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Artigo - Os que matam milhões de leões por dia

Wagner Braga Batista*

 

Mui justamente, a população de todo mundo manifestou indignação e revolta contra um sujeito, insano, que matou um leão no Zimbabwe, na África.

 

No entanto, na Europa, na Asia, na América do Norte e seu hemisfério Sul a prática da caça está livre. Caçam-se migrantes e primatas. Sem constrangimento. Não estão sujeitos à cassa aves de rapina. Espécies sob a redoma de imunidades e da cumplicidade, próprias dos três poderes republicanos.

Caçadores habituais, aqui e acolá, atraem, exploram, mutilam e matam, em vida, milhões de sêres humanos diariamente.

 

 O que temos a dizer? Até onde vai nossa indignação?

 

Trabalhadores precários, terceirizados e novos boias-frias transitam pelas cidades e pelo campo. São alvos de artilharia pesada, da desregulamentação de direitos e da língua ferina dos que se opõem, odiosa e indiscriminadamente, a conquistas sociais de hominídeos, primatas e bípedes com pêlos.

 

A narcísica, impúbere, higiênica e moderna economia de mercado volta-se contra todos que têm pelos.

Em todo mundo o capital se concentra. Concentra também desigualdades. Acumula riquezas incalculáveis. À custa da exclusão e da indigência de seres humanos, quinhentas maiores empresas do mundo faturaram US$  31,2 trilhões com lucro liquido de US$ 1,7 trilhão, em 2014. Segundo a Fortune, estes conglomerados empregam apenas 0,1 % da população mundial economicamente ativa.

 

Resguardada sua reserva de caça, o restante fica entregue à sanha dos demais caçadores.

 

Dados economicos da Receita Federal, referentes ao ano de 2013, informam que pequena parcela, 0,3% da população, concentra 22% das riquezas no Brasil. São 71 mil almas prendadas com renda mensal superior a 160 salários mínimos.

 

A concentração fundiária, empreendida por meio de grilagem e do agronegócio, também oferece sua prestimosa contribuição para o aumento de desigualdades, conflitos sociais e da caça.

 

 O uso intensivo de tecnologias, aplicadas sem contrapartidas distributivas, expulsa trabalhadores do campo, aumenta o desemprego e a indigência em áreas urbanas. À guisa de ilustração, o plantio e a colheita de batatas, realizadas em grandes extensões de terra, que a poucos anos alocavam milhares de homens e mulheres, atualmente são atividades realizadas por única máquina. Acionada por um só operador. Complete-se, muitas vezes por meio de trabalho sazonal e terceirizado.

 

Em várias instâncias legislativas, do judiciário e do poder executivo está aberta a temporada de caça com armadilhas da corrupção, do peculato e do desprezo a direitos sociais. Sob o patrocínio de agências financeiras, de grandes empresas, do agronegócio, de grupos econômicos internacionais, travestidos de entidades humanitárias e filantrópicas, a exemplo da ONG Open Society Fundations, com sede em São Paulo, do maior agiota internacional, George Soros, a caça adquire legitimidade. É celebrada, assim como a colaboração de empresa de segurança israelense, que armou  mílicias e esquadrões da morte na América Central, associada no apoio logistico às Olimpíadas, no Rio de Janeiro.

 

Estas consortes compõem guirlandas que enfeitam bancadas de subdeputados que legislam em causa própria, subtraem direitos sociais, desoneram empresas privadas, franquias religiosas e entidades benemerentes. Arrancam nossos olhos da cara para facultar condições propícias à predação do patrimônio público.

 

Enfrentamos uma situação terrível, inapelável, em nosso país. Os de baixo não têm a quem e a qual instituição recorrer. Por isto, igrejas estão repletas. Há muita gente à espera do milagre impossível ou do apreço manifesto frente à insidiosa morte do leão.

 

A falta de políticas sociais e a perversão institucionalizada levam-nos a crer na presteza de crenças e orações. Invocar por Sobral Pinto. Ou quiçá, apostar na restauração e soerguimento das antigas sociedades de proteção aos animais. Para que cuidem de nós, como se, de fato, não fossemos seres humanos.

 

* Wagner Braga Batista é professor aposentado da UFCG

 

As afirmações e conceitos emitidos em artigos assinados são de absoluta responsabilidade dos seus autores, não expressando necessariamente a opinião da instituição


Data: 04/08/2015