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Artigo - Como estar na guerra se mantendo fora dela (Uma fábula classista)

Hiran de Melo*

 

O Grande Mestre Guerreiro, estrategista militar de competência inquestionável, mas com viés democrata, resolve consultar as fileira do seu exercício sobre a oportunidade de deflagrar uma nova guerra. Embora, sempre contra os mesmos adversários.

 

Determinou que cada regimento teria direito a um voto, representativo dos mestres guerreiros a ele filiado. Sendo assim, em cada regimento foi realizado uma assembleia de mestres guerreiros para decidir o voto do seu representante.

 

Reunidos todos os representantes, em um grande conselho, foi realizada uma votação definitiva. O resultado foi a deliberação favorável à guerra, pela justeza da causa e pela oportunidade favorável à vitória.

 

Tudo decidido, marcada a data da guerra, quis o Grande Líder que esta decisão fosse ratificada nas fileiras dos regimentos. Então, para surpresa geral, o regimento localizado nos Açudes Velhos ao promover a escuta dos seus mestres guerreiros ouviu da maioria deles que a causa era justa, mas a oportunidade não era perfeita.  E, portanto, não entrariam nessa guerra.

 

Melhor dizendo, entrariam sim. Mas, apenas, por um dia. Daí para frente seriam tão somente torcedores pela vitória dos seus colegas. E, no final, claro, sorridentes poderão compartilhar os espólios dos vitoriosos. 

 

O Grande Líder ficou perplexo! Quando determinou a ratificação, pensava ele que não estava mais em questão a entrada ou não na guerra. Apenas esperava uma maior empolgação dos mestres guerreiros. E queria ouvir gritos de guerra: "Guerreiros unidos jamais serão vencidos!"

 

Do Regimento dos Açudes Velhos o que ouviu foi ponderações extemporâneas e a velha e surrada fórmula dos vencidos em antigas batalhas: "A causa é justa, mas não temos forças para alcançar a vitória. Melhor dá um tempo, esperar..."

 

Por estranho que lhe pareça esta história que estou narrando, vou acrescentar mais estranhezas. Na assembleia se faziam presentes um significativo número de aprendizes guerreiros. E, esses, eram contra a guerra, sob o argumento de que a mesma iria atrasar as suas instruções e adiar a data em que iriam receber a diplomação de Mestre Guerreiro.

Dizem, que ao tomar conhecimento de tão grande disparate, o velho Nietzsche chorou.

 

* Hiran de Melo  é professor da UFCG.

As afirmações e conceitos emitidos em artigos assinados são de absoluta responsabilidade dos seus autores, não expressando necessariamente a opinião da instituição.


Data: 01/06/2015