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Artigo - A lembrança e o esquecimento

Benedito Antonio Luciano*

 

Lembrar é lutar contra o esquecimento. Li essa frase em algum lugar, só não lembro onde, nem tampouco a autoria. Assim, nesta luta contra o esquecimento, perdi no primeiro embate.

 

Certamente, o ato de lembrar está associado à evocação daquilo que está guardado na memória, de curta ou de longa duração.

 

Na linguagem da informática, memória é um termo genérico usado para designar componentes de um sistema capazes de armazenar dados e programas, de forma temporária ou permanente.

 

Como ocorre com o disco rígido de um computador, o que fica armazenado em nossa memória são os arquivos e pastas dos fatos por nós vivenciados ou vivenciados por outras pessoas, assim como copiamos informações ou aplicativos provenientes de outras fontes, de forma deliberada ou não (vírus).

 

Uma imagem que me ocorre como metáfora da memória é uma fogueira. Para se fazer uma fogueira é preciso submeter a lenha a um processo de combustão. Nesse processo, a presença do oxigênio é fundamental para que a chama se propague. A presença do oxigênio acelera o processo de oxidação.

Paradoxalmente, o mesmo oxigênio responsável por causar a combustão, é o mesmo responsável por reduzir a fogueira a cinzas.

 

Em comparação com a fogueira, as lembranças, que fazem parte da memória, são as labaredas. As cinzas, que apagam as chamas, são o esquecimento e o oxigênio é o tempo.

 

Conosco, seres humanos, ocorre algo semelhante ao que ocorre com a fogueira. Quando crianças, somos como uma fogueira que começa a ser acesa. As informações começam a ser armazenadas em nossas memórias. Os fatos e os acontecimentos vão se sucedendo e as chamas de nossas memórias vão se mantendo acesas.

 

Com o passar do tempo, à medida que vamos ficando mais velhos, as cinzas começam a se depositar sobre as brasas de nossas memórias, sendo necessário um sopro para acender o que resta de fogo sob as cinzas. O sopro reacende, pelo menos momentaneamente, a chama que estava apagada, relegada ao esquecimento.

 

Diante dessa luta da memória contra o esquecimento é que se coloca é o registro como forma de perpetuar a memória. O registro é o aliado da memória. O registro é o cronista do tempo.

               

Inconformado com a finitude da vida, desde os tempos pré-históricos, o homem já se preocupava em preservar suas lembranças, representando-as por meio das pinturas rupestres e dos monumentos megalíticos.

 

Por outro lado, a própria natureza também parece se encarregar de cuidar de sua memória, o que a torna objeto de estudo da paleontologia e da cosmologia.

               

Como lembrar é lutar contra o esquecimento, acho que acabei de perder o segundo embate, pois nem lembro mais porque iniciei este assunto.

               

* Benedito Antonio Luciano é professor do Departamento de Engenharia Elétrica da UFCG.

 

**As afirmações e conceitos emitidos em artigos assinados são de absoluta responsabilidade dos seus autores, não expressando necessariamente a opinião da instituição.


Data: 20/04/2015