 painéis distribuídos no Parque Municipal, de Belo Horizonte, até o final de  agosto do corrente ano.

 

Impactante pela beleza, pela contundência das imagens em prol da vida e da natureza, suscita reflexões e iniciativas que detenham este processo de destruição, acelerado pela ganância, pela produção desenfreada de bens obsoletos, pelo desperdício, materializado pelo consumo de descartáveis e pelo desprezo daqueles que reduzem o meio ambiente a uma simples fonte de provisão de recursos econômicos de fácil acesso e de apropriação.

 

Em palestra no Teatro do Palácio das Artes falou de suas motivações para realizar este auspicioso projeto. Após a documentar a tragédia dos migrantes, em escala mundial, Salgado se sentiu desolado. Diante do sentimento de impotência diante dos conflitos e tragédias de humanas, que causavam o exodus de milhôes de seres humanas, pensou em largar a fotografia e se recolher na sua fazenda. A perspectiva de revitalização de suas terras, atualmente com mais de dois milhões de mudas de arvores nativas plantadas, bem como a percepção da degradação ambiental no seu entorno, foram injeções de ânimo, que resultaram no esforço de reverter este processo de degradação, que ameaça a vida planetária. Mencionou o comprometimento das nascentes, a devastação das margens e o assoreamento do Rio Doce, cuja bacia é uma das mais importantes do estado de Minas e da Região Sudeste. Este rio, que já foi navegável, com profundidade média 4 metros, hoje apresenta apenas 70 centimetros de vau.

 

No Dia do Meio Ambiente, estes registros convertem-se em advertências. Em apelos à consciência coletiva.

 

Urge o controle público sobre o desperdício econômico, a produção  desregrada, que fomenta o consumo compulsivo de bens supérfluos e descartáveis, que absorve enorme volume  de recursos econômicos e naturais finitos.

 

É preciso que o direito à vida se imponha diante de pulsões, gostos e caprichos pessoais e da voracidade  interesses economicos restritos, que devastam a terra, extinguem espécies, consomem recursos naturais indispensáveis, que se esgotam e comprometem a existencia de futuras gerações.

 

Torna-se oportuno que os registros e apelos deste notável fotógrafo, tenham ressonancia na consciência da população de Campina Grande e municípios vizinhos, concitando-nos, entre outras ações, a dar andamento a campanha pela revitalização do Rio Piabas.

 

 

Wagner Braga Batista é professor aposentado da UFCG


Data: 06/06/2014