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Artigo - Mobilidade urbana

Wagner Braga Batista*

 

Em transporte coletivo, Sua Excelência brindou-nos com majestosa demonstração de civismo.

Certamente o transporte a que nos referimos não era um ônibus, destes que atrasam, passam por fora do ponto e andam abarrotados de gente cansada, fustigada pela rotina. Sua Excelência tampouco se prestaria a ficar pendurada no balaustre de um metrô, cheirando odores multiplos temperados por desodorantes baratos, exalados de sovacos contíguos.

Surfar no teto de um vagão de trem ? Nem pensar.

Equilibrar-se em estribo de bonde, nunca foi seu esporte. Sequer em acirradas eleições nas quais votos eram disputados em troca de pastéis em pés sujos, traçados em botequins e cafézinhos requentados, servidos a rodo em barracos mal iluminados da periféria.

Viajar de caminhão? Nunca. Sua Excelência tivera memorável passado de chefe de torcida por correspondência. Jamais sentara em boléia, tivera rádio de pilha e pisara em estádio de futebol. Tinha alergia a gerais e arquibancadas. Como presidente de dois times rivais, negociava resultados de jogos, apoio político de jogadores, cobrava o patrocinio, vendia votos em eleição das federações e colhia, religiosamente, grana alta da CBF.

O transporte coletivo de Sua Excelência não era van clandestina, na qual motorista, trocador e passageiros, premidos por hediondas milicias, fecham olhos, fazem votos de silencio e  encontram na cumplicidade salvoconduto.

Homem público e esmerado, Sua Excelência tampouco compartilharia a tragédia de ônibus escolar, que conduz crianças ingênuas de lugares ermos a fatalidades, provocada pelo  sistemático desvio de verbas públicas municipais destinadas à educação.

Para alivio de seus polpudos glúteos, Sua Excelência nunca vagou por locais inóspitos, por estradas e caminhos de terra nos quais mal ajambrados mistos, lombos de jumentos e  motocicletas transformam-se orações em únicos socorros nas horas de emergências.

Nesta viagem, Sua Excelência não estava bem servida. Ocorreram excepcionalidades o transporte público.

Em tempo de espreita e caça seletiva, do Minsitério Público e da Lava Jato, Sua Excelência andava ressabiada. Desconfiava dos parceiros de sempre, dos xeleléus de oficio, dos militantes de pixulecos, dos correligionários da legenda de aluguel e dos fiéis escudeiros da bufunfa. Como um espectro, o dedurismo tornara-se inclemente. Rondava céus de Paris, Brasilia e Cochichola.

Diversamente de outrora, Sua Excelência tornara-se guardião da probidade. Enfático. Com profissão de fé em confissionário, registro em cartório e carteirinha de autoridade.

Desde ontem, denunciava a impunidade, a malversação de recursos e os crimes contra o erário. Consoante com sua nova vocação, agora, declinava de deferências e obséquios.

Por conta destes ciosas atribuições, suas nádegas não estavam confortavelmente assentes em jatinho da FAB. Temporariamente, não faria correção de palpebras e implante capilar nos fins de semana , nem tampouco solicitaria empréstimo, a fundos perdidos, de dízimos capturados por sua franquia.

Desta vez, Sua Excelência, submeter-se-ia a delicada intervenção cirurgica com recursos próprios, sem onerar a União e verbas orçamentárias do parlamento.

Os fios de ouro, que seriam inseridos em sua cutis, para rejuvenescer sua face, erguer suas sobrancelhas e ampliar seu sorriso, viajavam como outros mortais. Contribuintes comuns. Nem alegres, nem envaidecidos, todos igualmente eleitores e passageiros.

Como Sua Excelência, dignificada, por viajar num simples avião de carreira.

* Wagner Braga Batista é professor aposentado da UFCG

 

As afirmações e conceitos emitidos em artigos assinados são de absoluta responsabilidade dos seus autores, não expressando necessariamente a opinião da instituição


Data: 30/07/2015