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Artigo - Sejamos indulgentes com nossos agostos

Wagner Braga Batista*

 

No repertório popular das tragédias, agosto transformou-se em má sina.

 

Paira como espada de Dâmocles sobre nossas cabeças. Acima dos podres poderes, que ameçam nosso presente. Na combinação de maus agouros, ensaiados pela imprensa marron, das fatalidades encomendadas pelo mercado financeiro e das chantagens programadas por  Eduardo Cunha, os de baixo se mantêm sub-judice. Ameaçados a pagar por falsas promessas e suas próprias superstições.

 

Para amenizar nossas apreensões, como é de costume, adotemos o receituário de sempre:

socializemos as desgraças. Lembremo-nos, com júbilo, que infortúnios não moram apenas no mês de agosto. Que desigualdades e a miséria humana, impostas por sistemas socioeconomicos iníquos, habitam todos os dias, meses e anos. Há seculos. Modernamente, também são inquilinas da precária democracia.

 

Porém, não depreciemos nossas crendices. Temos nossas compensações. No mês do desgoto,  o gorilinha Sauidi, o primeiro nascido em cativeiro na América Latina, completa um ano de vida. No Brasil, ainda aprisionamos animais, mas não escravizamos criança fora do perimetro de fazendas de familiares de Ronaldo Caiado. Podemos bater no peito e dizer: Somos um Estado atualizado, mas ainda  que ainda não vendemos meninas de 9 anos por US$ 195, como faz o Estado Islamico.

 

Somando todas nossas mazelas, antecipadamente, com orgulho afiançamos:

 

- Pagaremos as nossas contas, os dizimos das franquias e a exorbitante dívida pública no final do mês.

Vocacionados à esperança, subsistimos aos agostos. Ao suicídio de Vargas, em 1954, à renúncia de Jânio, em 1961, ensaio do golpe cívico-militar de 64, à trombose de Costa e Siva, em 1969, prenúncio do AI 5, e à morte de JK, em 1969, que não nos eximiu da impostura do pacto das elites e da transição conservadora, que se seguiu.

 

Neste agosto, o achador-mor, na presidência da Câmara, ameaça-nos com pautas bombas, intimida o judiciário e aciona a sanha de subdeputados, paus mandados, para o que der e vier. O playboy do Leblon, filhote da ditadura, da mesma extração de Collor, usa ironia para disfarçar sua desfaçatez. Com cinismo habitual, investe contra politicas monetaristas, que empregaria com mais rigor se estivéssemos em suas mãos. Na falta de perspectivas  equânimes e socializadoras, esta turma deseja apenas que o mar pegue fogo, pra comer peixe frito. Esta é a aposta das oligarquias, quando à margem do poder.

 

Apostam em céleres pilotos de juros altos, de lucros excorchantes de banqueiros, de verbas públicas para saúde e ensino privados, de cortes em serviços essenciais, de supressão de investimentos produtivos, de desoneração de capitais e de subtração de direitos inalienáveis. Apostam alto nesta corrida louca e desenfreada, que conduz o país em direção ao abismo. Claro, com condição pré-estabelecida. Apostam no precipício, com garantia de pagamento da divida pública.

 

 A corrupção endêmica continua à solta. No atacado e varejo, auxilia financista em suas cruzadas saneadoras e filantrópicas, a serviço da ONG de George Soros, agora com sucursal em São Paulo.

Por isto, convém solicitar habeas corpus preventivo. Para toda população brasileira. Senão  teremos que pagar cadeia pelo crime de peculato, que seus autores nos imputam.

 

Apesar de tudo, sobrevivemos a agostos, que não foram os piores agostos.

 

Vejam bem. Há  cinquenta anos o capital monopolista após incandescente conflito mundial, deflagrou a guerra fria. Procurou afirmar supremacia economica por meio de poderio bélico.  Para se impor, sobre tudo e sobre todos, não titubeou. Lançou mão da destruição em massa. De capacidade  devastadora, sem precedentes na História.  O marco desta escalada belicista está fundado num mês de agosto.

Em Hiroshima e Nakasaki, onde duas bombas atomicas devastaram estas cidades. Sem aviso prévio, aniquilaram, em fração de minuto, milhares de homens, de mulheres e crianças.

 

Os cogumelos do horror emergiram funebres da silenciosa corrida armamentista. Anunciaram a possibilidade da hecatombe nuclear. O genocídio, que se estende aos dias atuais.

 

Este sim, como prega o ditado popular, foi o agosto do desgosto, para toda humanidade. O catastrófico agosto.

 

Diante do avassalador belicismo e da escalada terrorista, que nos cerca, sejamos modestos com nossas mazelas. Condescendentes com nossos agostos.

 

* Wagner Braga Batista é professor aposentado da UFCG

As afirmações e conceitos emitidos em artigos assinados são de absoluta responsabilidade dos seus autores, não expressando necessariamente a opinião da instituição


Data: 06/08/2015