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ARTIGO - A dialética envergonhada

Wagner Braga Batista

 

O colendo Conselho Pleno da UFCG, como é sua atribuição, adotou posição sobre a greve em curso. Saudadada pelo Magnifício Reitor, parece-nos inspirada em controversa dialética.

 

Sua intrincada análise, institituiu uma lógica mirabolante.

 

Na universidade é comum teses e antiteses se amontoarem. Por meio de elaborações complexas aparentam ser o que não são. E vice-versa. Artifícios de linguagem nos permitem escorregar em intenções declaratórias e nos furtar a execução dos objetivos com os quais nos comprometemos. Examinadas a miúdo, algumas vezes, manifestações de princípios se desfazem bruscamente. Esgotam-se em contradições das quais não conseguem de desvencilhar.

 

A nosso ver, por meio desta metodologia controversa, o conselho e a administração superior aparentemente adotaram posição sobre a greve. Na prática, lavaram as mãos. Abstiveram-se de suas implicações. A posição adotada furta-se à fundamentação coerente.Mais grave ao tratamento isonômico de docentes, servidores técnico-administrativos e estudantes.

 

Partimos do pressuposto que a gravidade da atual conjuntura e das condições de financiamento da universidade pública cobram de todos professores uma posição coletiva. Seja qual for. Inerente ou à margem da greve em curso. Pecamos quando nos abstemos de manifestação consistente de toda a comunidade universitária

 

Há vários argumentos plausíveis em defesa e contrários à greve. Contudo, o esvaziamento crítico e físico da universidade impede-nos de externá-los e de confrontá-los em ambientes suscetíveis ao debate, à persuasão e ao comprometimento coletivo. O esvaziamento da universidade tem dificultado a convivência necessária e proficua para todos. Entrava diálogo urgente e inadiável capaz de contribuir para a superação deste quadro crítico. Com isto, a letargia interna ameaça a educação e a universidade pública

 

Trocando em miudos. Enfrentamos internamente duas posturas anomalas que se combinam e se sedimentam. Quais sejam, polarizações estéreis, carentes razoabilidade, associadas à indiferença crônica, que despreza compromissos com a instituição de ensino. Solapam quaquer empenho de reverter este quadro crítico.

 

Polarizações apaixonadas tornam-se temeridades. Somam-se à anuência tácita de parcela expressiva do professorado, indiferente aos problemas da universidade. Este contingente, adere à dualidade instável sem mexer palha, sem efetivamente se comprometer com a reversão deste quadro de anomia, porque dele se beneficia. Combinadas, estas posturas inviabilizam proposições mais modestas e viáveis, capazes de superar os óbices das crises que enfrentamos. Deste modo, convenientes polarizações não se desdobram em alternativas de intervenção exequíveis. Inibem iniciativas da coletividade que poderiam dinamizar a universidade pública e permitir que cumprisse razoavelmente seu papel social.

 

Contradições que não se explicitam e nem se aprofundam servem apenas para alimentar a paralisia da universidade. Servem de esteio à massa inerme, que tira proveito da anomia, da falta de diretrizes e de comprometimento coletivos. Que aposta na perpetuação de polarizações convenientes e inconsistentes. Sob este viés, universidade fica orfã e refém de forças do atraso, em administrações e em sindicatos. Reproduz, em escala microscópica, posturas incongruentes desta conjuntura crítica.

 

A nosso ver, a postura adotada pelo Conselho Pleno sugere controversa atitude de um torcedor que, num campo de futebol, torce simultaneamente para os dois adversários. Para não correr riscos de perder o ingresso, enverga duas camisas, aplaude os dois times e vibra indisstintamente com todos os gols. Nesta disputa metafórica, ao invés de torcer pelo êxito de uma equipe, ambiguo e ambivalente, abraça os dois times.  Para não enfrentar o risco de um adverso, colhe o pior deles: a renúncia à razão, a indignação das torcidas e a perda de credibilidade.

 

Vejamos. O Conselho Pleno torce por desdobramentos positivos da greve, mas se exime de envolvimento com ela. Deseja que o semestre letivo tenha razoável desfecho, mas concita  professores a agir como lhes aprouver.

 

Quem torce por dois times em disputa, na prática, torce por nenhum deles. Coloca-se em posição confortável e sarcástica de quem aposta na queda da lona do circo para calar a platéia e generoso sorriso dos que atuam como palhaços.

 

Com todo respeito aos egrégios membros do Conselho Pleno, a posição adotada não nos parece demonstração de maturidade, como nos faz crer o nosso caro Reitor. É uma tentativa de lavar as mãos. De se omitir da avaliação criteriosa e sistemática de um processo que pode se tornar bastante traumático para a UFCG.

 

Posições favoráveis e contrárias à greve possuem aspectos bastante intrincados que exigem  aprofundamento. No entanto, há muito não se observa este empenho. Nas assembléias, claques ocasionais do sim e do não se misturam. Desprezam análises precedentes que poderiam fornecer consistência e rumo às paralisações. Avaliações criteriosas que apontam  tendências e desenlaces possiveis para esta ação coletiva. Paradoxalmente, pensar e refletir nestes ambientes tornou-se um estorvo. Um incomodo que afeta agendas irreversíveis.

 

Hoje, cultuamos confortáveis distâncias. Em tempo de educação on line, de comércio eletrônico e de barateamento ideológico, que autoriza o loteamento das execepcionalidades durante a greve, defontamo-nos com uma novidade: a greve à distancia. A greve que se distancia de professores e professores que se distanciam da greve. Descompromete igualmente professores que dizem apoiá-la e aqueles que não querem correr seus riscos de praxe. Descompromete o chamado baixo clero e tampouco cobra coerência de presumida vanguarda classista, que se esmera em legitimar anomalias da greve à distância exercitado-a na França, no sul maravilha, em Pipa, Natal, Camboinha e João Pessoa.

 

Para concluir, a greve, assim como a democracia, não se impõe por decreto. Requer que a coletividade vista uma camisa. Qualquer que seja. Beneficária ou não de seus desenlaces, coerentemente, a abrace ou a rejeite fundamentada e consensualmente como ação de todos. Debatendo nos locais de trabalho suas implicações, apresentando argumentos convincentes em sua deflagração, avaliando seus desbobramentos, demonstrando altivez e desprendimento ao decidir democraticamente por seus possíveis desfechos.

 

Sem eleger este ritual democrático, sem dúvida, todos nós professores, estaremos propensos a colher seus piores resultados.

 

* Wagner Braga Batista é professor aposentado da UFCG

 

As afirmações e conceitos emitidos em artigos assinados são de absoluta responsabilidade dos seus autores, não expressando necessariamente a opinião da instituição

 


Data: 06/07/2015