Eugênio Felipe - 19/09/2015 - 00:12h*

Quem sou este
homem que chora?

Serei este homem
de cinquenta anos
que chora a morte
da sua mãe?

Ou serei um homem de
quarenta anos que se diz
começando a vida e assim
chora por renascer?

Ou será que sou um
homem de trinta anos que
tudo sabe e chora porque
não mais precisa da mãe?

Ou serei um homem de
vinte anos que tem certeza
que é hora de se desgarrar
da mãe e por isto chora?

Serei eu um adolescente
de quinze anos que está
apaixonado e chora a dor
do segundo édipo?

Serei eu um pré-púbere
de dez anos que já chora
pela morte da mãe da
tão breve infância?

Será que sou um menino de
cinco anos que chora as
dores de ter que ter uma
professora para o ABC?

Ou serei eu um bebê que
chora porque já sei da
lição principal: quem não
chora não mama?

Serei eu um neonato
que chora pela primeira vez
porque foi expulso do
paradisíaco ventre da mãe?

Um de cada vez e agora
juntos formam o choro
deste homem que chora a
dor de ver sua mãe morrer...

Este homem de cinquenta
anos chora a dor má drástica
da irreversibilidade da visão
da sua mãe morta...

Este homem de cinquenta
anos chora quando lembra
que de fato a vida passa e
que de fato a vida passou...

A vida passou e a morte não
lhe lembra que já levou
sua mãe e lembrar disto
assusta e faz chorar...

Este homem tenta esquecer
que sua mãe morreu mas
viver é morrer e o choro
vem com esta lembrança...

Um homem de cinquenta
anos chora sua mãe que
partiu com o mesmo choro
do dia em que ela lhe pariu.

Um homem de cinquenta
anos chora sua mãe morta
porque a morte da mãe é
a subversão do seu parto...

Parte, minha mãe...
Da minha parte partiste
livre pois esta vida só te
restava enquanto chiste...

Ficarei aqui contigo em
meu coração ferido partido
de menino rapaz homem
que chora choro incontido.

* Eugênio Felipe é Psicólogo da UFCG