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Artigo - Alternativa ao trote violento

Benedito Antonio Luciano*

               

Segundo o professor Antônio Ribeiro de Almeida, autor do livro “Anatomia do Trote Universitário”, as origens do trote estariam na Grécia Antiga e que na Idade Média o trote se tornara uma prática comum em universidades europeias.

 

No Brasil, o trote nas instituições universitárias teria sido introduzido por brasileiros que estudaram na Universidade de Coimbra, em Portugal.

 

Lamentavelmente, o que deveria ser um ritual de passagem pacífico, no qual os estudantes veteranos recebiam os calouros em suas universidades, marcando o início do ano letivo nas instituições de Ensino Superior, com o passar do tempo, em algumas universidades, terminou por assumir um caráter violento.

Vez por outra, os meios de comunicação divulgam casos de trotes violentos, até com registros de mortes, como o ocorrido em 1999 quando um jovem calouro foi encontrado morto em uma das piscinas olímpicas de uma conceituada universidade paulista e, mais recentemente, outro que morreu em decorrência do consumo excessivo de bebida alcoólica.

 

Nesses trotes, os estudantes calouros são humilhados, ridicularizados e submetidos a diversas formas de violência por parte de alguns veteranos sádicos, nelas incluídas o racismo e violações dos direitos humanos, tudo sob a complacência e omissão daqueles que deveriam tomar medidas concretas para coibir essas práticas condenáveis.

 

O mal não está no ritual de passagem em si. O mal se estabelece quando o trote se dá de forma violenta, como se não houvesse outras maneiras de recepcionar os ingressantes na universidade, integrando-os à vida universitária, de forma civilizada.

 

Antes de ingressar na universidade, tinha conhecimento do famoso trote organizado por alunos da Escola Politécnica da Universidade Federal da Paraíba, em Campina Grande. Nele, os alunos aprovados no vestibular, com as cabeças raspadas, desfilavam na Rua Maciel Pinheiro, no Centro da cidade, fantasiados e pintados, sem qualquer registro de violência. Só alegria e descontração.

 

Quando ingressei na universidade, em 1973, o trote não ocorria mais no Centro da cidade e sim na área interna da instituição. Guardo desse trote uma lembrança desagradável. Foi um trote violento. Alguns alunos veteranos nos recepcionaram com banhos de lama, piche na cabeça raspada e agressões físicas.

 

No ano seguinte, mudamos completamente essa forma truculenta de receber os novos colegas.

 

Articulados em torno do Diretório Acadêmico, substituímos o trote pelo que denominamos “Calourada”. 

 

Organizados em comissões, durante a “Calourada”, na primeira semana de aulas, conduzimos os novatos às coordenadorias dos cursos e orientamo-los na matrícula, promovemos debates com os coordenadores dos cursos e promovemos eventos artístico-culturais, tratando os nossos futuros colegas com o respeito merecido.

 

Assim, na prática, mostramos como é possível, com criatividade, substituir o condenável trote violento por ações integradoras, educativas e éticas, condizentes com formação universitária e humanística dos futuros profissionais a serem postos a serviço da sociedade. 

 

* Benedito Antonio Luciano é professor do Departamento de Engenharia Elétrica da UFCG.

 

**As afirmações e conceitos emitidos em artigos assinados são de absoluta responsabilidade dos seus autores, não expressando necessariamente a opinião da instituição.


Data: 04/03/2015