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Artigo - Grande Sertão: Veredas

Benedito Antonio Luciano*

 

Escrito por João Guimarães Rosa, um dos maiores escritores brasileiros do século passado, o romance Grande Sertão: Veredas, publicado em 1956, se tornou um clássico da literatura nacional, uma obra bastante estudada dentro e fora do Brasil.

 

De tanto ler crônicas e ouvir referências a essa obra literária, antes de comprar o livro, por pura curiosidade, comprei um DVD e assisti à adaptação do livro para o cinema. O filme, intitulado Grande Sertão: Veredas, sob a direção dos irmãos Geraldo e Renato dos Santos Pereira, foi produzido em 1965. No elenco, destacam-se Maurício do Valle, Jofre Soares, Glória Duarte e Milton Gonçalves. Em 1985, Grande Sertão: Veredas foi adaptado para TV, no formato de minissérie, dirigida por Walter Avancini, com Tony Ramos no papel de Riobaldo e Bruna Lombardi no papel de Diadorim.

 

Depois de assistir ao filme, comprei o livro (Publicado pela Editora Nova Fronteira, em 2006) e enfrentei as 608 páginas de uma obra literária cheia de termos que, embora saibamos escritos em português, é como se fora escrita em outro idioma. Leitura difícil. Texto que avança e retrocede, sem aviso prévio, no qual os eventos são rememorados num quase-monólogo, intercortados por interrupções e idéias inconclusas. Toda narrativa é fortemente baseada na oralidade: um relato é feito pelo ex-jagunço Riobaldo a um interlocutor oculto, a quem ele chama “Senhor” ou “Moço”. Em algumas passagens é prosa como se fora poesia. As palavras e frases são marcadas por sons e ritmos, o que pode ser percebido se a leitura for feita em voz alta.

 

No livro, assim como no filme, a narrativa se desenrola num ambiente inóspito, entre os sertões de Minas Gerais, sul da Bahia e Goiás, tendo como pano de fundo o conflito amoroso de intensa profundidade psicológica vivenciada entre os personagens Riobaldo e Reinaldo, em meio a uma história de aventuras, crenças, mistério, amor, traições, ódios, conflitos, amizades, encontros e desencontros.

 

Recentemente, voltei a assistir ao filme. Dessa vez, percebi uma grande falha na adaptação cinematográfica. Nela, diferentemente do que ocorre no romance, o grande segredo da trama, a verdadeira identidade da personagem Reinaldo é revelada, de forma casual, sem a carga dramática do livro. No romance esse segredo só é descoberto no clímax da trama, na hora de lavar o corpo do jagunço Reinaldo, morto após matar Hermógenes, assassino do chefe Joca Ramiro. O grande segredo era esse: o jagunço Reinaldo era, na verdade, Diadorim, filha de Joca Ramiro. 

 

Terminada a leitura do livro, fiquei pensando: como deve ter sido difícil o trabalho de tradução interlingual (italiano, francês, espanhol, inglês e alemão) a que ele foi submetido. O que será que os leitores desses países de língua e cultura tão diferentes conseguiram apreender do Grande Sertão: Veredas? “Nonada. O sertão é o Mundo”. Assim, concluí a TRAVESSIA.

 

*O autor é professor do Departamento de Engenharia Elétrica da UFCG

 

 As afirmações e conceitos emitidos em artigos assinados são de absoluta responsabilidade dos seus autores, não expressando necessariamente a opinião da instituição


Data: 26/08/2015