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Artigo - Nas coxias da democracia

Wagner Braga Batista*

 

Interessante análise da Folha de São revela que “mulheres, os menos escolarizados e principalmente os jovens estão sub-representados nos recentes atos” realizados na Paulicéia desvairada.  Ou seja, em manifestações paulistas, que pediam o impeachment de Dilma Rousseff ou exigiam respeito à democracia e aos direitos humanos, este era traço comum. (Manifestações carecem de representatividade social e demográfica URL: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/230508-manifestacoes-carecem-de-representatividade-social-e-demografica.shtml }

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Este quadro não se reproduz em visão panorâmica. A generalização torna-se inconsistente se observarmos as manifestações realizadas nas orlas maritimas e grandes metrópoles. Contrastam com mobilizações em rincões interioranos. Em todo país. Aí a estrutura de classe, que separa os entregues às baratas dos que se entregam aos baratos, se recompõe. Não há apenas rapazes bem apessoados, afilhadas do gran monde e empreendores em ONGs de financeiras.

 

Em Campina Grande, por exemplo, participantes da manifestação em prol de direitos e da democracia eram predominantemente mulheres, menos escolarizados e jovens, incluindo crianças acompanhadas de suas mães, provenientes de acampamentos de trabalhadores sem terra.

 

Pudemos registrar a participação de pobres, mulheres e negros, infimamente representados no Executivo, no Legislativo e no Judiciário.

 

Os tres poderes republicanos esmeram-se não apenas de alijá-los de suas esferas, mas também de negar, postergar, desregulamentar e inviabilizar seus inadiáveis e inalienáveis direitos. A gente miúda está destinadas às coxias do sistema educacional,  da saúde pública, ao sufoco dos transportes coletivos, à truculência de aparatos repressivos, às injustiças do judiciário e ao desprezo do parlamento.

 

Nestes tempos de desajustes fiscais, politicas monetaristas reservam aos setores mais vulneráveis da população, apenas, débitos e prejuízos, para que bancos possam faturar e  lucram os horrores de suas privações. Na contabilidade da pobreza é debitado o swap cambial.  Entre 2013 e 2015, para conter flutuações do dólar, na economia especulativa,  o governo gastou o equivalente a três anos de bolsa familia:  R$ 86 bilhões. É o justo preço pago pela  credibilidade da enganosa economia.

 

A representação popular no Brasil é pífia. Frente à cristalização de poderes. Ficamos à mercê dos que instituem seus privilégios e nos condema a falta de direitos elementares.  Enquanto anarco-coxinhas esbravejam como  coadjuvantes dos reincidivos patrocinadores de crimes hediondos da ditadura, o povo pobre é lançado nas coxias da democracia.

 

Os pobres, menos letrados, letrados, mulheres e jovens só estão bem representados em festins macabros. Nas chacinas de Osasco, em Salvador, no Rio de Janeiro e por todo Brasil. Participam ativamente de condições subhumanas de presidios. De motéis transformados em escolas de ensino fundamental em Minas Gerais. Da precariedade do Sistema Único de Saúde. Da insalubridade e dos acidentes do trabalho precário e terceirizado. Da remuneração que não gratifica e da imprevidência social

 

Ainda assim, esta incipiente e assimétrica participação social, ameaça privilégios dos predadores de direitos sociais . Os  heróis da liberdade, que se dedicam à caça de menores, à discriminação de homossexuais, à mutilação de trabalhadores e à violência contra mulheres. Que querem ceifar a democracia em nosso país.

 

* Wagner Braga Batista é professor aposentado da UFCG

 

As afirmações e conceitos emitidos em artigos assinados são de absoluta responsabilidade dos seus autores, não expressando necessariamente a opinião da instituição


Data: 24/08/2015