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Artigo - O sepultamento do sofá da sala

Wagner Braga Batista*

 

Consoantes com os costumes, disputamos na Praça da Apoteose lugar no carnaval do retrocesso.

 

Pesquisas de opinião, marketing, midias trainning, caras e bocas embebederam nosso juízo.  Mas não renunciamos às nossas mitologias.

 

O marron da imprensa espetaculosa dá o tom dos noticiários. Mas, nas nossas escolas de samba saudamos oligarquias,  que nos oferecem graciosamente  suas traquinas.

 

Depois de lucrar R$ 124 bilhões de reais rifando nosso patrimônio, os bandeirantes do século XXI compartilham nossa carne com o agronegócio. Devastaram a Mata Atlantica, tomaram conta do cerrado, ocuparam ilhas no Maranhão e Shangri-las na Rede Globo. Semeiam políticos transgênicos no parlamento e corrupção em selvas de pedra. Implodem nossos direitos para construir barragens para seus privilégios. Refinarias, usinas e estádios, em suas mãos, tudo se transforma. Como Midas modernos convertem plataformas sociais em minas de ouro, em contas na Suiça, em Lamborghinis e aeroportos privados.  Mantêm nossas escolas de samba no mercado.

 

Privatizaram nosso quintal e agora carregam nosso cachorro.

 

O que dizer?

 

Carregaram tudo. Surrupiaram nossas conquistas sociais e nossa História.  Nos governos trocam tiros pelo bom bocado. Grilharam o paraiso para o pastor Maracutaia vender lotes no céu. Bandidinhos menores batem carteiras na Câmara e maiores no Senado. No Judiciário, a bandidagem não entra.  Meia dúzia de magistrados tem foro privado.  Em Minas, guardam aeroportos em gavetas. Na Paraíba, Sudenes sobre telhados

 

As oligarquias se divertem.

 

Chamam irmandades e confrarias para a festa à fantasia dos partidos disfarçados. Umas chegam de arquelim, outras de magistrados. Todas cantam a mesma marchinha. Alegres, lançam serpentinas, jogam confetes,  cheiram lança perfume e se dizem desencantadas.

 

Ao final da festa, não há desvios de conduta  em Montezuma, nem senador três vêzes cassado.  Há apenas foliões embriagados com o zelo pela democracia.

 

Como cornos, conscienciosos e reverentes, tal qual o personagem da piada que flagra a esposa transando no sofá e atira o sofá pela janela, esperamos que a vida volte ao normal, na anormalidade desta democracia.

 

* Wagner Braga Batista é professor aposentado da UFCG

 

As afirmações e conceitos emitidos em artigos assinados são de absoluta responsabilidade dos seus autores, não expressando necessariamente a opinião da instituição


Data: 26/08/2015