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Artigo - O pocket show dos horrores

Wagner Braga Batista*

 

Domingo passado, performático pocket show superou expectativas.

 

Na campanha anti-corrupção,  só faltaram João Havelange, Ricardo Teixeira e José Maria Marin.  Mas, honrando a camisa, lá estavam seus correligionários, vestidos de CBF. São torcedores do deduorismo, de estádios superfaturados, das máfias de resultados encomendados, do time dos cárteis do Metro de São Paulo, portando honrosas bandeiras do Montezuma Aeroporto Clube, onde a lisura pendurou as chuteiras.

 

Saudosos da grana alta, que desceu pelos ralos da CAPEMI, Coroa Brastel, Itaipu e de outras obras faraônicas, pediam a cabeça de Dilma e defendiam a Petrobras, só para si. Clamavam pelos bons tempos de desmandos e descontrole. Queriam a revitalização do caixa dois, que engordava salários de oficiais linha dura e aparelhos repressivos do regime cívico-militar. Deploravam o descaso e a falta de manutenção das masmorras oficiais, cárceres clandestinos e instrumentos de torturas.

 

Lamentavam a falta de decoro de alguns integrantes de orgãos de segurança pública, que não infligem direitos humanos. Caminhando com duas pernas e insolente falta de consciência, não havia um único remorso ou constrangimento sequer.  Escarneciam de sequestros e assassinatos de opositores nos áureos tempos.

 

Os que prendiam e batiam, hoje clamam por democracia. A truculência fez sua festa!

 

O pocket show do horror promoveu a volta dos que não se foram. Aqueles se mantinham enrustidos cobrando e obtendo favores iíicitos, fazendo intimidações às escuras, pilotando grana de financeiras, envernizando empresas de fachada, mantendo em segredo seus comparsas de crimes hediondos, abrigando-se em editorias de jornais e TVs insalubres. Na calada, urdiam o plano B de candidatos democraticamente derrotados.  São remanescentes do golpe de 64 em nova versão.

 

Mais exaltados, xenófobos e racistas, também punham as unhas de fora. Perguntavam, entre si, quem chamou crioulos para o pocket show ?  Quem convidou homoxessuais e vadias para comer rocambole? Quem permitiu que serviçais do sexo feminino e mal remunerados participassem da festa? Quem franqueou as ruas à gente miúda, sem lugar em clubes de serviços, confrarias do bem e irmandades da causa própria?

 

Com bolsas Louis Vuitton, acompanhadas de seus novos affair, escorts e personal trainers, socialites curtiam sua dose diária de futilidade. Entre uma e outra proclamação de ignorância, posavam para a posteridade. Tremulavam bandeirinhas nas mãos de suas empregadas, enquanto suas caras e bocas competiam com falta de juizo, equilibrando-se em altos saltos. Providentes, para não sair do roteiro, carregavam na nécessaire antiquado manual de passeatas, alguns conselhos da Globo News e receitas de Ana Maria Braga.

 

Como nas pornochanchadas, os bons tempos voltaram. Esta gente insatisfeita pode gozar outra vez.

 

Neste orgasmo macabro, Lopez Rega e a AAA- Aliança Anticomunista Argentina ganham adeptos.  A abominável organização clandestina, responsável pelo assassinato de milhares de democratas, causa excitação nos congeneres patriotas. Ainda não cometem crimes de sangue, mas já atiram bombas e invadem gabinetes ministeriais. Antecipadamente, celebram a desfaçatez, a ignorância e a intimidação, prenúncios do golpe. A tríiplice Cunha, sua similar nativa, coloca-se na linha de frente do pocket horror. Induz o retrocesso distribuindo viagra com quem viola a Constituição e a democracia.

 

Blindada pela imprensa sadia e resguardada por impolutos magistrados, a efervescente trinca exige liberdade de prevaricar e exclusividade na prática orgiástica. Quando não há alternativas consistentes, masturba-se com um coup di mani. A truculência disfarçada ensaia seu desencanto. Dança sinistro tango nas penumbras do decadente Congresso.

 

Anti-corruptos por devoção, não se ajoelham para rezar. Correm o risco de escorregar nas  cascas de banana da  SUDENE, nos processos judiciais engavetados, na contabilidade da chantagem política e  em papinhas de angu, que alimentam seus familiares com verbas públicas. Praticam a regra da conveniência. 

 

- Ética?  Somente na casa do vizinho.

 

Enquanto isto, deixam seus quintais escancarados para financiadores de campanha e comedores de milho. Ratazanas, preferencialmente.

 

Pregam a democracia blindada pela imprensa e sob rigoroso controle de ubermagistrados, que cobram caro pelas suas corridas.

 

Na encenação do embróglio, resta o vácuo do pocket show dos horrores. Mas, financistas de sempre e eternos cobradores, não ficam no prejuízo, impõem uma alternativa. Com ou sem governo de coalizão. Com ou sem corrupção, exigem um lugar reservado para tangencial saída.

 

No senado, Renan Calheiros, apresenta-se. Cidadão acima de qualquer suspeita, homem de confiança de PC Farias, lider de Collor, ministro da Justiça de FHC, sobrevivente de cassações e propinodutos, oferece-lhes a paz do mercado. Suas portas de entrada e  segredos das frestas de saída. As saídas dos que não têm saída.

 

* Wagner Braga Batista é professor aposentado da UFCG

 

As afirmações e conceitos emitidos em artigos assinados são de absoluta responsabilidade dos seus autores, não expressando necessariamente a opinião da instituição


Data: 18/08/2015