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Artigo - Adrian Frutiger ( 1928- 2015) : Designer criador das letras Univers (in memorian)

Wagner Braga Batista*

 

A classificação das famílias de tipos alfanuméricos realiza-se basicamente pelo uso da serifa. Este dispositivo utilizado na terminação de componentes de letras e algarismos diferencia o formato dos alfabetos. Está relacionado a primitivo acabamento de registros alfanuméricos. Sua origem remonta a primevos alfabetos, desenvolvidos por povos navegadores, possivelmente fenícios, que empreendiam atividades comerciais e faziam precários registros e operações contábeis. A serifa, segundo se presume, seria acabamento tosco de letras e algarismos, executados em tábuas de escribas primitivos, sobre barcos, em meio a oscilações das ondas.

 

Com base nas serifas, as famílias de letras classificavam-se do seguinte modo: Romanas com serifa retangular, Didot com serifa linear e Elzevir com serifa de base triangular.

 

Outros elementos distintivos também são utilizados para classificar e nomear conjuntos de  letras, a exemplo da altura, da base, da espessura, uniforme ou não, das linhas que as compõem, do plano de fundo, da textura, entre outros aspectos.

 

Pode-se dizer que a revolução no formato dos registros alfanuméricos é recente, considerando-se a longevidade de técnicas de impressão rudimentares e o surgimento de tipos móveis no século XV. O rebuscamento no desenho das letras será deixado de lado ao longo do século XIX, período durante o qual  a crescente simplificação, exigida pela indústria nascente, favorecerá a elaboração de famílias tipográficas mais sóbrias. As primeiras letras grotescas, bastão  ou sem serifa, salvo engano, surgem em 1803. Atendem à necessidade de padronização ditada pela indústria mecânica, mas não só. Procuram facultar o acesso da população que aflui às cidades a bens materiais e intangíveis, aos produtos industrializados e à cultura urbana. Neste período a literatura, os cordéis, os pasquins, os panfletos e as gravuras se popularizam, graças à urbanização, à intensificação do comércio, a difusão das informações, ao incipiente processo de alfabetização e à disseminação das técnicas de impressão.

 

O acesso à cultura, com todas suas disjunções e controvérsias, tornava-se tangível. Hoje é  reclamado como direito inalienável. Indissociável do exercício da cidadania.

 

Aprimoraram-se dispositivos voltados à produção de bens culturais pari passu ao processo de socialização desencadeado pela educação formal.

 

Na segunda metade do século XX, a  sobriedade, a facilidade de identificação e a rapidez de leitura, reclamadas pelos meios de comunicação de massa, privilegiaram o emprego intensivo das famílias de letras sem serifa. Dentre elas, duas famílias se destacaram pelo despojamento de seus tipos gráficos.

A Helvetica, projetada por Max Miedinger e Eduard Hoffman, e a Univers, ambas desenvolvidas no mesmo ano, 1957. Estes conjuntos alfanuméricos diferenciam-se originalmente pela metodologia de construção dos tipos. Porquanto o primeiro primou pela pela busca de lugares geométricos, que permitissem a harmonia do traçado e da junção dos elementos constitutivos dos tipos gráficos, O segundo foi gerado pelos contrates. Pelo debastamento de áreas de sombra, que facultasse a identificação dos tipos e a fácil legibilidade proporcionada pela predominância de áreas claras sobre as escuras.

 

A emergência destes padrões de tipos não é casual. Têm intima relação com o desenvolvimento de escolas, de teorias, princípios, de métodos e técnicas de projeto, revistas especializadas em artes gráficas em alguns países europeus, entre eles, a Alemanha, a Suíça, Inglaterra, Polônia, Bulgária, entre outros. Não causa surpresa, que os dois projetos, que se tornaram proeminentes neste campo, tenham sido desenvolvidos neste contexto, no mesmo ano.

 

Dia 12 do corrente profissionais e estudantes de artes e design gráfico tiveram grande perda. Faleceu em Berna, na Suíça, Adrian Frutiger, desenhista gráfico, que projetou vários conjuntos alfanuméricos, entre os quais, o Avenir, o Versailles,  o Vectora, o Frutiger e o Univers.

 

Frutiger iniciou seu aprendizado em pequenas gráficas, em mesas de monotipos, como componedor. Acompanhou a  evolução dos processos de impressão, de modelagem e de transposição das famílias de letras de ambientes analógicos para digitais ao longo do século XX. Grande parte de seus projetos contemplavam a adequação destes signos às mudanças tecnológicas na produção gráfica.

Frutiger, ao seu modo, contribuiu para facilitar e socializar a leitura de tipos.

 

Seu legado é de grande valia para amplo espectro de profissionais, que se beneficiam de suas contribuições no campo gráfico, na comunicação visual e mais especificamente no meticuloso projeto de tornar mais fácil a leitura de letras e algarismos.

 

Nossa homenagem póstuma ao exímio artesão de tipos alfanuméricos.

 

* Wagner Braga Batista é professor aposentado da UFCG

 

As afirmações e conceitos emitidos em artigos assinados são de absoluta responsabilidade dos seus autores, não expressando necessariamente a opinião da instituição


Data: 14/09/2015