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Artigo - Ciclos

Benedito Antonio Luciano*

 

Entre o nascimento e a morte presenciamos os ciclos da vida e os ciclos dos fenômenos da natureza. Ao longo de nossas vidas oscilamos entre momentos de grande euforia e momentos tristes. É como se vivêssemos submetidos aos ciclos de oscilações pendulares. Tem momentos que estamos pra cima, tem momentos que estamos pra baixo.

 

Podemos, também, ver a vida sob o ponto de vista de energia e estabilidade. Senão vejamos: quando bebê, ao engatinharmos, fazemos isso buscando nos movimentar, mantendo o equilíbrio de forma precária. Ao dar os primeiros passos, o equilíbrio se torna instável, pois o nosso centro de gravidade fica deslocado mais pra cima.

 

Um dia, aprendemos a caminhar apoiados nas duas pernas e seguimos a vida caminhando e se movimentando mantendo o equilíbrio dinâmico instável comandado pelo nosso sistema de controle cerebral, suportado por músculos, tendões e articulações.

 

Com o passar do tempo e o avançar da idade, inevitavelmente os músculos enfraquecem, o sistema de controle cerebral começa a falhar e surgem as dores nas articulações. Nessa etapa da vida a pessoa idosa perde estatura e a coluna começa a curvar-se, o andar se torna lento e o equilíbrio volta a ser tão precário quanto no início da vida.

 

Se a pessoa viver além da expectativa, um dia vai precisar de um terceiro apoio (uma bengala, por exemplo). O que é isto? É a natureza se encarregando de baixar o centro de gravidade rumo ao estado inicial de estabilidade, como para lembrar o vaticínio bíblico: "porque és pó, e em pó te hás de tornar". Quer dizer, na morte, cessa a instabilidade. O equilíbrio precário cessa. Cessa o processo de conversão de energia que nos mantém vivos e, no fim, a estabilidade no ponto de energia mínima e a entropia máxima são alcançados.

 

Outra forma de observar o movimento pendular que rege os ciclos de nossas vidas e os ciclos dos fenômenos da natureza me foi lembrado pelo colega Pablo Javier Alsina. Segundo ele, uma analogia pode ser feita tomando como base o princípio filosófico oriental do Yin-Yang, no qual todos os processos naturais são explicados como movimentos cíclicos de troca entre opostos: forte/fraco, interior/exterior, frio/quente, feminino/masculino, úmido/seco, chegada/partida, e assim por diante.

 

Neste contexto, tudo na vida pode ser explicado como uma alternância entre opostos: ciclo de estações, ciclo de marés, dia/noite, juventude/velhice, dormir/acordar, abundância/carência, saúde/doença e nascimento/morte.

 

Conceito semelhante pode ser aplicado ao arquétipo simbolizado pelo arcano do tarô "A Roda da Fortuna", cujo sentido metafórico pode ser interpretado como essas reviravoltas que a vida dá.

Assim, quem hoje está no alto deve sempre lembrar que amanhã poderá está em baixo e que a roda da vida continua girando, independente da vontade dos que se sentem poderosos e dos que se sentem oprimidos.

 

* O autor é professor do Departamento de Engenharia Elétrica da UFCG.

 

As afirmações e conceitos emitidos em artigos assinados são de absoluta responsabilidade dos seus autores, não expressando necessariamente a opinião da instituição


Data: 16/12/2015