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ARTIGO - A Vitória da Babilônia

Wagner Braga Batista

 

Venceu o sistema da Babilônia e o garção de costeleta

 

O trecho de poema em epígrafe, de Oswald De Andrade, citado por Roberto Schawrtz, satiriza anomalias da atual conjuntura.

 

Reporta-se, também, à figura do ornitorrinco, utilizada por Chico de Oliveira, para estabelecer analogias e ilustrar deformidades da economia, da cultura e da política brasileira contemporânea.

 

A vitória do grotesto sacramenta relacionamento promíscuo, sedimentado entre os que dizem representar a modernidade e as oligarquias insaciáveis. Plenipotenciárias graças ao atraso político, à alienação e à manipulação popular.

 

Uma foto, publicada na capa do jornal O Globo, 17 de julho de 2015, é bastante sintética.

 

Registra no primeiro plano, o atual presidente do Senado, Renan Calheiros, lider do Governo Collor, adepto de seu impeachmeant, Ministro da Justiça de FHC, seu opositor no governo seguinte, no qual foi flagrado utilizando-se da mediação e do dinheiro de empreiteira para pagar sua concubina. De costas, Eduardo Cunha, Presidente da Câmara de Deputados, preposto de PC Farias, por quem foi indicado para a Presidência da TELERJ, ex-deputado do PP, de onde migrou para a fé, nas línguas de fogo do petencostalismo, na torcida do Flamengo e no PMDB. Partido onde pontifica como lider e financiador de articulações obscuras, bem como autor de achaques praticados contra o poder público e empresas privadas.

 

A foto mostra as portas do gabinete do Presidente do Senado, que se mantêm permanentemente fechadas à população, sendo abertas à promiscuidade. Apresenta dois de seus mais ilustres representantes se reverenciando, enquanto um garçom, paramentado, em segundo plano, segue o cerimonial. Mantém-se a postos para servir Suas Excelências.

 

Servidor do público, solícito, encarna a digressão de suas funções. Portando bandeija e bules  prata,  expõe componentes de um ritual ridiculo. Num país republicano restaura a servidão das monarquias com a oferta de tradicionais cafézinhos às novas majestades. Serviço que irriga o despropósito, o ócio e a soberba reinantes nestes ambientes.

 

Em nosso país, os cafézinhos, o Estado e os poderes públicos estão a serviço desta gente que se autodenomina Vossas Excelências.

 

O aparelho de Estado tem sido o instrumento que faculta às Suas Excelências a desenfreada prática da corrupção. Por seu intermédio, chantageiam empresas privadas e se valem de suas prerrogativas restritas para empregar toda sorte de expedientes para transferir recursos públicos para seus bolsos.

Esta tem sido a estratégia de oligarquias de todos os tipos, formatos e regiões. Rateiam poderes públicos e se distribuem em escalões de governos, em administrações de entidades públicas e de estatais, em fóruns judiciais, bem como em quase todos os 31 partidos regularizados e nos outros 65, que aguardam breve de vôo para transformar o parlamento em pista de pouso para a rapina.

 

* Wagner Braga Batista é professor aposentado da UFCG

 

As afirmações e conceitos emitidos em artigos assinados são de absoluta responsabilidade dos seus autores, não expressando necessariamente a opinião da instituição

 


Data: 20/07/2015