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Artigo - FÁBIO FREITAS: O TEMPO DA MEMÓRIA E DAS LUTAS PRÓ DIREITOS HUMANOS

 *Maurino Medeiros

       

 “O meu coração não é maior do que o mundo.

 Nele Não cabe nem o meu sofrimento”

(Carlos Drumond de Andrade em “Mundo Grande”)

 

A Universidade Federal de Campina Grande e a Militância estadual dos Direitos Humanos ficou desfalcado na noite de ontem(13/03) de um dos mais importante intelectual, professor e homem do diálogo e de troca de argumentos. Faleceu no hospital da FAP na cidade de Campina Grande o Mestre dos Direitos Humanos, FÁBIO FERNANDO BARBOSA DE FREITAS.

 

Ardoroso admirador do pensador italiano Norberto Bobbio, Fàbio Freitas se identificava com o mesmo e acreditava ter sido um homem do diálogo mais do que da polêmica e que tal capacidade estava na base de qualquer pacífica convivência democrática.   

 

Nasceu em Campina Grande em 03 de setembro de 1960, segundo dos três filhos do senhor Olavo Albino de Freitas e de Teresinha Barbosa Pessoa. Teve uma infância absolutamente normal como as crianças de sua idade, uma convivência muito próxima com o convento dos  franciscanos no bairro da Conceição, o que lhe rendeu um fascínio e mais tarde um interesse mais consciente pela reflexão filosófica dos franciscanos.

 

Mais tarde, já no colégio e depois na Universidade se apaixonou pelas Ciências Humanas, em particular pela História e por outras áreas como Sociologia e Filosofia Política, pela literatura nacional, universal,  geografia e pelo cinema. Em 1975 teve os seus primeiros contatos com o movimento cineclubista convivendo com uma geração de intelectuais e críticos brilhantes como Braúlio Tavares, os irmãos Romulo e Romero Azavedo, Mario Araújo Filho e Felix Araújo Sobrinho, os irmãos marcos e Jacson Agra.

 

O aprofundamento com as obras cinematográficas na sua vida  recebe um impulso fundamental com a criação do Cineclube Humberto Mauro, que funcionou até o final nas dependências do antigo Museu de Artes da Furne no parque do açude novo. Certamente o mundo da Cultura( cinema, literatura e música) foi a porta de entrada deste grande amigo para o “mundo da política”, do namoro com o PCB e uma convivência com intelectuais importantes como Leandro Konder, Carlos Nelson Coutinho, Marco Aurèlio Nogueira, Armênio Guedes, Raimundo Santos, Luis Werneck Viana e tantos outros que influenciaram o pensamento de matriz Gramisciano no Brasil.

 

Em relação a sua militância no universo da luta pela promoção, defesa e respeito aos Direitos Humanos, o marco inicial foi seu ingresso na Anistia Internacional, através do Grupo de trabalho chamado Rede de Ação Urgente. Outra frente de trabalho ao qual se dedicou com brilhantismo foram os Projetos Pedagógicos de Educação para a Paz e os Direitos Humanos no grupo de educadores da Anistia Internacional.

 

Nessa linha participou ativamente do processo de discussão e construção do Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos, de um intenso trabalho de capacitação de educadores em vários estados do país no sentido da discussão e compreensão teórica e prática deste Plano.

 

A partir de 1990, iniciamos um convívio acadêmico e militante com um grupo de pessoas que resultou na criação da Comissão de Direitos Humanos da UFPB e mais tarde na efetivação do Núcleo de Cidadania e Direitos Humanos, atuando regularmente como professor e orientador. Contribuiu também na instalação da Comissão dos Direitos Humanos da UFCG em 2003.

 

Teve a sua dissertação de Mestrado como a primeira aprovada com Louvor e distinção na área de concentração em Direitos Humanos do Centro de Ciências Jurídicas da UFPB e de forma também pioneira criou um componente curricular sobre Democracia e Direitos Humanos que até a semana passada atuávamos em parceria como docentes para alunos do curso de graduação em Ciências Sociais.

 

Escreveu e publicou em jornais, portais, revistas cientificas e  livros vários trabalhos versando sobre violência, cidadania democrática, educação, direitos humanos e temas correlatos.

 

Nos últimos dias, apesar das limitações da visão e da perda da função renal teimava em não abandonar as atividades acadêmicas e da militância em Direitos Humanos e heroicamente participava do árduo trabalho da Comissão Estadual da Verdade e da Preservação da Memória, na qual era responsável pela apuração dos crimes de tortura cometidos no Estado e contra paraibanos no período do regime civil militar.

 

Hoje, lamentavelmente este grande intelectual militante e inestimável amigo nos deixa, pois seu coração, mesmo coração valente, não foi maior do que o mundo e seus sofrimentos o fizeram explodir

 

*O autor é professor e ex-ouvidor da UFCG

 


Data: 14/03/2016